quinta-feira, 28 de março de 2013

[Opinião +D] Chipre e nós, e nós e a Europa


Uma das questões que preocupa  o + Democracia é a questão do Euro e da Europa, conforme a sua magna carta em 7 pontos. 

Por isso, hoje, resolvi fazer uma abordagem deste tema para os leitores e simpatizantes deste movimento perceberem o que se está a passar connosco.
O exemplo mais flagrante é o que aconteceu, ou está a acontecer, em Chipre.
Pode sintetizar se num slogan célebre da UDP muito glosado em tempos passados: "os ricos que paguem a crise!"
Porém, desta vez, não foi o comité central desta organização quem pôs em prática, a frase revolucionária.
Desta feita foi o comité central dos banqueiros europeus, vulgo Eurogrupo onde estão as novas "vacas sagradas" destes tempos globais.Foram eles quem tomou essa decisão, tendo como pretexto a necessidade de intervir na crise cipriota, por causa da má gestão dos seus queridos bancos.

Com uma diferença: é que enquanto a UDP pensava nos mais desfavorecidos, o famigerado clube dos ministros das finanças da comunidade europeia, pensava só em como salvar os muito muito ricos, ou seja, os donos dos bancos. Assim, decidiu que todos os depósitos bancários, acima dos 100 mil euros, deviam pagar um imposto de solidariedade de cerca de 30%.


Para legitimizar todas estas intervenções os banqueiros, travestidos de ministros, ao longo do tempo, foram criando regras e dogmas que entram invariavelmente em prática sempre que provocam uma crise, com os seus desmandos, para depois culparem os países, ou os seus povos de serem os culpados, e portanto deverem ser eles a pagar os tais erros. É a socialização dos seus prejuízos individuais.
Demorou algum tempo a perceber-se isto claramente, mas agora está muito nítido, porque está a ser invariavelmente repetido em diferentes países, e os Povos também começam já a reagir.

A primeira regra criada, foi a independência total dos bancos centrais relativamente ao poder político, e em especial o BCE. A regra foi imposta com o Presidente Reagan dos EUA, para favorecer Wall Street, e com a Senhora Tatcher, em Inglaterra, para ajudar a City, em 1980, o que demonstra desde logo a força destas duas instituições para vergar o poder político.A partir desse momento deixou de ser função dos bancos centrais resolver os problemas financeiros dos Estados, em nome do seu" independentismo". Ficou tudo à deriva.
A segunda regra, arvorada em dogma neo liberal, é a contenção da inflação.
Por isso não se deve injectar dinheiro na economia, pois pode provocá-la,o que aflige muito os banqueiros porque vêem assim as suas fortunas  poderem ser desgastadas com as  altas de inflação, ou seja, perdem dinheiro,coisa de que nem querem ouvir falar.


Portanto, não deve haver inflação. Na Europa, é o que tem acontecido como sabemos,mas a regra tem sido furada. Agora, os EUA já não lhe obedecem, e o senhor Dragui, presidente dos espertos e do BCE, começou a rompê-la ,quando em Dez de 2011 injectou um bilião de euros na economia, sem que com isso tenha provocado inflação,  que prova o erróneo da teoria.

Entretanto, a partir desta duas regras "de ouro" que se impuseram, tudo ficou condicionado à vontade dos banqueiros, os investimentos que guardam nos seus bancos, e o trabalho que depende dele. Com a economia a decrescer, o desemprego aumenta.

É a isso que estamos  a assistir nos países do Sul, como Portugal, Espanha, Itália, Grécia e agora vai acontecer a Chipre. É de esperar, um desinvestimento total na sua economia,com o crescimento da praga dos despedimentos,os encerramentos e falências de empresas, os salários em atraso, etc,etc como temos visto cá.


Entretanto, com o exemplo de Chipre, é de pensar que muito investimento internacional fuja da ilha, e depois  da Europa do Sul e não só. É que uma regra básica da UE, a da inviolabilidade dos depósitos bancários  rompeu-se, e agora todos temem que apesar dos desmentidos, depois  das palavras do presidente do Eurogrupo, aliás um social democrata holandês colocado pela Alemanha depois de ter sido alto funcionário do Golden Sachs,o que é esclarecedor, a exceção se torne regra,e ninguém sente ter já as suas poupanças a salvo.

Enfim, com isto podemos estar a assistir, mais do que ao declínio do euro, mas  ao seu fim como  moeda única.

Foi moldado ao sabor e gosto da Alemanha, diga-se o marco alemão, e portanto, a Alemanha foi sempre a grande beneficiaria de toda esta operação ao longo destes 20 anos.
Operação para a qual os países do Sul entraram de forma incauta, e por isso agora, também estão a pagá-la com as crises em que estão mergulhados, pondo em perigo um grande sonho, o da Comunidade Europeia.


E nós, o que devemos fazer agora?







António Serzedelo (membro da Coordenação Nacional do +D)


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