domingo, 30 de junho de 2013

[Opinião +D] Lamentavelmente o sexo ainda importa

No decorrer da recolha de assinaturas para a Assembleia Municipal alguém comentou que questionada sobre se queria assinar, uma Srª terá respondido: “…que daquelas coisas não entendia nada e que teria de perguntar ao marido”. Ainda assim é, no séc. XXI. Poucos dias depois, quando eu própria recolhia assinaturas informei um Sr. do que se tratava e, prontamente, ele me disse que a sua esposa assinaria também e ela assim fez, sem mesmo ter ouvido do que se tratava.

Isto fez-me voltar a reflectir, de novo, que de facto nós mulheres nos eclipsamos da política. Deixamos isso para os homens. A que se deve esta demissão? A tantas coisas. Todos o sabemos. Contudo, se isso se deve, em muito, à atitude dos homens, deve-se também à atitude das mulheres. Porque o afirmo de uma forma tão convicta? Porque assim é, de facto. Basta olhar para as bancadas e para os gabinetes da Assembleia da República e para os cargos políticos de maior relevo do país.

Se analisarmos os números da presença feminina nos partidos, nos sindicatos, nas associações e novos movimentos partidários a realidade é a mesma. Eu sei que quando uma mulher aparece a querer “fazer política” é olhada com desconfiança e isto ainda é pior se for casada, se for nova e com filhos. Porque estamos a fazer algo que não é suposto. Somos olhadas com desconfiança quer pelas outras mulheres, quer pelos homens. Ambos ficam a pensar, afinal o que andamos nós ali a fazer. Perante isto, a maioria desiste. As que não desistem acabam quase sempre por vir a ser conhecidas. Bem hajam!

Como se resolve a questão? Com quotas? Não me parece. O que se queria era uma participação activa, positiva, rica e coerente. O que se queria era que a actuação política feminina fosse reconhecida pelo seu real valor. Não me agrada que os lugares sejam alcançados e ocupados porque é preciso “fazer o número obrigatório”.

Historicamente as mulheres começaram a sair de casa e começaram a dedicar-se a trabalhos e empregos mais diversificados porque era preciso dar resposta à falta de mão-de-obra masculina. Foi, sobretudo, com a Segunda Guerra Mundial que as mulheres começaram a “provar” que tinham tantas capacidades quantas as dos homens. Foi a necessidade que a isso levou e elas aproveitaram.

Actualmente vive-se outra crise. Era bom que a soubéssemos aproveitar e que não ficássemos à espera que os 
homens resolvessem tudo por nós, mais uma vez. Na realidade, falta o contributo feminino em muitos sectores mas na vida política isso é ainda mais urgente. Não fiquemos à espera. A presença feminina é uma luta nossa, das mulheres. Se nós não fizermos por merecer, ninguém o fará por nós.








Margarida Ladeira (Membro da Coordenação Nacional +D)
Este comentário é da exclusiva responsabilidade da sua autora

[Opinião +D] GREVE GERAL de 27-06-2013

“O país não está parado”, responde o ministro da presidência quando questionado sobre a greve geral. E de facto, não está parado; está aparentemente desgovernado! Aparentemente só, porque os portugueses sabem bem como usar um dia de greve. Há vida e muita vida, para além da que é entregue aos empregos. Há relações, há hobies, há sol e praia, há festa sempre que se juntam. Somos capazes de viver além dos cercos que nos fazem, o que é motivo de orgulho. Com sorte, quem se acha no poder até pode ver os tempos de trabalho que sobrecarregam uns, desempregam outros. Mais um pouquinho e acontece a diminuição e ajuste dos horários, tempos de trabalho e salários de uns em prol dos que não têm. Que país de gente bonita! As crianças do ensino obrigatório têm à sua frente 90 dias sem escola que vão ocupar com o que os responsáveis lhe destinarem. Votos que o destino lhe dê condições de formação capazes de fazer deles cidadãs e cidadãos esclarecidos, capacitados para perceberem que não é preciso tanto governo centralizado e distante. Para perceberem que têm capacidade de se organizar e encontrar opções e soluções, sem andar à mercê dos que, se soubessem o que fazer com a própria vida, não se alapariam aos poleiros sujos do poder! Para perceberem que os lugares intermédios e de topo que impliquem decisões, deverão ser experimentados pelo máximo de pessoas. Esses lugares deverão ser responsabilizáveis e remunerados moderadamente. O exercício do poder deverá ser uma obrigação civil que a todos toca. Não uma distorção que enquista vidas para se mostrarem ao mundo embrulhados em patines apetecíveis a fim de serem desejados, quando os próprios fugiriam da sua pele - que também cobiçaram - para uma vida comum, se conseguissem!

 

Maria Leonor Vieira (Membro da Coordenação Nacional +D)
Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.

sábado, 29 de junho de 2013

[Opinião +D] "Quando o mundo era bipolar, o mau foi substituído pelo que parecia melhor"


Quando, nos anos 80 do século passado, a Europa de Leste percebeu que o comunismo era uma coisa ruim, deitou-o fora e passou-se para o capitalismo. Agora as pessoas do lado ocidental perceberam que o capitalismo também não funciona bem, mas ainda não encontraram nada para o substituir. Quando o mundo era bipolar, o mau foi substituído pelo que parecia melhor. Mas afinal o capitalismo – o capitalismo financeiro dos grandes bancos, dos reguladores incapazes, dos esquemas e das negociatas especulativas – acabou por provocar a maior crise económica do pós-guerra e as pessoas perceberam que o crédito desenfreado, que democratizava o acesso à habitação e ao consumo, afinal não era mais do que um engodo que depois produzia falências e desempregados.

