Muitos países, para não dizer todos, procuram
prestígio internacional. Nas suas políticas externas não há nada como criar uma
boa imagem. Lembro-me da importância, mais ou menos evidente, dada à conquista
de medalhas nos Jogos Olímpicos ou de uma chegada à Lua.
Um país, obviamente, só será bem visto por
isto ou por aquilo enquanto a opinião pública, as várias organizações internacionais
ou outros actores concordarem com isso. Mas nada disto é imutável. É como os “opinion
makers” ou as teorias que, embora também procurem explicar e prever,
transformam a própria sociedade pela maneira que nos fazem ver e pelo caminho
que indicam. Para os romanos era prestigiante ver, enquanto espetáculo
aplaudido, homens matarem-se uns aos outros numa arena.
Uma das ideias que mais nos vendem, do
Governo aos seus alinhados, é a da credibilidade externa, que trará financiamento, que levará ao crescimento económico. Bem, eu gostava de viver
numa sociedade que procurasse alternativas ao crescimento económico – um dia
isso vai ter que acontecer. Mas estamos longe, ainda andamos a perder tempo com
esta austeridade estúpida e as prioridades para já têm que ser outras. O que
ponho em causa é o que defendem como necessário para reforçar a credibilidade
externa (e pelos próprios que nos avaliam!).
Que raio de gente é esta que é indiferente à
situação social de Portugal, que aceita a Grécia chegar ao absoluto desespero e
quando o que já está em causa é lutar pelas mais básicas necessidades de sobrevivência?
É que nem Governo, nem União Europeia, nem troika, nem investidores
estrangeiros nem outros que tais demonstram preocupações deste género, não
querem mudar de rumo. Estes sinais, mais não seja por isto, são também reveladores
do nível de pobreza que estamos a atingir e cujo diagnóstico não é preciso fazer.
Por isso podemos rotulá-los a todos com a idiotice do “vamos cumprir, custe o
que custar” ou do “ai aguentamos, aguentamos”. A credibilidade interna deve
estar na outra ponta do gráfico.
Na tragédia em que estamos a mergulhar o que
os pode levar a acreditar mais em Portugal? Eu não sei. O que me espanta é
também isto, todos estes actores com quem nos relacionamos, que são capazes de
nos dizer que estamos no bom caminho, apesar de alguns constrangimentos. Falam
em muitas reformas, mas para considerar um país credível podia ser fundamental
ter em conta outros factores que, do nosso bem-estar à economia, são muitos,
neste momento, preocupantes. Dizem-nos, no entanto, que estamos mesmo a
recuperar credibilidade. Não dá para levar a sério. Que mundo é este?
Rodrigo Subtil (Membro da Coordenação Nacional +D)
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