Um amigo meu, pequeno empresário, contou-me que recentemente
foi ao banco pedir um empréstimo de cinco mil euros. Eram tamanhas as taxas e
as comissões associadas, que este financiamento ficou inviabilizado. Uns
poucos dias depois, um outro banco ligou-lhe para lhe propor – enquanto cliente
pessoal – um crédito dos mesmos cinco mil euros, para o efeito que ele quisesse: uma nova televisão, uma scotter ou
mesmo umas férias em Barbados. Ainda nem escapamos da última crise bancária –
todos os dias, os jornais nos falam até à exaustão do BPN, do BPP, do Banif,
dos prejuízos do BCP e da CGD, dos discursos do CEO do BPI , dos esquecimentos fiscais
do CEO do BES – e a banca continua a servir para emprestar para o
que não interessa, dificultando o investimento em coisas economicamente produtivas.
Todos sabemos que a banca é o sector mais protegido da economia portuguesa:
privatização dos lucros e socialização dos prejuízos. Se a supervisão bancária funcionasse
(e o Banco de Portugal é, nesse capítulo, uma vergonha), a banca nacional não
seria este ninho de negócios opacos, fuga fiscais e buracos negros. Neste tema, só há dois caminhos: a nacionalização do
sistema bancário por completo (o que tem custos insuportáveis para os
contribuintes) ou uma verdadeira varridela na supervisão bancária – desde logo
criando um fosso entre supervisores e supervisionados (que atualmente são mais
ou menos os mesmos, circulando impunemente de um lado para o outro). É preciso deitar lixívia
na banca – mata os germes e limpa a sujidade. Sem isso, a dona branca continuará
a rir-se lá no seu túmulo.
José Diogo Madeira (membro da Coordenação Nacional do +D)
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