Mas se há 30 anos era simples trocar um sistema pelo outro, mesmo aqueles que actualmente se indignam não sabem para onde olhar quando procuram um novo modelo. Ninguém apareceu com uma nova grande ideia, que concilie a iniciativa privada com a justa distribuição de recursos e riqueza, a liberdade individual com uma sociedade solidária, o crescimento económico com a protecção ambiental. É como se esta crise tivesse mostrado a perversão do mundo sem revelar a sua redenção. Mas mesmo sem soluções salvíficas evidentes, cada um pode dar o seu pequeno contributo para um mundo um bocadinho melhor. No seu bairro, na sua comunidade, na sua cidade, se cada cidadão promover ou participar numa pequena mudança de atitudes e comportamentos fará diferença. Diz um provérbio africano: “Gente simples, fazendo coisas pequenas, em lugares pouco importantes, consegue mudanças extraordinárias.” Eu acho que o caminho é mesmo este.


 
 
 
 
José Diogo Madeira (Membro da Coordenação Nacional +D)
Este comentário é da exclusiva responsabilidade do seu autor.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

[Opinião +D] Convicção pela Ação

Apesar de uma passividade que tem tanto de incompreensível como de tradicional, o povo português vive hoje uma situação terminal que se arrisca - se não mudar - a extinguir a própria nacionalidade.

Não duvido de que a situação atual que vive a Europa e, no particular, Portugal, resulta de um acerto de condições cuidadosamente planeado e orientado com fins e objetivos muito concretos. O Plano é Global, cuidadosamente urdido e executado com uma precisão muito germânica. Não é um plano "nacional" (no velho sentido do termo), mas individual e tecido por algumas centenas de indivíduos extremamente ricos, usando máquinas de propaganda tremendas (os grandes grupos de Media e as televisões) e escondendo-se por detrás de falsas capas de "democracia representativa" e de "liberdade de opinião". Na verdade, ambas as capas - tamanha é a sua dimensão - são extremamente finas e não resistem a um olhar mais atento: os Partidos políticos, tornados em instrumentos passivos e mediáticos desse jogo e os Media são os instrumentos dessa estratégia global de dominação  e o pensamento livre e independente dos cidadãos o seu alvo.

Doses massivas de telenovelas, talk shows, futebol e outras alienações são o Instrumento. A Dominação - discreta e subrepticia - é o objetivo. A estéril e garbosa Academia, a VIPalhada e as elites intelectuais e económicas os cúmplices. Esta é a rede que urdiram contra nós e contra a qual temos todos o Dever de reagir. Hoje (não amanhã), na Rua, na Ação, na Vida concreta, exterior e operativa, envolvendo-nos todos em Movimentos, associações de bairro ou de interesses e - porque não? - fundando novos partidos ou regenerando os existentes a partir do seu podre e cada vez mais oco interior.





Rui Martins (membro da Coordenação Nacional do +D)

Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D

quarta-feira, 26 de junho de 2013

[Opinião +D] Participar faz bem ao EGO


 Interessam-me, de há já longa data, os modelos económicos que se centram nas pessoas, atores sociais. Rejeito a economia de função meramente instrumentalista, quase sempre ao serviço dos mais “hábeis”. Advogo, sim, a solidariedade, o associativismo, a cooperação e o cooperativismo como modelo económico e os princípios pelos quais se rege. Tal reside na convicção de que, a pessoa como valor, esta acima do valor do capital. Este, com o seu poder assimétrico, gera exclusão e pobreza. Defendo, na senda de Foucault, o poder relacional que tem como ADN, a PARTICIPAÇAO. Um modelo de desenvolvimento que, tendo o homem no centro, permite a cada um, o seu empoderamento tendo como princípios fundadores a liberdade e a autonomia. A democracia é a sua trave mestra. Contudo, as democracias representativas saldam-se, por vezes, por elevados défices de participação. Os eleitos, atuam e decidem, em alguns casos, mais pela sua ótica, do que pela dos que representam.

A crescente complexidade da era moderna dificulta, por sua vez, o sentido comunitário. Nos processos políticos o mesmo se passa. Ou existe alheamento, o que se prova pelos elevados níveis de abstenção nos atos eleitorais, ou, os que são eleitos como representantes talvez não envolvam suficientemente os que representam, sobretudo na tomada de decisão. Provam-no, recentemente, o secretismo ou a “sonegação” da informação, para tomada de decisões, em Conselho de Ministros. Foi noticiada a distribuição de um documento, com os assuntos a discutir (ao leader,  claro) numa tentativa, talvez de ofuscação, das decisões a tomar.

