sábado, 22 de junho de 2013

[Opinião +D] “As árvores têm raízes. As pessoas têm pés”



Constitui um fenómeno emergente a proliferação de movimentos sociais independentes. Adquirem, hoje, particular expressão na política. Provam-no o elevado número de movimentos independentes que concorrem aos órgãos de soberania (a alguns apenas, porque outros lhes são vedados). A ligação social, que os políticos teimam não legitimar, surge das relações quotidianas e de uma tomada de consciência em prole dos objetivos que mobilizam as pessoas. Ancoram nas novas tecnologias, ganhando particular força, com as redes sociais. Não é mais possível uniformizar comportamentos, crenças e convicções, na sociedade em reconstrução. As sinergias estabelecidas assentam na liberdade, de cada um, em lutar pelo seu próprio bem e pelo de outrem. Afirmam-se na necessidade de exercer a cidadania, através da participação. No poder que emerge dos atores sociais e que a representatividade deixa de fora. São os designados “agrupamentos de facto” que não carecem de uma lógica contratualista. A recomposição deste novo tecido social, com base em diferentes conexões de curto ou largo espectro, assusta os políticos de tradição que, de forma perene, pretendem exercer o seu poder e a sua influência. Os políticos de carreira que tendem a nomear amigos, fazer negócios, perpetuar-se nos cargos. As associações que se constituem com base em reais problemas assentam na auscultação das pessoas, fomentam uma democracia mais abrangente e na integração dos seus membros. Quando tal não ocorre surgem fenómenos de exclusão, violência, mal-estar, recrudescimento mesmo de suicídios… Talvez estes movimentos possam assentar em lealdades mais fluídas, complexas e menos duradouras, mas são em geral mais fortes e atuantes. É necessário aceitar, sem rebuços, uma ordem social, menos conservadora e estruturalista. A democracia não é apenas representativa mas um espaço em constante reconstrução. Tal enriquece a cidadania e decorre de uma sociedade com maior maturidade. Relativiza o centro de gravidade dos partidos cujas ideologias implicam ostracismos por assentarem na lógica da fidelidade. Não há retorno neste evoluir social que se diferencia do anterior, que conserva ainda a tradição e o espirito associativo da lei Francesa de 1901, secundado pela nossa tradição associativa. O caminho é para a frente. É que “As árvores têm raízes. As pessoas têm pés”.






Conceição Couvaneiro (Conselho Geral do +D)

Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.

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