quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

[Opinião +D] Impulso primordial

Nos bancos de escola aprendi a gostar das realizações do espírito grego, coisas remotas do Séc V A. C. , na maior parte das vezes, que moldavam o nosso entendimento e nos dava uma determinada lógica para o dia a dia. 

Aprecio especialmente a capacidade de estruturar um sistema de referências que se adapta a quase todas as áreas do conhecimento humano. 

Ainda hoje admiro os Clássicos e procuro leituras nas metáforas imortais que nos legaram. Não sei muito do que estaria para trás, nem sei o que estará muito para a frente. O atual exemplo Grego, para mim, é o da atitude mas não esqueçamos que o povo Grego está acossado, foi empurrado para uma situação e deu o voto a um projeto que lhe vai exigir mais do que quer dar. 

Saiu da sua zona de conforto e apoiou uma rotura para a qual não mediu as consequências. É como aqueles democratas de longa data que chegam a casa e se sentam a ver televisão enquanto a mulher prepara o jantar, os miúdos e lava a roupa. Muito para além do voto estará a construção de um novo processo de envolvimento e responsabilização dos cidadãos. Lá como cá precisamos que a mudança, para além da espuma dos dias, altere realmente a nossa apropriação da intervenção pública. Para já fica este impulso, honesto, sofrido e capaz de pôr em sentido os setores mais retrogados e cínicos de uma sociedade dita tolerante e plural. 

Carlos Seixas  (membro da Coordenação Nacional do +D)



Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.


quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

[Opinião +D] "Partidarite Aguda"‏

"Os partidos políticos "tradicionais" estão doentes: padecem de "partidarite aguda" (uma inflamação grave daquilo para que foram originalmente criados) . Com efeito, os partidos políticos contemporâneos estão "Terminalmente doentes" no sentido em que os remédios para a sua cura e ressuscitação que existem e são conhecidos enfrentam a oposição interna, organizada e poderosa de varias forças que tudo farão para resistir à sua recuperação já que esta se tem que fazer, inevitavelmente à sua custa e sacrificando a influencia imperial e imperialista que estas forcas conservadoras neles possuem.

As forcas de bloqueio do interior dos partidos são conhecidas. São a influencia predominante, que tudo seca à sua volta, das juventudes partidárias, verdadeiros caldos de cultura de tudo o que - em termos culturais e de atitude - está errado nos partidos. São os aparelhos distritais e concelhios semiprofissionais ou profissionalizados. São as culturas de seguidismo e unanimismo que bloqueiam o pensamento auto-critico, o reconhecimento e correção do erro e a excessiva fulanização da politica.

Jotificação da politica: Obviamente não existe nada de intrinsecamente errado com a participação de cidadãos jovens na politica partidária. Bem pelo contrario, estes jovens são poucos, demograficamente pouco representativos (pertencem quase todos à classe socio-económica média-alta). A politica e, em particular, a politica partidária, precisa de mais jovens. Mas não precisa de juventudes partidárias profissionalizadas, de jovens cidadãos que não conhecem nem a sociedade civil, nem o mundo associativo e de vida comunitária nem, sobretudo, o mundo do trabalho. Os partidos precisa de regressar às suas origens, reestabelecendo a ligação com a sociedade e com os cidadãos e construírem pirâmides organizativas independentes, compostas unicamente por militantes jotificados, treinados nas lógicas internas de conquista e preservação do poder interno, e logo muito eficazes nessa missão, mas completamente separados da sociedade e das comunidades em que se inserem, é algo que está na directa razão da atual crise de representatividade dos partidos políticos. A solução, contudo, existe e está ao alcance de todos: se as juventudes partidárias já não cumprem os seus propósitos originais (que eram o de trazer jovens para a politica, servirem como escolas de cidadania e vias de ligação dos partidos à sociedade) então devem ser extintas e os seus quadros e militantes integrados nas estruturas normais dos partidos.