O poder é “a possibilidade de controlar algo ou alguém”. Nos grupos conduz aos jogos de soma zero em que, se uns ganham, outros perdem. O empoderamento pessoal, através da democracia participativa, implica todos na responsabilidade e na tomada de decisão. A participação cidadã anula as distâncias entre os cidadãos e o poder investindo, cada um, o seu poder próprio. E, se outras vantagens quisermos encontrar, podemos aferir, em termos de desenvolvimento pessoal, que a participação e o empoderamento aumentam a capacidade de ser construtor de ” destinos”, o reconhecimento dos demais e, em consequência, a subida do auto conceito e da autoestima. Em suma a democracia participativa faz que, cada um se sinta mais PESSOA.






Conceição Couvaneiro (Conselho Geral do +D)

Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.

[Opinião +D] Claridade

Quando nascem, os patecos fixam-se na primeira grande imagem em que encalham. É assim que, ás vezes, enganados, vão fazendo teatro para gáudio dos mafarricos que tiram partido da façanha. Isto tanto é útil para as Feiras Medievais que nascem como cogumelos de Norte a Sul do país como para arrebanhar votantes na devida altura. Claro, que nesta última façanha, são precisos artefactos pirotécnicos, musicais e carne assada bem regada. As nossas Candidaturas Independentes têm a responsabilidade de trazer ao de cima o que de mais elevado se encontra nos locais e têm de contrariar as tendências dos patarecos. É preciso que eles entendam e se esforcem, é preciso que tenhamos conteúdo e não só imagem para oferecer.



Carlos Seixas  (membro da Coordenação Nacional do +D)
Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

[Opinião +D] Nós, “reaccionários”, nos confessamos

É sempre constrangedor pormo-nos do mesmo lado da barricada de François Hollande, um dos maiores bluffs políticos dos últimos tempos. Mas, no seu recente diferendo com o nosso “compatriota” Durão Barroso, somos obrigados a fazê-lo, com toda a convicção.

Recordemos, sucintamente, os termos do diferendo: havendo, em cima da mesa, uma hipótese de acordo de livre comércio entre o espaço europeu e o espaço norte-americano, Hollande reclamou, contra Durão Barroso, uma “excepção para os produtos culturais”.

Como se sabe, não é esse o único entrave ao acordo de livre comércio, mas esse já seria suficiente para o travar de vez. Sabendo disso, Durão Barroso, formado na velha escola do esquerdismo primário, sabe usar as palavras que, retoricamente, mais doem: e nada mais dói a um homem de “esquerda”, como Hollande gosta de parecer, do que ser acusado publicamente de “reaccionário”.

Perante tal palavra “maldita”, há muita gente que fica confundida. Por isso, importa falar claro, usando até outra palavra igualmente “maldita”: proteccionismo. Sim, do que se trata é disso: de proteger a cultura europeia, melhor dito, as diversas culturas europeias, perante a força avassaladora da cultura pretensamente universal de matriz norte-americana.

Da parte do “revolucionário” Durão Barroso, de resto, já nada surpreende. Nem sequer nos espantaremos se, daqui a algum tempo, anunciar, com toda a pompa, a sua candidatura à Presidência da República. Acreditamos até que ele possa ganhar. Perante um povo que, de há muito, deixou de valorizar a sua cultura (para não parecer “reaccionário”), Durão Barroso será, decerto, o Presidente da República que melhor o representará. A menos que, entretanto, acordemos…






Renato Epifânio (membro da Coordenação Nacional do +D)


Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.

domingo, 23 de junho de 2013

[Opinião +D] Enquanto alguns candidatos às próximas eleições autárquicas se esmeram em esconder o respectivo símbolo partidário (tipo Filipe Menezes no Porto e Moita Flores em Oeiras), andam os independentes a trabalhar arduamente para arrecadar as assinaturas necessárias para formalizarem as suas candidaturas.

Enquanto alguns candidatos às próximas eleições autárquicas se esmeram em esconder o respectivo símbolo partidário (tipo Filipe Menezes no Porto e Moita Flores em Oeiras), andam os independentes a trabalhar arduamente para arrecadar as assinaturas necessárias para formalizarem as suas candidaturas. É curioso ver que quem tem partido (especialmente partido no governo) tenta passar como independente, quem verdadeiramente não tem partido esfola-se para conseguir milhares de assinaturas para poder ir a votos em Setembro. Todos os cidadãos, sejam ou não inscritos em partidos, devem ter o mesmo acesso ao exercício de cargos políticos. Admito até que a Constituição da República Portuguesa — goste-se ou não, é a que temos; se não gostamos dela, podemos sempre tentar mudá-la — garanta num dos seus artigos que todos os cidadãos, independentemente da sua raça, sexo ou crença religiosa, têm os mesmo direitos políticos. Que sentido faz então que alguns cavalguem em cima de partidos (alguns dos quais são meras ficções instrumentais) para serem candidatos à gestão dos seus concelhos e freguesias, enquanto outros têm de andar pelas ruas das suas cidades e vilas a encher folhas de assinaturas para conseguir ser admitidos como candidatos autárquicos pelos respectivos tribunais das comarcas? Mais justo e equilibrado seria reduzi-los - candidatos partidários e independentes - ao mesmo procedimento para apresentação de candidaturas autárquicas. Talvez fosse inteligente exigir, a todos, um número idêntico de assinaturas que justificasse as respectivas candidaturas. Seria uma forma de equiparar todas as candidaturas admitidas ao escrutínio, mas também de tornar os processos eleitorais mais vivos, obrigando todos os candidatos a passarem algumas semanas nas ruas, em contacto com potenciais eleitores e aí recolhendo as necessárias assinaturas. A democracia exige também que eleitos e eleitores se conheçam, falem e olhem nos olhos.


