A
Europa está sem rumo, desnorteada e sem tomar fortes e sérias decisões de
combate à crise.
Propõe
um assalto aos depósitos no Chipre e depois disso, entre outros tantos
desastres, o BCE diz que só garante liquidez da banca cipriota até segunda-feira
se não decidirem novas alternativas. Ao mesmo tempo em que se fala em mais
Europa, pela preparação da união bancária com supervisão integrada para daqui a
um ano (não percebo nada do assunto, mas pelo que se disse parece não ser coisa
pouca) ou pela coordenação prévia em Bruxelas das reformas económicas dos seus
Estados-membros, anunciada esta semana.
O
que está visto é que a crise do euro está longe de estar resolvida e que isto
provoca um grande descrédito dos europeus em relação às instituições europeias.
Pelo
que está escrito nos livros podíamos pensar que um aprofundamento da União
Europeia, mesmo com alguns recuos e demoras de décadas, só tinha uma direção e
que a criação da moeda única era um processo irreversível.
O
substrato cultural comum na Europa, que permitiu partir para normas e construir
a sociedade europeia sob interesses comuns mostra, por outro lado, que mesmo
com uma elevada densidade normativa se pode voltar atrás. Em teoria, isto pode
levar as relações comunitárias a transformarem-se numa espécie de sistema
imperial, com um explícito domínio das grandes potências europeias. Ou levar a
Europa para a desfragmentação, com diferentes ciclos concêntricos. No meio de
tudo isto, sem intenção de provocar medos, encontram-se todos os ingredientes
que já levaram a guerras na Europa. E é impossível em democracia manter estes
níveis de empobrecimento, durante muito tempo, neste desastre social onde estamos
e continuamos a caminhar.
Quando
fecho os olhos não consigo imaginar Portugal afastado da Europa, nem a Europa a
inverter o caminho para o federalismo. Quando os abro, a falta de
reconhecimento, por parte de alguns Estados europeus, de se reconhecerem como
iguais (princípio da autonomia) leva a que as suas relações sejam muito mais
imprevisíveis, resultando numa falta de vontade pela manutenção desta sistema
e, portanto, torna-se difícil de ver e acreditar em mais Europa.
Não
faz sentido dizer que não somos gregos, ciprianos, italianos ou espanhóis, nem
mesmo alemães ou franceses. Ou somos todos também europeus ou de facto não faz
sentido pensar em Europa.
Rodrigo Subtil (Membro da Coordenação Nacional +D)
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