Combater a aparelhização dos partidos: esta é a tarefa mais difícil de executar porque o essencial da conquista e conservação do poder (ou melhor, o controlo das vias de mudança organizativa interna) reside precisamente nos aparelhos locais, distritais e concelhios. Para dinamitar o aparelho, há que lhe retirar poder e no estado atual de coisas ele consegue bloquear qualquer tentativa que va nesta direção. Por esta razão é que o remédio a esta doença participativa interna nos partidos será o de mais difícil aplicação... De facto, existem apenas duas vias para chegar a este resultado: ou os militantes, massivamente e de forma concertada expulsam os atuais detentores do poder no aparelho, em todas as secções, concelhias, distritais e órgãos nacionais (algo impossível de realizar em simultâneo), ou os militantes elegem um Secretário-Geral com verdadeira e radical vocação reformista, desligado dos maus hábitos e vícios do aparelho e da juventude partidária, capaz de construir uma Visão radicalmente reestrurante do partido e com a competência, consistência, equipa e resistência suficientes para vencer as grandes barreiras que os imobilistas, de fora e de dentro do partido, vão lançar sobre si. Esta via, dada a concentração atual de poderes no Secretario Geral, nos Estatutos actuais, é possível e viável e é, de facto, provavelmente a única capaz de levar a bom termo uma reorganização tao profunda como aquela que é necessário realizar.

Seguidismo e Fulanização: a construção de partidos políticos dominados pelos aparelhos profissionais e completamente autónomos da sociedade civil, com empregos e rendimentos provenientes unicamente do Estado, entidades satélite e do próprio partido, aumentam o grau de previsibilidade pessoal dos quadros partidários, reforçam a sua inclinação natural para a fidelização em relação ao "líder do momento", que é percepcionado não como o mais competente para conduzir os destinos do pais, mas como o mais eficaz na tomada interna de poder, na sua preservação e na transposição deste processo para a República. Os lideres escolhidos por estes seguidistas não são assim, necessariamente, os melhores para a República ou para a Comunidade, mas tao somente os melhores para a preservação do Status Quo (que os alimenta) e para a conquista do Poder (que produz mais rendimentos e disponibiliza mais empregos e favorecimentos vários). Os militantes assim, neste modelo atual de partido, não são assim incentivados à contestação, ao pensamento divergente ou discordante, mas ao seguidismo e à fidelidade ao líder, "custe o que custar". Como em todas as outras "doenças participativas" acima listadas existem, também aqui, remédios... E estes passam, como mais acima, pela extinção das grandes escolas de fidelização e de seguidismo dos partidos, as juventudes partidárias. A abertura dos partidos a cidadãos independentes (não a sua repulsa, como está estatutáriamente instituído), a preferência e prioridade a militantes com uma vida associativa e comunitária muito ativas, a militantes com uma vida profissional distante do Estado, do meio autárquico e das empresas publicas, deve compensar a natural, mas nociva predominância quase a 100% dos jotas e dos políticos profissionais no aparelho e nas direcções nacionais e locais. Este novo equilíbrio, entre militantes provenientes da Sociedade Civil e militantes profissionalizados, vai repor sanidade nas relações internas, quebrar a lógica seguidista "a-todo-o-custo", e permitir a renovação estrutural que defendemos nos parágrafos precedentes.

Estes novos partidos serão assim, pela via deste triplo renascimento democrático interno, mais participativos e mais participados. Serão mais abertos à influencia de simpatizantes e eleitores e menos piramidais, favorecendo o funcionamento em rede (Primárias, Referendos Internos, Listas Abertas com voto preferencial, etc) em detrimento das estruturas violentamente piramidais que hoje os caraterizam.

Estes novos partidos serão mais flexíveis na resposta a um mundo que evolui de forma cada vez mais rápida e profunda, mais representativos (democracia interna semi-direta) e mais capazes de efetivar as politicas definidas a partir das suas bases e, logo, serão mais competentes na defesa e promoção da República."




Rui Martins (membro da Coordenação Nacional do +D)

Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

[Opinião +D] Syriza ou não Syriza?!…

Hoje não podia deixar de aqui falar do Syriza! Não para ser mais um entre tantos a sobre o assunto opinar, mas tão-só para fazer alguma reflexão.
Ainda há não muito tempo, ninguém pensaria em que este partido de esquerda (então mais) radical teria relevância eleitoral quanto mais prever que estaria agora a ganhar eleições (quase quase com maioria absoluta) e a ser Governo.
É a reação de um povo que não se conforma com tudo o que um bando de “iluminados”, desconhecedor da sua realidade e que só olha para números (e que nem mesmo isso sabe fazer bem…), lhes quer impor.
Num tempo recorde de menos do que um dia, acordam uma coligação e formam Governo. E Tsipras não esteve cá com pruridos nem com complacências partidárias: coligou-se com quem lhe pareceu possível e melhor, mesmo tratando-se de um partido de direita.
Uma chapada sem mão naqueles que continuam a pôr acima de tudo as suas já sem sentido "ideologias" de esquerda-direita...
São bons exemplos que nos vêm dos gregos!
Francisco Mendes (Membro da Coordenação Nacional +D)

Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.  