 
 
 
 
José Diogo Madeira (Membro da Coordenação Nacional +D)
Este comentário é da exclusiva responsabilidade do seu autor.

[Opinião +D] O Brasil está a acordar de um sonho lindo

A Nação brasileira, decididamente, acordou. Depois dos levantamentos das populações dos países do Magrebe, da Turquia, dos países intervencionados ou em processos de consolidação de contas públicas, eis que o Brasil entra em sobressalto, praticamente em todo o seu imenso território.

Apesar da economia brasileira ter crescido significativamente nas últimas duas décadas ( 2,2% na década de 90 e 4% na seguinte), e de ter reforçado as politicas de combate à pobreza, o povo brasileiro não perdoa aos partidos políticos que têm governado o país,  a debilidade persistente das estruturas de saúde, de educação e dos transportes públicos nas grandes cidades, nem  a perceção que têm sobre a  impunidade dos políticos corruptos, a nível federal e estadual.

As experiências de democracia participativa, em curso em diversos estados do Brasil, só podem estimular os brasileiros a consciencializar a perversão de prioridades politicas e levantarem-se, designadamente, contra investimentos de duvidoso retorno social, como ocorre com o plano de investimentos dos estádios de futebol para a organização de um conjunto de eventos internacionais (Campeonato do mundo de futebol de 2014 e Olimpíadas de 2016).

Bem pode a Presidente Dilma Roussef proclamar que “quero contribuir para uma ampla e profunda reforma política que amplie a participação popular” e defender "mecanismos de controlo e transparência" para que o cidadão tenha acesso aos dados e às despesas do governo.

Os políticos têm cada vez menos credibilidade, porque é cada vez maior o divórcio entre as promessas politicas não cumpridas e a realidade quotidiana dos cidadãos. Acresce que em 2012 a economia quase que estagnou, apesar dos avultados investimentos em curso. A frustração está achegar ao povo provavelmente mais otimista do mundo. Mesmo numa economia plena de oportunidades, como é o Brasil, parece que o Brasil está a acordar de um sonho lindo.

 

Fernando Lucas (membro da Coordenação Nacional do +D)

Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.

sábado, 22 de junho de 2013

[Opinião +D] “As árvores têm raízes. As pessoas têm pés”



Constitui um fenómeno emergente a proliferação de movimentos sociais independentes. Adquirem, hoje, particular expressão na política. Provam-no o elevado número de movimentos independentes que concorrem aos órgãos de soberania (a alguns apenas, porque outros lhes são vedados). A ligação social, que os políticos teimam não legitimar, surge das relações quotidianas e de uma tomada de consciência em prole dos objetivos que mobilizam as pessoas. Ancoram nas novas tecnologias, ganhando particular força, com as redes sociais. Não é mais possível uniformizar comportamentos, crenças e convicções, na sociedade em reconstrução. As sinergias estabelecidas assentam na liberdade, de cada um, em lutar pelo seu próprio bem e pelo de outrem. Afirmam-se na necessidade de exercer a cidadania, através da participação. No poder que emerge dos atores sociais e que a representatividade deixa de fora. São os designados “agrupamentos de facto” que não carecem de uma lógica contratualista. A recomposição deste novo tecido social, com base em diferentes conexões de curto ou largo espectro, assusta os políticos de tradição que, de forma perene, pretendem exercer o seu poder e a sua influência. Os políticos de carreira que tendem a nomear amigos, fazer negócios, perpetuar-se nos cargos. As associações que se constituem com base em reais problemas assentam na auscultação das pessoas, fomentam uma democracia mais abrangente e na integração dos seus membros. Quando tal não ocorre surgem fenómenos de exclusão, violência, mal-estar, recrudescimento mesmo de suicídios… Talvez estes movimentos possam assentar em lealdades mais fluídas, complexas e menos duradouras, mas são em geral mais fortes e atuantes. É necessário aceitar, sem rebuços, uma ordem social, menos conservadora e estruturalista. A democracia não é apenas representativa mas um espaço em constante reconstrução. Tal enriquece a cidadania e decorre de uma sociedade com maior maturidade. Relativiza o centro de gravidade dos partidos cujas ideologias implicam ostracismos por assentarem na lógica da fidelidade. Não há retorno neste evoluir social que se diferencia do anterior, que conserva ainda a tradição e o espirito associativo da lei Francesa de 1901, secundado pela nossa tradição associativa. O caminho é para a frente. É que “As árvores têm raízes. As pessoas têm pés”.






