sábado, 23 de março de 2013

[Opinião +D] Europa


A Europa está sem rumo, desnorteada e sem tomar fortes e sérias decisões de combate à crise. 

Propõe um assalto aos depósitos no Chipre e depois disso, entre outros tantos desastres, o BCE diz que só garante liquidez da banca cipriota até segunda-feira se não decidirem novas alternativas. Ao mesmo tempo em que se fala em mais Europa, pela preparação da união bancária com supervisão integrada para daqui a um ano (não percebo nada do assunto, mas pelo que se disse parece não ser coisa pouca) ou pela coordenação prévia em Bruxelas das reformas económicas dos seus Estados-membros, anunciada esta semana.

O que está visto é que a crise do euro está longe de estar resolvida e que isto provoca um grande descrédito dos europeus em relação às instituições europeias.

Pelo que está escrito nos livros podíamos pensar que um aprofundamento da União Europeia, mesmo com alguns recuos e demoras de décadas, só tinha uma direção e que a criação da moeda única era um processo irreversível.

O substrato cultural comum na Europa, que permitiu partir para normas e construir a sociedade europeia sob interesses comuns mostra, por outro lado, que mesmo com uma elevada densidade normativa se pode voltar atrás. Em teoria, isto pode levar as relações comunitárias a transformarem-se numa espécie de sistema imperial, com um explícito domínio das grandes potências europeias. Ou levar a Europa para a desfragmentação, com diferentes ciclos concêntricos. No meio de tudo isto, sem intenção de provocar medos, encontram-se todos os ingredientes que já levaram a guerras na Europa. E é impossível em democracia manter estes níveis de empobrecimento, durante muito tempo, neste desastre social onde estamos e continuamos a caminhar.  

Quando fecho os olhos não consigo imaginar Portugal afastado da Europa, nem a Europa a inverter o caminho para o federalismo. Quando os abro, a falta de reconhecimento, por parte de alguns Estados europeus, de se reconhecerem como iguais (princípio da autonomia) leva a que as suas relações sejam muito mais imprevisíveis, resultando numa falta de vontade pela manutenção desta sistema e, portanto, torna-se difícil de ver e acreditar em mais Europa. 

Não faz sentido dizer que não somos gregos, ciprianos, italianos ou espanhóis, nem mesmo alemães ou franceses. Ou somos todos também europeus ou de facto não faz sentido pensar em Europa.






Rodrigo Subtil (Membro da Coordenação Nacional +D)

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