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

[Opinião +D] Elogio (im)possível de São Paulo

São Paulo não é apenas a maior cidade brasileira – é a maior cidade lusófona, uma das maiores cidades do mundo. A sua população excede a própria população portuguesa e isso, por si só, impressiona: imaginar todo um país confinado a uma só cidade.



O primeiro impacto é pois, como não poderia deixar de ser, violento, mesmo para quem está habituado ao frenesim urbano.



O trânsito, em particular, exige uma paciência mais do que infinita. Há uma espécie de guerra civil entre automóveis e motociclos, com sucessivas provocações mútuas, e nem as mais desesperadas formas de diminuir o trânsito (conforme o número da matrícula, há dias em que não se pode circular, por exemplo) parecem ter efeito visível.


Subterraneamente, o metro lá vai conseguindo fazer circular as pessoas, mas a rede ainda precisa de se expandir muito mais. São Paulo é, também nesse plano, um excelente espelho do país que é o Brasil: um país imenso, um país continental, que parece estar ainda a meio caminho não se sabe ainda bem do quê.


Se há zonas de São Paulo que impressionam pela sua sofisticação e requinte, outras há que ainda chocam pela pobreza e mesmo pela miséria. 


O traço urbano é igualmente contrastante: há ainda imensas zonas degradadas, lado a lado com áreas que fazem de São Paulo uma das mais belas cidades do mundo, ainda que com um estilo algo indefinido. 


Sente-se, por um lado, um certo mimetismo em relação às grandes metrópoles norte-americanas, mas, por outro, alguma nostalgia da velha Europa.


Também nesse plano, São Paulo reflecte bem a encruzilhada em que o Brasil se encontra, face às várias possibilidades que se lhe deparam no plano geoestratégico – ou alinhar-se preferencialmente com o gigante do Norte (leia-se: Estados Unidos da América), ou circunscrever se à América Latina, ou apostar mais numa ligação com Portugal e os demais países lusófonos.

Como sempre, a melhor escolha não será decerto uma escolha única, que implique a recusa de todas as outras. Decerto, o Brasil terá que ter sempre relações privilegiadas com os restantes países americanos, em particular com os países da América do Sul. Estamos, porém, convictos de que isso não implicará uma menor aposta na ligação com Portugal e os demais países lusófonos. Apesar do gigantismo do Brasil, que lhe poderá dar a ilusão de uma auto-suficiência à escala global, os brasileiros mais lúcidos sabem que, a essa escala, juntos seremos bem mais fortes.


A esse respeito, a tomada de posse da Presidente reeleita, no primeiro dia deste ano de 2015, não terá sido o melhor sinal. Dilma Rousseff, manifestamente, privilegia as relações com os países vizinhos da América do Sul. O candidato derrotado, Aécio Neves, seria decerto diferente, mas mais pela ligação aos Estados Unidos da América. Nenhum dos dois me pareceu defender uma via realmente pró-lusófona. A outra candidata derrotada, Marina Silva, teve um discurso mais auspicioso no que concerne à aposta na CPLP: Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, mas ainda sem grande eco. Veremos o que acontecerá nas próximas eleições.


Post-Scriptum - 31 de Janeiro, no Ateneu Comercial do Porto, às 17h: início de um Ciclo mensal de Conferências sobre o filósofo Sampaio Bruno, no centenário do seu falecimento.




Renato Epifânio (membro da Coordenação Nacional do +D)
Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.

domingo, 25 de janeiro de 2015

[Opinião +D] Morte nas urgências dos hospitais!

A nova moda em Portugal parece ser a morte nas urgências dos hospitais públicos, por falta de assistência, atividade em forte expansão nas últimas semanas.
Estes casos têm ocorrido, porque as urgências estão lotadas e não existe pessoal suficiente para atender tantos doentes. Em quase todos os hospitais públicos, faltam enfermeiros e médicos, devido aos grandes cortes efetuados na saúde por este Governo.
Esta situação é um crime e uma falta de respeito por um dos direitos fundamentais dos cidadãos, que é o direito à saúde.
Portugal é um país europeu que garante vidas desafogadas a políticos incompetentes e corruptos, que perdoa milhões em impostos a empresas que distribuem outros tantos milhões a acionistas milionários, que derrete milhões em obras movidas a tráfico de influências, que financia hospitais privados mas que não tem dinheiro para que estas e outras pessoas tenham direito a cuidados de saúde dignos de uma democracia.
É urgente parar com os cortes nesta área e tomar medidas, antes que aconteçam mais tragédias.

