sábado, 23 de fevereiro de 2013

[Opinião +D] Pela credibilidade externa

Muitos países, para não dizer todos, procuram prestígio internacional. Nas suas políticas externas não há nada como criar uma boa imagem. Lembro-me da importância, mais ou menos evidente, dada à conquista de medalhas nos Jogos Olímpicos ou de uma chegada à Lua.

Um país, obviamente, só será bem visto por isto ou por aquilo enquanto a opinião pública, as várias organizações internacionais ou outros actores concordarem com isso. Mas nada disto é imutável. É como os “opinion makers” ou as teorias que, embora também procurem explicar e prever, transformam a própria sociedade pela maneira que nos fazem ver e pelo caminho que indicam. Para os romanos era prestigiante ver, enquanto espetáculo aplaudido, homens matarem-se uns aos outros numa arena.  

Uma das ideias que mais nos vendem, do Governo aos seus alinhados, é a da credibilidade externa, que trará financiamento, que levará ao crescimento económico. Bem, eu gostava de viver numa sociedade que procurasse alternativas ao crescimento económico – um dia isso vai ter que acontecer. Mas estamos longe, ainda andamos a perder tempo com esta austeridade estúpida e as prioridades para já têm que ser outras. O que ponho em causa é o que defendem como necessário para reforçar a credibilidade externa (e pelos próprios que nos avaliam!).

Que raio de gente é esta que é indiferente à situação social de Portugal, que aceita a Grécia chegar ao absoluto desespero e quando o que já está em causa é lutar pelas mais básicas necessidades de sobrevivência? É que nem Governo, nem União Europeia, nem troika, nem investidores estrangeiros nem outros que tais demonstram preocupações deste género, não querem mudar de rumo. Estes sinais, mais não seja por isto, são também reveladores do nível de pobreza que estamos a atingir e cujo diagnóstico não é preciso fazer. Por isso podemos rotulá-los a todos com a idiotice do “vamos cumprir, custe o que custar” ou do “ai aguentamos, aguentamos”. A credibilidade interna deve estar na outra ponta do gráfico.  
Na tragédia em que estamos a mergulhar o que os pode levar a acreditar mais em Portugal? Eu não sei. O que me espanta é também isto, todos estes actores com quem nos relacionamos, que são capazes de nos dizer que estamos no bom caminho, apesar de alguns constrangimentos. Falam em muitas reformas, mas para considerar um país credível podia ser fundamental ter em conta outros factores que, do nosso bem-estar à economia, são muitos, neste momento, preocupantes. Dizem-nos, no entanto, que estamos mesmo a recuperar credibilidade. Não dá para levar a sério. Que mundo é este?








Rodrigo Subtil (Membro da Coordenação Nacional +D)

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