sexta-feira, 9 de maio de 2014

[Opinião +D] Nau Catrineta

O facto de a saída da troika ser limpa não é uma grave novidade - este é o modelo preferido pelos nossos parceiros europeus, preocupados em evitar mais garantias sobre dívidas de terceiros (no caso, a nossa). Pode parecer honroso para o governo ter fechado o programa de intervenção externo com um regresso directo aos mercados, sem a necessidade de mais ajudas ou alcavalas de terceiros. Mas talvez não tenha sido uma escolha, mas uma imposição de quem manda na Europa, já sem paciência e capacidade para explicar internamente que é preciso passar mais um cheque aos portugueses. A situação financeira do nosso país é ainda débil, a braços com uma astronómica dívida pública e com poucas perspectivas de crescimento económico exuberante. Um qualquer abanão nos mercados financeiros internacionais (a crise na Ucrânia, os recorrentes abalos nas economias emergentes, um estoiro nas cotações da bolsa) porá imediatamente em causa a nossa capacidade de emitir obrigações do Tesouro. E, convenhamos, com uma dívida pública que supera os 130% do PIB, pouca gente estará na disposição de nos emprestar (sem especular) um único euro, quando a euforia à volta das obrigações dos países do sul da Europa se dissipar. É muito pouco provável que nos aguentemos sozinhos, durante os próximos anos, no volátil mundo das finanças globais. Teria sido preferível, mesmo que mais humilhante, despedirmo-nos da troika com um conforto adicional nas mãos (um programa cautelar). Estamos mais ou menos como uma tripulação desavinda num barquinho à deriva num oceano turbulento. Se não encontramos quem nos dê a mão em caso de aflição, as probabilidades de a nau Catrineta voltar a meter água são bem reais. 



José Diogo Madeira (membro da Coordenação Nacional do +D)

Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.

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