Conceição Couvaneiro (Conselho Geral do +D)

Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

[Opinião +D] Guerra Fria

Barac Obama pede à Rússia que reduza o seu arsenal nuclear. Pedido feito durante a visita à Alemanha, que é potência com interesses sempre bem definidos em assuntos bélicos. A Rússia, de resposta pronta e irónica, fez lembrar ao Presidente americano que a sua pátria investe em equipamento pró-nuclear. Há nestas notícias um dè-já vu desinteressante. Quem explica, de forma racional e razoável a guerra-fria? Não sou só eu que não encontra a razão pela qual duas potências que distam directamente uma da outra, poucas milhas do Pacífico, precisam de dar a volta ao mundo e envolver os países que encontram pelo caminho para se guerrearem! Porque me parece que nada tem a ver com animosidades entre eles? Os paradigmas onde assentou a guerra-fria estarão mesmo moribundos? Se a América se ergueu a produzir guerras em terra alheia, o que impedirá a Rússia de percorrer o mesmo caminho? Grandes potências também estão nesse caminho, como a Índia, a China e outros mais discretos aos olhos do mundo. Querer a fartura material, o desenvolvimento tecnológico e científico do século XX e não querer as suas mães – as Guerras – é como querer comer as omoletas e continuar a ter os ovos inteiros! Não há ingenuidade para crer que os paradigmas agora reinantes sejam vegetarianos puros, para dispensarem omoletas. Por isso, com ou sem nuclear, a única coisa certa e criada pelo mundo, é a guerra. Diz um provérbio japonês “quem quer paz, prepara-se para a guerra”. Enquanto indivíduos, só a consciência da utilidade da cidadania nos pode preparar para as guerras.

 
Maria Leonor Vieira (Membro da Coordenação Nacional +D)
Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

[Opinião +D] O Gatilho


Talvez não tenha ainda chegado o tempo. Talvez estejamos todos ainda longe do momento em que a mente de um número suficiente de cidadãos se abre e adere a uma renovação da democracia pela via directa e participativa. Talvez a crise económica, financeira e de valores não seja ainda demasiado forte para fazer despertar a sociedade do torpor. Talvez os Portugueses estejam ainda demasiado condicionados por décadas de bovinização mediática. Talvez, talvez, talvez.

Ou talvez tenha que ser mesmo assim: a urgência do momento faria crer que este seria o momento ideal para lançar um projeto nacional de renovação democrático através da introdução de elementos de democracia directa e participativa no actual sistema democrático. Mas a verdade é que esta caminhada parece cada vez de mais longo fundo do que um sprint. Os tempos ainda não estão maduros para que ocorra uma adesão massiva a esta revolução discreta e pacífica que se avizinha...mas hoje - como nunca antes no passado recente - existe uma ebulição, uma insatisfação crescente dos cidadãos, para com o Sistema que ainda não está a ser canalizada nem focada.

Falta um gatilho. Algo que capitalize esta insatisfação dispersa, esta energia sem foco nem direção, que se esgota em protestos de rua mais ou menos inconsequentes (e que a Situação adora, porque distraem as massas). Não sabemos o que será esse gatilho. Sabemos que Será, mas não sabemos quando, nem onde, nem o que Será. Mas Será.

Estejamos atentos.





Rui Martins (membro da Coordenação Nacional do +D)

Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D

segunda-feira, 17 de junho de 2013

[Opinião +D] Governo empenha-se em acelerar o desemprego e desarticular o Estado


O Governo acaba de solicitar a todos os Ministérios um plano, a entregar até ao final de julho, dos trabalhadores em funções públicas a enviar para a requalificação – o outro nome que o Governo passou a designar o desemprego diferido.

Não tenho qualquer hesitação em aceitar a necessidade de reforma das estruturas da administração pública, se estiverem em causa preocupações com a satisfação universal dos serviços públicos e o redimensionamento lógico dos serviços ou a eficiência das organizações que o prestam, estejam eles nos setores público, privado ou social.

Mas o que cada vez é mais evidente e preocupante, é que o governo limita-se a aplicar uma aritmética contabilística de meros cortes nos recursos, sem reformular os modelos de prestação dos serviços. Nestas condições, vai prosseguir o afastamento dos trabalhadores com vínculos mais vulneráveis, e expostos à discricionariedade das chefias, independentemente do nível de competências e desempenho de que sejam capazes.

Ora, se o país é governado por políticos que paulatinamente vão perdendo credibilidade entre os seus apaniguados, se cresce o contingente daqueles que sendo da mesma área politica se demarcam ou o criticam mesmo em público, designadamente, desta ideia peregrina de acrescentar desemprego público quando o seu nível global está horrorosamente elevado, emerge a necessidade de atuação de uma válvula de recurso do regime, naturalmente, da Presidência da República.

Mas se a atuação da Presidência da República se encontra em disputa com o Governo sobre quem é o órgão de soberania mais inconsequente e irresponsável, então, os cidadãos têm de se consciencializar que estão por sua conta. Ou agem de modo organizado para pôr termo a este Governo, ou o retrocesso civilizacional em curso se consolidará.


 

Fernando Lucas (membro da Coordenação Nacional do +D)

Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.


domingo, 16 de junho de 2013

[Opinião +D] Que música deve tocar a banda do Titanic?


Mais uma greve, agora na Educação. Mas, de ambos os lados, o que se discute é a música que deve tocar a banda do Titanic. Como se isso impedisse o nosso afundamento colectivo…

Olhemos então, de frente, a realidade: por razões desde logo demográficas, há cada vez menos jovens no nosso sistema de ensino e cada vez mais pessoas qualificadas para ensinar. Logo, o desemprego dos professores só pode aumentar. Independentemente do contexto económico em que estamos e dos acordos com a Troika. Também aqui não há milagres.

