sexta-feira, 15 de março de 2013

[Opinião +D] Era uma vez uma Primavera...

Estou em Santarém, cruzei a Lezíria para cá chegar e advinha-se a Primavera em cada curva do caminho. Do meu local de trabalho vê-se um grande jardim, onde há sempre movimento de pessoas e todos os dias as cores diferem alegrando a coisa. Abri a janela e para além do barulho do trânsito ouvi chilrear, ouvi risos, ouvi passos e ouvi Vítor Gaspar na sua conferência de imprensa sobre a sétima avaliação do Programa de Assistência Económica e Financeira. Estava concentrado no que se passava junto ao baloiço e pareceu-me ouvir… “Desemprego vai continuar a subir”. Fiquei atordoado a pensar como se poderia inverter este flagelo mas depressa as correrias desencontradas de uma menina de tranças e o seu cão me distraíram. Estava naquela de perceber quando é que o cão deitava a miúda ao chão quando do discurso que ainda lá estava, foi dito…”Indemnizações (por despedimento) passam para 12 dias nos novos contratos”. Aí engoli em seco, parece-me que nessa altura uma nuvem tapou o Sol que até então radioso, aquecia a manhã. Mas um grupo de rapazes e raparigas já espigadotes, com uns cadernos debaixo dos braços, phones em posição de combate, riam e atrapalhavam-se no caminho da escola conversando de certo sobre o último concerto do seu ídolo. Mentalmente revi-me naquele grupo, na inocência daqueles dias, na expectativa do resto da vida e nesta altura Gaspar chegou-se aos meus ouvido e disse-me “O Défice ficará nos 6,6% do PIB”. Caramba em que é que ficamos  ?  A manhã estava tão auspiciosa e já vai assim ?  Ainda olhei outra vez lá para fora na expectativa de cor, de alegria de Primavera e vi três ou quatro idosos sentados à procura do Sol, dormitando, lembrando passeios antigos neste jardim. Foi então que nova chicotada hertziana me pôs nos eixos. ”Recessão nos 2,3%” ribombou ao desfazer-se nas paredes que me dão abrigo. Fechei a janela e fiquei a pensar se afinal a Primavera chegaria ou não!






Carlos Seixas  (membro da Coordenação Nacional do +D)

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