sexta-feira, 16 de maio de 2014

[Opinião +D] Cuidado, Lisboa!

E Lisboa tornou-se, assim de repente, numa Meca do turismo internacional. A baixa pombalina está pejada de turistas e as áreas circundantes também recebem um fluxo imparável de visitantes. Claro que, em tempos de crise, há que agarrar as oportunidades e os voos low cost permitem que milhões visitem agora a capital portuguesa. Mas esta bênção pode ser a nossa desgraça. À semelhança do que já aconteceu noutras grandes metrópoles europeias, como Madrid e Barcelona, o turismo também provoca enfado. Os lisboetas já são uma minoria na rua Augusta e os preços das comidas e das casas começam a inflacionar-se nas áreas mais centrais. Atenção, este não é um libelo anti-turismo, antes pelo contrário. Lisboa tem, como grande oportunidade e destino, um sentido cosmopolita - mais e mais pessoas virão de fora para a visitar e até para aqui viverem permanentemente. O que é necessário é planear, em tempo, o projecto turístico que queremos. Não será bom, nem para os habitantes nem para os visitantes, que esta cidade se transforme num grande parque temático, dividido por atracções chamadas Alfama, Mouraria, Intendente, Baixa, Chiado, Estrela e Belém. Isso esgotaria rapidamente a galinha dos ovos de ouro e a paciência dos alfacinhas, que merecem viver tranquilamente na sua cidade. Os responsáveis políticos devem, atempadamente, construir um plano para Lisboa, que antecipe convenientemente quantos e que tipo de turistas queremos receber, onde os vamos alojar e alimentar, que atracções teremos para serem visitadas. Deixar apenas ao mercado o desenvolvimento turístico de Lisboa não vai resultar – rapidamente a oferta será excessiva (só hotéis novos em construção na baixa pombalina, conto seis), forçando a quebra dos preços e degradando a qualidade final do produto. Depois da euforia, é tempo de planeamento e estratégia para esta vocação de Lisboa.

José Diogo Madeira (membro da Coordenação Nacional do +D)

Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.

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