O caso do desemprego, cada vez mais massivo, dos professores em Portugal é, de resto, um excelente exemplo da miopia estratégica dos nossos partidos e sindicatos. Pois o que há a fazer é óbvio e entra pelos olhos dentro, apesar de ninguém falar disso.

Existem vários países lusófonos que assumem, publicamente, a necessidade de professores qualificados para ensinar (e não apenas a língua portuguesa). O que o Governo deveria fazer era estabelecer protocolos com os Governos desses países de modo a corresponder a essa procura. Obviamente, haveria questões a discutir e a solução não poderia ser a mesma para todos os países: desde logo, na forma como esses professores seriam pagos.

No limite, porém, mesmo que alguns desses países (como, por exemplo, a Guiné-Bissau) não pudessem, de imediato, partilhar esses custos, ainda assim valeria a pena: esses professores teriam emprego e o futuro da língua portuguesa ficaria bem mais garantido. Seria pois um investimento a médio-longo prazo que interessaria a todos. E que teria, mais cedo ou mais tarde, retorno, inclusive no plano económico. É assim tão difícil percebê-lo?







Renato Epifânio (membro da Coordenação Nacional do +D)


Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.

[Opinião +D] Nos difíceis tempos que correm, temos de ter intervenção, ação, posição assumida

Nos difíceis tempos que correm, temos de ter intervenção, ação, posição assumida. Temos mesmo! Outra coisa não faz qualquer sentido…

E reparem que disse “difíceis tempos” e não tristes ou maus tempos. Porque são somente as dificuldades que nos são postas no caminho para enfrentarmos que levam a que façamos algo, a que não sejamos passivos, a que tomemos a dianteira para enfrentar tudo e todos.

Digo isto, mas depois ao reler o escrito, penso naqueles, vários mas felizmente não muitos, que perante todos os desafios que o +D está a assumir nas candidaturas autárquicas em Lisboa, em Santarém e noutros locais deste nosso país, continuam a pensar (ou talvez a não pensar mas é nada…) que já não vale a pena ter garra, que já não vamos a lado nenhum e que por isso o melhor é mesmo parar e desistir de tudo… Será que têm consciência que esta é só a posição mais cómoda?

A estes apetece-me dizer, e muitas vezes digo porque temos que abanar as consciências, que então já não têm qualquer papel neste Mundo, que já deixaram de viver! E isto NÃO NOS PODE NUNCA ACONTECER!

Vá lá, VIVAM, EXISTAM! E isso não é só nem sobretudo passar pelas facilidades…








Francisco Mendes (Membro da Coordenação Nacional +D)

Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.


sexta-feira, 14 de junho de 2013

[Opinião +D] Profecia

Parece que há um aforismo grego clássico que diz que «os deuses enlouquecem aqueles que querem perder». Isto não vem a propósito da gaffe meteorológica de Vitor Gaspar, nem das gargalhadas generosas do seu colega Álvaro Santos Pereira sobre o tema. É sobre a radicalização do governo, que congelou o pagamento do subsídio de férias aos funcionários públicos e manteve intransigentemente o exame de português do 12º ano para o dia 17 de junho. Este tipo de governação quero, posso e mando mostra que o primeiro-ministro está interessado em fazer subir o stress social. Como se os portugueses não estivessem cansados da austeridade, dos sucessivos aumentos fiscais impostos pelo governo/troika e do desemprego galopante, o executivo parece apostado em aumentar ainda mais os actuais níveis de tensão. Quando seria prudente ser flexível nesses temas, para reduzir a conflitualidade política e social, enfrentar a greve geral CGTP/UGT de 27 de junho e as eleições autárquicas de setembro, o governo faz no sentido inverso. O que pretenderá Pedro Passos Coelho com esta estratégia? Mobilizar os funcionários públicos para a greve geral? Provocar uma derrota assinalável ao seu partido nas autárquicas de Setembro? E com isso, ganhar motivos para apresentar a sua consequente demissão? E se é assim, quererá isto dizer que o primeiro-ministro percebeu que a economia portuguesa se tornou francamente irrecuperável nos próximos anos e prefere atirar agora a sua toalha ao chão? O clube de Bilderberg é um bom barómetro das evoluções políticas de cada país aí representado. E os convidados portugueses da última reunião desta benemérita organização, na passada semana em Londres, foram António José Seguro e Paulo Portas. Não deve ter sido por acaso.



 
 
 
 
José Diogo Madeira (Membro da Coordenação Nacional +D)
Este comentário é da exclusiva responsabilidade do seu autor.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

[Opinião +D] Injuriar o PR

Chamar “ladrão” ou “palhaço” ao Presidente da República, vale aos autores a perseguição da máquina judicial. Embora alguns ainda afirmem a independência da justiça, vemos neste concreto que a Lei se ergue em defesa do representante da República e torna os ditos em injúrias agravadas.

Mas se o injuriador esclarecer ou explicar e o ofendido aceitar a explicação, o tribunal dispensa de pena. Ora nesta guerra não declarada em que já vivemos há mais de cinco anos, esclarecer porque se sente vontade de chamar nomes a quem quer que represente o poder instalado, é desnecessário.

