terça-feira, 6 de maio de 2014

[Opinião +D] "Enlivremos" liberdade.

Dia 5 de Maio, dia em que redigi estas linhas, foi o dia da língua Portuguesa e da cultura da CPLP, que foi decidido ser festejado em todo o espaço lusófono. Regozija-mo-nos porque temos uma língua, património ancestral remontando, nos seus primórdios, há cerca de dois mil ano atrás e que a seguir se expandiu, de forma universal. Sendo a 5ª língua mais falada no mundo e a 3ª no espaço Europeu, tem vindo a transmutar-se, ajustando-se às novas realidade, aos novos espaços. Não só tem sido enriquecida por novos vocábulos como, o sentido destes se tem vindo a alterar. Embora se diga, com frequência, que "em Português nos entendemos" tal nem sempre corresponde à verdade. A questão do entendimento toca também outras dimensões que não apenas da língua. Esta, por sua vez, não raro se vê adulterada quer por má utilização como, em alguns casos, pelo purismo de se negar que, para em Português nos entendermos todos (cerca de 280 milhões de falantes) temos que consensualizar acordos, para permitir que a sua circulação se operacionalize melhor. Como qualquer organismo vivo sofre com o decorrer dos tempos, inevitáveis alterações, vestindo roupagens mais ou menos coloridas. Cresce e emancipa-se, continuamente. Mia Couto, um dos maiores "desconstrutores" desta língua que utiliza com arte e  mestria, refere a evolução da mesma, da seguinte forma: " A nossa língua comum foi construída por laços antigos, tão antigos que por vezes lhe perdemos o rasto". Mapeadora de espaços e distancias traçou rotas e criou pluri-pátrias e muti mundos, que se expandiram, universalmente, gerando úteros de afetos e de eternidade. Esta língua que canta perigos e guerras, as musas e o amor, é a língua de Camões. Herói ou feiticeiro de destinos sombrios fez-se ao mar das suas e nossas inquietações e, ele próprio como os portugueses de hoje, passou pela provação de um destino sombrio. Partiu, voltou e viveu pobre. Cantou a alma de um povo que eternizou ante a falta de reconhecimento e a ignorância "dos nobres".
Festejou-se, este dia da língua Portuguesa com o lançamento de um dicionário com mais de 265 mil novas palavras ou expressões. Nele se incluem os chamados estrangeirismos, palavras com novas formações e, sobretudo, as que são usadas em linguagem tecnológica. Não sei se foi incluído o termo "inconseguir" mas, quase de certeza que nele figurará TROIKA, fazendo jus à "saída limpa". Como refere Mia Couto, numa das suas obras, o português, honradamente, "é obeditor aos mandos". É um "obeditado". Mas, Eureka, foi lançado também concurso com o tema: " TEM A PALAVRA...."  quem diria (?) com vista a acrescentar novos termos à língua portuguesa. Segundo informações uma as palavras que surgiu foi "enlivrar". Pode ser que se enlivre, breve, a palavra "Libera nos" de quem nos ofende e prejudica e se reescreva, liberdade.  
Maria da Conceição Serrenho Couvaneiro (Conselho Geral do +D)
Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina. 

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