segunda-feira, 12 de maio de 2014

[Opinião +D] A(s) Direita(s), a(s) Esquerda(s) e a Lusofonia

São conhecidos os relatos dos astronautas da sua experiência de visionamento do nosso planeta. Vista de fora, a Terra é apenas um planeta, o “planeta azul”. Vista de fora, a olho nu, não há fronteiras nem diferenças. Apenas, quanto muito, entre o mar e a terra, mas não entre os continentes, nem entre os países, nem entre as culturas, nem entre as línguas, nem entre os humanos, nem entre os humanos e os animais, nem entre estes e os demais seres vivos, nem entre estes e todos os demais seres. Não há fronteiras nem diferenças. Tudo é apenas um.
Há quem considere que essa é verdadeira visão do nosso planeta. Nada mais falso. Numa visão extra-galáctica, a olho nu, também a diferença entre o nosso planeta e os demais se anularia. Tudo é pois uma questão de perspectiva. Quando se vê algo de fora, não apreendemos as diferenças e tudo nos parece irrelevante. Até a mais alta montanha deixa de ter relevo relativamente à mais chã planície. Numa visão lunática, literal e metaforicamente, a vida de cada um de nós tem tanto valor quanto, por exemplo, a vida de uma formiga.
Vem esta breve reflexão a propósito de um livro editado recentemente: Ideias e Percursos das Direitas Portuguesas: as raízes profundas não gelam? (coordenação de Riccardo Marchi, Texto Editora, 2014). Porque também aqui – a respeito dessa clássica diferença entre “esquerda(s)” e “direita(s)” – tudo é, em grande medida, uma questão de perspectiva.
Vistas de fora, com efeito, não há diferenças significativas entre as várias direitas e as diversas esquerdas. Há apenas esquerda e direita.
Vistas de fora, todas as pessoas de direita são iguais – no fundo, dizem, são todos “fachos” – e também não há significativas diferenças entre as pessoas de esquerda – no fundo, garantem-nos, são todos “comunas” e/ou “anarcas”.
Vistas por dentro, porém, a verdade é bem diferente. A respeito da(s) direita(s), como neste livro bem se prova, há correntes tão diversas que a grande questão que se levanta, em última instância, é a de saber se todas essas correntes podem e devem ser referidas por esta única etiqueta: “direita”. O mesmo poder-se-ia dizer da “esquerda”. De forma muito esquemática, diria que há correntes de esquerda que estão mais próximas de algumas correntes de direita do que de outras correntes de esquerda, e vice-versa: há esquerdas e direitas libertárias ou, pelo menos, liberais, tal como há esquerdas e direitas comum(itar)istas…
Não querendo confundir ainda mais quem, por inércia, pretende continuar a ver o mundo a partir dessa dicotomia, destaco, neste livro, o último ensaio: “O Império contra-ataca: uma ideia para as direitas do futuro”, de José Pedro Zúquete. Nele se fala da “lusofonia” e do papel do MIL: Movimento Internacional Lusófono na defesa e difusão dessa ideia. A certa altura, pode ler-se: “talvez então, o «inimigo natural» dos etnonacionalistas não seja a extrema-esquerda, mas a paixão lusófona, sobretudo na sua versão mais arrebatada, como o MIL” (p. 420). Confusos?
Eu não. Acrescentaria apenas: a ideia de lusofonia ou, mais exactamente, de trans-nacionalismo lusófono, não é apenas a “ideia para as direitas do futuro” como para as esquerdas que se preocupam, de facto, com o futuro de Portugal. Também as há.

Renato Epifânio (membro da Coordenação Nacional do +D)

Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina. 

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