Quando um cidadão não se contém e chama mesmo nomes, desabafa, descarrega o que o oprime e deprime, o que só por si já é um ato de saúde preventiva. Se as relações entre o Estado e o Cidadão andassem aceitáveis, usar a Lei faria sentido pois nem o mais easy going gosta que chamem nomes a quem o representa. Mas não parece que os cidadão se sintam representados por quem detém o poder, o que é agravado pela impossibilidade de participar. A ilusão que de 4 em 4 anos lhe é servida como democracia, só serve para o que se tem hoje.

Resta ao Povo o exercício da pouca liberdade e que passa mesmo pelo desabafo! Incomoda? Quando um exercício de liberdade incomoda os concidadãos é porque estes não estão preparados para a usarem.


Maria Leonor Vieira (Membro da Coordenação Nacional +D)
Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

[Opinião +D] Quebrar o MEDO e MUDAR!

No discurso de Ramalho Eanes em 10 de Junho de 1979, a que Marta Reis faz referência no Jornal i, sobre “Portugal, Camões e as Comunidades” são apontadas as mudanças, para melhor, que se verificavam em Portugal, que antes era um País periférico, pouco reconhecido, dependente dos auxílios externos, deprimido e sem esperança. Alertava, no seu discurso, para a necessidade de transparência e a recusa de atos de corrupção como sendo estes o principal fator para o descrédito do País, mal-estar social, desvirtuamento da democracia e obstáculo ao Progresso.

Volvidas quase quatro décadas, de se ter instaurado a democracia, a que é que se assiste, hoje? Um Pais altamente endividado, ainda mais deprimido, dependente do exterior, com a soberania comprometida e onde nem sempre é bom viver. Para os problemas que hoje se colocam, tanto locais como globais, não se vislumbram, de imediato, saídas. Portugal, Incapaz de resistir ao impacto das conjunturas externas, cada vez mais espoliado do seu capital humano que procura, noutras paragens, o que não conseguiu que lhe fosse garantido na sua TERRA, exige que rapidamente que nos mobilizemos em prole de uma cidadania participativa. Que vislumbremos novos horizontes! Que caminhemos no FUTURO, ancorados num passado de conquistas derrotas e vitórias, mas glorioso. A necessidade de ultrapassar fronteiras levou a que “ dessemos novos mundos ao mundo”. Se recuarmos cinco séculos verificamos que, na origem da gesta seiscentista, fatores económicos lhe estiveram subjacentes mas, em simultâneo, a galhardia das decisões e outros valores não tangíveis se foram afirmando, mundo fora, como marca de Portugalidade. Em que somos diferentes, hoje? Abrimos para o mundo mas ficamos fechados em nós, (talvez demais). Assustam-nos os “Velhos do Restelo” e tolhe-nos o medo de passar o “Cabo Bojador”. Esperamos, ainda, D. Sebastião. Duvidamos que o poder de mudar reside em cada um de nós. É o que Hofstede (1994) considera ser “a distância ao poder” que leva a uma situação de cabeça pendida entre os ombros, tal como é representado por Rafael Bordalo Pinheiro, na sua criação da figura do Zé Povinho. Permitimos assim ser manipulados pelos que decidem sem exigir o direito de ser parte. Cedemos facilmente ante as forças externas que nos maniatam, tolhem e bloqueiam. Por isso, ainda que em situação de descontentamento, asfixia social e sofrimento, como a atual, alguns prognosticam a continuação na continuidade. Dizem eles que as autárquicas não serão uma hecatombe dos que têm sido a razão do descontentamento e do sufoco em que vivemos. Não sei se é uma questão de ADN, este sentimento de quietude e conformismo, de “brandos costumes”, Tal não será, pois, este POVO ESFORÇADO E CAPAZ de OUSAR, se afirmou no mundo como arauto do conhecimento científico e com desempenhos de qualidade assinalável, em todos os domínios. Contudo, novas dinâmicas sociais vão também tomando lugar. As questões da cidadania surgem como imperativo da afirmação dos que acreditam que as mudanças têm que partir de si e que o poder exige participação efetiva, para a construção de um espaço potencializador de ação, de mudança. É preciso, vencer o comodismo, quebrar o MEDO, Afirmar as convicções. Como no passado, apostar no FUTURO a construir. O que é, afinal, preciso MUDAR?







Conceição Couvaneiro (Conselho Geral do +D)

Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.

terça-feira, 11 de junho de 2013

[Opinião +D] Estado, nomeações, isenção e transparência


O DN revelou esta semana o recorde de 4463 nomeações realizadas pelo atual governo, entre o staff dos gabinetes ministeriais (23%), Dirigentes (36%) e Grupos de Trabalho e Outros (41%).

Quando este governo se declarou com um empenhamento inédito nos processos de recrutamento da administração pública, favorecendo o mérito nos recrutamentos e criou há cerca de um ano a CReSPA (Comissão de Recrutamento e Seleção para a Administração Pública) para atuar com total independência do governo, parecia que algo no Estado iria mudar e essa mudança iria na direção certa.

