segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

[Opinião +D] Je ne suis pas Charlie, je suis Ahmed

1. Notícia saída no jornal “Diário Económico”, para aqueles que persistem em dizer que o “Chalie Hebdo” atacava tudo e todos, de forma isenta e “libertária”: «A sátira do Charlie Hebdo sempre foi implacável com o Cristianismo e o Islão, mas teve de recuar perante a indignação judaica. Em 2008, a direcção do jornal demitiu Maurice Sinet, ou ‘Siné', autor de um ‘cartoon' considerado anti-semita. Siné, hoje com 86 anos, classificou de "oportunista" o filho do então presidente Sarkozy por se converter ao judaísmo antes de casar com uma rica herdeira judia. "Vai longe na vida, este rapazola", lia-se no ‘cartoon'. Pró-palestiano e de esquerda, Siné rejeitou qualquer pedido de desculpa, aliás, disse mesmo que preferia cortar os próprios testículos. O director do jornal, Philippe Val, acabou por despedir o cartoonista, uma decisão apoiada pelo próprio Governo e pelo Congresso Judaico da Europa. O ‘caso Siné' fez ainda correr muita tinta e críticas a Val, por em nome da liberdade de expressão ter republicado os ‘cartoons' dinamarqueses sobre o profeta Maomé mas ter traçado uma linha vermelha no humor sobre judeus. Siné recorreu aos tribunais e, em 2010, o Charlie Hebdo foi condenado e obrigado a pagar uma indemnização de 90 mil euros.».

2. Notícia saída no jornal “Globo”, em honra daquele que deveria ter sido eleito como o símbolo maior do morticínio de Paris, o polícia muçulmano Ahmed Merabet: «Com diversas pessoas fazendo homenagens às vítimas do ataque à redacção do jornal satírico “Charlie Hebdo”, em França, por meio da frase “Je suis Charlie” (eu sou Charlie, em tradução livre), usuários no Twitter também prestaram solidariedade ao polícia Ahmed Merabet, morto em frente ao prédio da publicação. Além da hashtag “#JesusCharlie”, que se tornou um dos assuntos mais discutidos do mundo e reproduz a frase adoptada a respeito do ataque, começou a ser postada  compartilhada a frase “Je  suis Ahmed”, em referência ao oficial, um dos 12 mortos do massacre. Ahmed Merabet foi executado com um tiro à queima-roupa na calçada na fachada do prédio, após ser atingido por outro disparo e levantar as mãos, sinalizando que estava rendido. Um vídeo registou o momento em que o oficial foi morto. O tópico começou a ser bastante compartilhado quando, de acordo com o jornal “Hufffington Post”, o activista político árabe Dyab Abou Jahjah fez um post no seu perfil no Twitter, criticando o jornal francês. “Não sou Charlie. Sou Ahmed, o polícia morto. Charlie [Hebdo] ridicularizou a minha fé e cultura (…).».

3. Ainda sobre Ahmed, no jornal “Público”: «Ahmed Merabet tinha 40 anos, faria 41 a 8 de Fevereiro, vivia com a sua companheira na mesma rua dos irmãos e a sua grande preocupação era cuidar da mãe, nascida na Argélia e viúva há 20 anos. “Era um homem que gostava de ajudar os outros, calmo, discreto”, disse a irmã Nabia. Era “um trabalhador”, descreveu o irmão Malek, lembrando que Ahmed passou por um McDonald’s e pela empresa nacional de caminhos-de-ferro antes de conseguir entrar na polícia.»



Renato Epifânio (membro da Coordenação Nacional do +D)
Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.

Sem comentários:

Enviar um comentário