terça-feira, 26 de março de 2013

[Opinião +D] O efeito Nobre

Quando em 2011 Fernando Nobre reuniu mais de 14% dos votos nas eleições presidenciais, abriu uma porta para a participação cívica e política de muitos portugueses que até então não tinham sentido o
apelo para uma vida mais ativa. A partidocracia do poder (PS-PSD-PP) e a partidocracia do protesto (PCP-BE) sentiram então uma ameaça ao seu monopólio e tremeram: aliadas em tantas "causas" (como o financiamento aos partidos e na uma interpretação da lei da limitação dos mandatos) estas duas partidocracias sentiram Medo de que os cidadãos pudessem sair do sofá e tomar as rédeas dos seus próprios destinos.

Infelizmente, e depois de ter aberto essa porta da cidadania ativa, o mesmo candidato presidencial que a abriu seria aquele que a fecharia meses depois: Namorado pelo PS, comprado pelo PSD, cedeu a uma soberba inflamada pelos 14% e - como Alegre antes dele - pensou que os votos eram seus e foi a correr a apoiar o PSD, o mesmo partido que hoje destrói Portugal a mando dos herrenvolk do norte da europa. Em troca, prometiam-lhe fausto e destaque. Humilhado no Parlamento e por uma desaprovação esmagadora por parte dos seus apoiantes, Nobre retirar-se-ia da vida política ativa, evaporando assim um capital de credibilidade e influência que hoje podia ser seu e arrastando com esta retirada para fora da cidadania ativa muitos daqueles que tendo despertado para a política a tornaram a abandonar. Hoje, podíamos ter todas essas cidadãos reformando ativamente e a partir de dentro estes partidos políticos cristalizados numa lógica autofágica de Poder ou Protesto. Ao invés, temos toda esses cidadãos mais desmotivados que nunca para exercer aquela cidadania ativa de que o país tanto precisa.

E contudo houve uma importante vantagem neste desvario provocado por uma aguda inflamação do Ego: o complexo messiânico ou sebastianista sempre pronto a vir à superfície nos portugueses e que nos coloca à beira de uma ditadura populista nos picos de todas as crises nacionais foi anulado por uns tempos depois deste episódio: tão cedo não haverá condições para que reapareça nenhuma Personalidade com condições para se afirmar como um "salvador providencial". Os cidadãos, sem esse doce mas perigoso amparo, ficam obrigados a erguerem-se eles próprios, a mudaram as condições políticas da atualidade com as suas próprias mãos e a serem realmente donos dos seus destinos. Livres de partidos e de todas as suas teias de cumplicidades e tráficos, livres de salvadores providenciais, os cidadãos ficam confrontados consigo mesmos: Ficam responsáveis diretos pelos seus destinos. Assim, saibam (e queiram) tomar a sua vida nas suas próprias mãos e encetarem aquela Revolução pela Democracia Direta e Participativa que serve de mote ao www.MaisDemocracia.org e às candidaturas autárquicas que estamos a organizar em várias autarquias do nosso país.





Rui Martins (membro da Coordenação Nacional do +D)


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