Lamentavelmente, e à boa maneira portuguesa, esta comissão prometeu muito, mas garante muito menos. É que as 12 avaliações que já deram lugar a posições de reserva não foram nem serão publicadas, porque  “a avaliação é vedada ao conhecimento público se a personalidade em causa não autorizar a sua divulgação”.

Ora, não é este o sentido de transparência que entendemos ser exigível no modo de funcionamento do Estado. Então para quê a criação daquela Comissão? Que faz o governo quando as apreciações não são satisfatórias? Que impacte tem a CReSPA de facto, no processo de seleção dos gestores públicos? Onde está reconhecido, de facto, a prevalência do interesse público?

O recrutamento para o exercício de cargos de gestão pública deve, por princípio, ser escrutinado e tornado público os resultados das apreciações dos organismos competentes, não se compreendendo exceções por conveniência dos visados.


 

Fernando Lucas (membro da Coordenação Nacional do +D)

Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.



segunda-feira, 10 de junho de 2013

[Opinião +D] 10 de Junho

Passa hoje mais um Dia de Portugal, num ano em que, arrisco dizê-lo, Portugal nunca esteve tão mal.

Decerto, já esteve pior, no passado: simplesmente, no passado, em todos os passados, por piores que tenham sido, e alguns foram-no, houve sempre um futuro, um horizonte de futuro, uma esperança, por mais que ténue, de que a situação, mais cedo ou mais tarde, iria melhorar. Como sempre acabou por acontecer.

Hoje, ao invés, todos sabemos que a situação não irá melhorar – pelo menos, no curto-médio prazo. Estamos cada vez mais atolados numa União Europeia que é já um cadáver adiado e perdemos entretanto a liberdade de sairmos, pelo nosso pé, deste barco que se afunda…

Como sempre, há alternativas, em particular no espaço lusófono – mas mesmo essa alternativa não permite uma melhoria da situação no imediato. No imediato, só podemos contar connosco próprios. Para isso, porém, teremos que começar por ser uma Comunidade. Uma Comunidade que respeita a sua história, que tem consciência da situação presente e que, não obstante, mantém a esperança. Neste 10 de Junho, comecemos por aí.







Renato Epifânio (membro da Coordenação Nacional do +D)


Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.

domingo, 9 de junho de 2013

[Opinião +D] António em "Caminho Aberto": "Em graus diversos, consoante a natureza do próprio partido, da consciência das demais instituições da sociedade civil, os sistemas político e eleitoral, os partidos foram assumindo um papel crescente na mediação entre eleitos e eleitores, tendendo nas modernas democracias representativas a acumular os papéis de mandante e mandatário"

"Em graus diversos, consoante a natureza do próprio partido, da consciência das demais instituições da sociedade civil, os sistemas político e eleitoral, os partidos foram assumindo um papel crescente na mediação entre eleitos e eleitores, tendendo nas modernas democracias representativas a acumular os papéis de mandante e mandatário, substituindo-se ao eleitorado na designação e ao deputado no exercício do mandato, assumindo ainda a função de garante da relação, mediante a decomposição da responsabilidade política em disciplina partidária.
Quando sete mil militantes do CDS decidem apropriar-se do mandato conferido por cinco por cento dos portugueses, não podemos deixar de nos lembrar dos avisos que, de Robert Michels a Norberto Bobbio, nos chamaram a atenção para os riscos da oligarquia partidária como perversão da democracia representativa, em resultado da apropriação pelo cidadão militante dos poderes do cidadão eleitor."


Antonio Costa
Caminho Aberto

Ou seja, é o próprio António Costa, presidente da autarquia lisboeta e putativo candidato à presidência do PS, que admite que os partidos extravasaram o seu papel inicial e que ocuparam um papel cada vez maior no sistema democrático.

De facto, ou os partidos se renovam profundamente, incorporando mecanismos de democracia direta ou participativa para com os seus próprios militantes e assim colmatam a distância criada entre os seus aparelhos (cada vez mais profissionalizados) e os seus militantes ou nesta impossibilidade é a sua própria existência que deve ser questionada e então coloca-se a grande questão: num sistema democrático, entre os cidadãos e o exercício do poder político tem mesmo que existir o partido político? A existência de candidatos independentes nas eleições presidenciais e nas autárquicas e a forma relativamente escorreita e desprovida de problemas indica que esse papel monopolista dos partidos não é obrigatório. Pelo contrário, para renovar a democracia e corrigir a sua possessão pelo sistema político-partidário, a redução desse monopólio pode ser uma alternativa.

E uma forma de reactivar a democracia, de aproximar o cidadão do eleito poderia ser pela designação de um número específico de assentos no Parlamento para deputados independentes, eleitos num círculo nacional. Outra forma poderia ser pela criação de uma segunda câmara (por exemplo, um "senado") eleito da mesma forma. Mas uma ou outra metodologia estão a ser estudadas ou ponderadas por algum partido, pequeno ou grande?... não... todos os partidos com assento parlamentar comportam-se como se não vivêssemos já numa grave crise de credibilidade e de representação democrática. Como se a mesma, com a decorrente transformação da democracia numa partidocracia fosse um sinal de normalidade e não uma prova de crise grave da própria democracia.




Rui Martins (membro da Coordenação Nacional do +D)

Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D