Carlos Assunção (membro da Coordenação Nacional do +D)
Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina. 

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

[Opinião +D] Ai as Fezes !

Há 15 anos numa conversa de recolha de elementos sobre a história da pequena localidade da Tapada, concelho de Almeirim, na entrada sul da centenária ponte D. Luís que liga Santarém à lezíria, tive o privilégio de ter como interlocutor um Beirão que ao procurar trabalho viera ter aqui para trabalhar nas obras de alargamento e reforço do tabuleiro desta ponte (Anos 50). O meu interlocutor tinha estado nas grandes obras que na zona centro (Barragem da Bouçã e Castelo de Bode) e em Lisboa (Metro) lhe melhoraram a vida. Casou na Tapada e os descendentes ainda lá vivem. Contou-me então que na procura de melhores condições de vida, um grupo de trabalhadores já fixados na Tapada, procuraram construir as suas habitações tendo que negociar terrenos e conseguir as competentes autorizações de construção. O processo foi longo mas finalmente atingido. Em memória da labuta que todo o processo exigiu, chamavam à rua onde se alinhavam as modestas habitações, a Rua das Fezes, enquanto somatório de uma fé que individual e coletivamente tinham mantido acesa e que finalmente dera frutos. Nestas Fezes acredito ! já as outras são para esquecer, todas ! Amigos imaginários e seus representantes intermediários só atrapalham e chantageiam o próximo ! 
 
( Nota - Adivinho novamente grossa trapalhada, para não voltar a falar em fezes, na votação dos Diplomas de Adoção por casais do mesmo sexo. Para quando o triunfo da razão ? )



Carlos Seixas  (membro da Coordenação Nacional do +D)



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quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

[Opinião +D] "A Qualidade da Democracia"‏

"A urgência do momento económico, com a imposição de uma austeridade permanente, draconiana e - até - sádica, porque inútil, fez sair do foco mediático a questão que é verdadeiramente importante e determinante para todos os demais aspectos da vida em sociedade: a qualidade da democracia. Esta qualidade determina a forma como escolhemos os governantes, como estes determinam e alteram as politicas que aplicam, a forma como submetemos a nossa soberania a entidades supranacionais e como o coletivo resiste à pressão dos interesses individuais, corporativos ou financeiros. A crise atual é, certamente, uma crise financeira, de desfasamento crónico, persistente e sem fim à vista de inconsistência entre rendimentos e despesas do Estado. É igualmente uma crise económica, pela erosão no tecido produtivo criada pela destruição dos setores produtivos da economia promovida pela globalização neoliberal e pela União Europeia. É demográfica, porque sem futuro, não se fazem filhos e sem filhos, não há Finanças e Economia que, a prazo, resistam.

Mas todas estas crises decorrem de os portugueses colocarem e deixarem colocar políticos que não servem (ou não são capazes) os interesses nacionais e que preferem servir os Interesses dos países do norte da Europa, dos grandes grupos económicos e financeiros ou, apenas, dos seus aparelhos partidários internas, em lógicas autofágicas de aparelho que nada interessam aos cidadãos.

Precisamos de resolver, primeiro, a crise da democracia para depois, por efeito domino, começar a resolver todas as outras. Precisamos de começar a repor a confiança no laço entre eleitos e eleitores e a aproximar a politica dos cidadãos. Esta é a revolução tranquila, paciente, mas global que temos que começar. Uma revolução que torne obrigatórias as eleições primárias, nas listas partidárias, para todos os cargos uninominais (Presidente da República, Presidente de Câmara e Junta), que institua a revogação de mandatos e leis por iniciativa peticionária de cidadãos e por referendo, pela instituição de círculos uninominais e pela possibilidade de eleger deputados à Assembleia da República em listas independentes. Estas medidas, exemplares porque precursoras, não se esgotariam em si mesmas, dando assim impulso a novos desenvolvimentos que haveriam de tornar a nossa democracia cada vez menos representativa ("democracia de quatro em quatro anos, com interregnos ditatoriais") e cada vez mais participada e participativa."

