Uma das questões que preocupa o + Democracia é a questão do Euro e da Europa, conforme a sua magna carta em 7 pontos.
Por
isso, hoje, resolvi fazer uma abordagem deste tema para os leitores e
simpatizantes deste movimento perceberem o que se está a passar
connosco.
O exemplo mais flagrante é o que aconteceu, ou está a acontecer, em Chipre.
Pode sintetizar se num slogan célebre da UDP muito glosado em tempos passados: "os ricos que paguem a crise!"
Porém, desta vez, não foi o comité central desta organização quem pôs em prática, a frase revolucionária.
Desta
feita foi o comité central dos banqueiros europeus, vulgo Eurogrupo
onde estão as novas "vacas sagradas" destes tempos globais.Foram eles
quem tomou essa decisão, tendo como pretexto a necessidade de intervir
na crise cipriota, por causa da má gestão dos seus queridos bancos.
Com
uma diferença: é que enquanto a UDP pensava nos mais desfavorecidos, o
famigerado clube dos ministros das finanças da comunidade europeia,
pensava só em como salvar os muito muito ricos, ou seja, os donos dos
bancos. Assim, decidiu que todos os depósitos bancários, acima dos 100
mil euros, deviam pagar um imposto de solidariedade de
cerca de 30%.
Para
legitimizar todas estas intervenções os banqueiros, travestidos de
ministros, ao longo do tempo, foram criando regras e dogmas que entram
invariavelmente em prática sempre que provocam uma crise, com os seus
desmandos, para depois culparem os países, ou os seus povos de serem os
culpados, e portanto deverem ser eles a pagar os tais erros. É a
socialização dos seus prejuízos individuais.
Demorou algum tempo a perceber
-se
isto claramente, mas agora está muito nítido, porque está a ser
invariavelmente repetido em diferentes países, e os Povos também começam
já a reagir.
A primeira regra criada, foi a
independência total dos bancos centrais relativamente ao poder político,
e em especial o BCE. A regra foi imposta com o Presidente Reagan dos
EUA, para favorecer Wall Street, e com a Senhora Tatcher, em Inglaterra,
para ajudar a City, em 1980, o que demonstra desde logo a força destas
duas instituições para vergar o poder político.A partir desse momento
deixou de ser função dos bancos centrais resolver os problemas
financeiros dos Estados, em nome do seu" independentismo". Ficou tudo à
deriva.
A segunda regra, arvorada em dogma neo liberal, é a contenção da inflação.
Por isso não se deve injectar dinheiro na economia, pois pode provocá-la,o que aflige muito os banqueiros porque vêem
assim as suas fortunas poderem ser desgastadas com as altas de
inflação, ou seja, perdem dinheiro,coisa de que nem querem ouvir falar.
Portanto,
não deve haver inflação. Na Europa, é o que tem acontecido como
sabemos,mas a regra tem sido furada. Agora, os EUA já não lhe obedecem, e
o senhor Dragui, presidente dos espertos e do BCE, começou a rompê-la
,quando em Dez de 2011 injectou um bilião de euros na economia, sem que
com isso tenha provocado inflação, que prova o erróneo da teoria.
Entretanto,
a partir desta duas regras "de ouro" que se impuseram, tudo ficou
condicionado à vontade dos banqueiros, os investimentos que guardam nos
seus bancos, e o trabalho que depende dele. Com a economia a decrescer, o
desemprego aumenta.
É a isso que estamos a assistir nos
países do Sul, como Portugal, Espanha, Itália, Grécia e agora vai
acontecer a Chipre. É de esperar, um desinvestimento total na sua
economia,com o crescimento da praga dos despedimentos,os encerramentos e
falências de empresas, os salários em atraso,
etc,etc como temos visto cá.
Entretanto,
com o exemplo de Chipre, é de pensar que muito investimento
internacional fuja da ilha, e depois da Europa do Sul e não só. É que
uma regra básica da UE, a da inviolabilidade dos depósitos bancários
rompeu-se, e agora todos temem que apesar dos desmentidos, depois das
palavras do presidente do Eurogrupo,
aliás
um social democrata holandês colocado pela Alemanha depois de ter sido
alto funcionário do Golden Sachs,o que é esclarecedor, a exceção se
torne regra,e ninguém sente ter já as suas poupanças a salvo.
Enfim, com isto podemos estar a assistir,
mais do que ao declínio do euro,
mas ao seu fim como moeda única.
Foi
moldado ao sabor e gosto da Alemanha, diga-se o marco alemão, e
portanto, a Alemanha foi sempre a grande beneficiaria de toda esta
operação ao longo destes 20 anos.
Operação para a qual os países do Sul entraram de forma incauta, e por isso agora, também estão a pagá-la com as crises em que estão mergulhados, pondo em perigo um grande sonho, o da Comunidade Europeia.
E nós, o que devemos fazer agora?
António Serzedelo (membro da Coordenação Nacional do +D)