quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

[Opinião +D] Grândola

É claro como a água que as pessoas andam preocupadas, enervadas e irritadas. Com os cortes salariais, com um quinto da população sem emprego, sem perspectivas de crescimento económico, com o país falido e economicamente moribundo, outra coisa não seria de esperar. Só admira a passividade com que os portugueses têm suportado tantas amarguras. Excepto a grande manifestação de 15 de Setembro, vimos poucos episódios de contestação maciça. É verdade que, mais recentemente, houve aquela noite em que incendiaram uns caixotes de lixo em frente à Assembleia da República. Mas a proporção entre o empobrecimento e a violência anárquica é nenhuma. Há quem infira que somos um “povo bom”, outros dirão dóceis por natureza. Nos últimos dias, uns miúdos e uns indignados vaiaram uns políticos em locais públicos. Nada de novo, excepto a banda sonora entoada. Faz parte do jogo democrático – o poder das instituições defende-se com guarda-costas e carros de vidros escuros, o poder das multidões conquista-se com gestos atrevidos a raiar a desobediência civil. Mas chamar a estes contestatários ameaças à liberdade de expressão ou ao regime democrático é transformar as vítimas em algozes. Estes pequenos grupos não querem silenciar a liberdade de expressão do senhor primeiro-ministro ou dos seus ministros. O que, na verdade, esta gente quer são coisas simples: um emprego, uma pensão de reforma, um rendimento que lhes pague uma subsistência mínima. Toda a contestação que saí à rua, num país sem tradição de exigência cívica, é movida pelas necessidades mais básicas da vida humana. Confundir isto com fascismo ou maquinação política é apenas atirar-nos areia para os olhos.





José  Diogo Madeira (Membro da Coordenação Nacional +D)

Sem comentários:

Enviar um comentário