Rui Martins (membro da Coordenação Nacional do +D)

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terça-feira, 20 de janeiro de 2015

[Opinião +D] Cobrança coerciva ou agiotagem?

Foi divulgado na semana passada que a cobrança coerciva feita pelas Finanças atingiu em 2014 os 1.148 milhões de euros. Mais 48 milhões do que o previsto.
Diz o Ministério das Finanças que "Este resultado demonstra a crescente eficácia na cobrança coerciva de dívidas fiscais e no combate ao incumprimento e à fraude fiscal, fruto da modernização e das reformas operadas nos últimos quatro anos na administração fiscal portuguesa".
Será?! Ou será também em muito o resultado de um comportamento por parte da Autoridade Tributária perfeitamente próprio dos agiotas, que tudo fazem para que as pessoas ponham o pagamento de impostos, juros e coimas, quase sempre de valores perfeitamente inaceitáveis, à frente até da alimentação dos próprios filhos?!
Só que as Finanças estão em plena vantagem sobre qualquer usurário! É que têm a faca e o queijo na mão para agir! Até a casa onde os contribuintes faltosos vivem podem ir buscar e vão mesmo a uma média de 10 por dia!

Francisco Mendes (Membro da Coordenação Nacional +D)

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segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

[Opinião +D] Je ne suis pas Charlie, je suis Ahmed

1. Notícia saída no jornal “Diário Económico”, para aqueles que persistem em dizer que o “Chalie Hebdo” atacava tudo e todos, de forma isenta e “libertária”: «A sátira do Charlie Hebdo sempre foi implacável com o Cristianismo e o Islão, mas teve de recuar perante a indignação judaica. Em 2008, a direcção do jornal demitiu Maurice Sinet, ou ‘Siné', autor de um ‘cartoon' considerado anti-semita. Siné, hoje com 86 anos, classificou de "oportunista" o filho do então presidente Sarkozy por se converter ao judaísmo antes de casar com uma rica herdeira judia. "Vai longe na vida, este rapazola", lia-se no ‘cartoon'. Pró-palestiano e de esquerda, Siné rejeitou qualquer pedido de desculpa, aliás, disse mesmo que preferia cortar os próprios testículos. O director do jornal, Philippe Val, acabou por despedir o cartoonista, uma decisão apoiada pelo próprio Governo e pelo Congresso Judaico da Europa. O ‘caso Siné' fez ainda correr muita tinta e críticas a Val, por em nome da liberdade de expressão ter republicado os ‘cartoons' dinamarqueses sobre o profeta Maomé mas ter traçado uma linha vermelha no humor sobre judeus. Siné recorreu aos tribunais e, em 2010, o Charlie Hebdo foi condenado e obrigado a pagar uma indemnização de 90 mil euros.».

2. Notícia saída no jornal “Globo”, em honra daquele que deveria ter sido eleito como o símbolo maior do morticínio de Paris, o polícia muçulmano Ahmed Merabet: «Com diversas pessoas fazendo homenagens às vítimas do ataque à redacção do jornal satírico “Charlie Hebdo”, em França, por meio da frase “Je suis Charlie” (eu sou Charlie, em tradução livre), usuários no Twitter também prestaram solidariedade ao polícia Ahmed Merabet, morto em frente ao prédio da publicação. Além da hashtag “#JesusCharlie”, que se tornou um dos assuntos mais discutidos do mundo e reproduz a frase adoptada a respeito do ataque, começou a ser postada  compartilhada a frase “Je  suis Ahmed”, em referência ao oficial, um dos 12 mortos do massacre. Ahmed Merabet foi executado com um tiro à queima-roupa na calçada na fachada do prédio, após ser atingido por outro disparo e levantar as mãos, sinalizando que estava rendido. Um vídeo registou o momento em que o oficial foi morto. O tópico começou a ser bastante compartilhado quando, de acordo com o jornal “Hufffington Post”, o activista político árabe Dyab Abou Jahjah fez um post no seu perfil no Twitter, criticando o jornal francês. “Não sou Charlie. Sou Ahmed, o polícia morto. Charlie [Hebdo] ridicularizou a minha fé e cultura (…).».

3. Ainda sobre Ahmed, no jornal “Público”: «Ahmed Merabet tinha 40 anos, faria 41 a 8 de Fevereiro, vivia com a sua companheira na mesma rua dos irmãos e a sua grande preocupação era cuidar da mãe, nascida na Argélia e viúva há 20 anos. “Era um homem que gostava de ajudar os outros, calmo, discreto”, disse a irmã Nabia. Era “um trabalhador”, descreveu o irmão Malek, lembrando que Ahmed passou por um McDonald’s e pela empresa nacional de caminhos-de-ferro antes de conseguir entrar na polícia.»



Renato Epifânio (membro da Coordenação Nacional do +D)
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domingo, 18 de janeiro de 2015

[Opinião +D] Será que um dia vamos conseguir viver como se o mundo fosse um só?

Recentemente um blogger saudita foi condenado a dez anos de prisão e 1000 chicotadas por ter “insultado o Islão”. Neste momento já cumpriu as primeiras 50 chicotadas por ter criticado o poder dos líderes religiosos na Arábia Saudita, no blogue que fundou com a ativista dos direitos das mulheres Suad al-Shammari e onde defendeu o fim da influência da religião na vida pública daquele país.
Na Nigéria, o grupo terrorista Boko Haram fez um atentado onde mataram cerca de 2 mil pessoas, e uns dias depois usaram uma menina de dez anos armadilhada com uma bomba onde causou dezanove mortos.
Estes casos não têm muito a ver um com o outro.
No entanto ocorre-me uma pergunta, porque é que no caso da revista francesa chocou tanta gente e foram feitas tantas manifestações de solidariedade e nestas situações a reação foi tão diferente? Será que só nos revoltamos quando estes casos batem à nossa porta?
Será que um dia vamos conseguir viver como se o mundo fosse um só?
“ Imagine
Imagine there's no heaven
It's easy if you try
No hell below us
Above us only sky
Imagine all the people
Living for today
Imagine there's no countries
It isn't hard to do
Nothing to kill or die for
And no religion too
Imagine all the people
Living life in peace
You may say, I'm a dreamer
But I'm not the only one
I hope someday you'll join us
And the world will be as one
Imagine no possessions
I wonder if you can
No need for greed or hunger
A Brotherhood of man
Imagine all the people
Sharing all the world
You may say, I'm a dreamer
But I'm not the only one
I hope someday you'll join us
And the world will live as one “ 

Carlos Assunção (membro da Coordenação Nacional do +D)
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quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

[Opinião +D] Sombras da exaltação

Estes dias de bater com a mão no peito e jurar a pés juntos que somos assim, assado frito e cozido lembram-me as grandes manifestações de fé e crendice. Não é que não seja louvável unirmo-nos à roda de nobres causas, mas convém saber ao que vamos e respeitar o que se apregoa. Na maior parte dos casos é honesto o envolvimento e o sentimento partilhado e para além do mais, tais manifestações, trazem saúde a uma comunidade.

Falo-vos agora a partir de Santarém e faço eco de uma conversa tida com um amigo dos meus filhos que de ascendência Africana, se viu retornado a uma terra, então desconhecida, nos finais dos anos 70. Ironia do destino há alguns anos retornou a Angola onde encontrou um emprego que em Portugal começava a escassear. Neste final de 2014, regressado a casa para passar férias com a companheira e a filha, decidiu que estava na altura de trocar o carro, pelo que se dirigiu a um representante, da marca eleita, procurando saber das condições de venda de determinado modelo. De referir que a viatura a substituir fora adquirida no mesmo representante. Recebido por um vendedor que se prestou a fornecer os elementos que necessitasse, qual não foi o espanto quando aquele lhe disse, em começo de conversa, que para o modelo em causa ele não disporia nem de dinheiro nem condições de crédito para a aquisição pretendida. Assim sem mais nem menos, sem qualquer consulta a registos nem a históricos de cliente. Para além da estratégia comercial suicida adotada, sobressai a reprodução automática de um preconceito que há muito deveria ter sido erradicado do nosso dia a dia. 


Se a razão das manifestações não for interiorizada não passaremos de fantoches ao serviço dos mais hábeis que sabem bem como manipular sentimentos honestos de gente séria. A propósito o José, habituado aos desmandos que a cor da sua pele propicia, deu um salto a Leiria e comprou o carro que pretendia.




Carlos Seixas  (membro da Coordenação Nacional do +D)



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