domingo, 14 de abril de 2013

[Opinião +D] Um Governo remodelado para um País adiado


À crítica generalizada à ineficácia das politicas do Governo para lidar com o défice orçamental excessivo e a ultrapassagem do limite critico de120% do valor do PIB no endividamento público, e face à demissão de um Ministro, o primeiro-ministro remodelou o governo.

Grande momento para o Governo renovar a esperança dos cidadãos, após quase dois anos de sacrifícios infligidos às populações, mesmo nas de maior vulnerabilidade económica, agravando a pobreza a níveis inesperados e o desemprego para patamares socialmente inaceitáveis.

Recorde-se o que veio afirmar agora Ashoka Mody - ex-representante do FMI na troika que coordenou o reajustamento da Irlanda: a receita da austeridade foi a opção errada, e havia outras alternativas em consideração. “A opção de austeridade foi um erro, porque os riscos de fracasso eram muitos e, por isso, a Irlanda e Portugal estão a pagar uma fatura muito pesada”

Sobre a gestão do ajustamento das economias com défice excessivo, declarou também a Presidente do FMI, Christine Lagard, que: “ um elevado nível de emprego é a melhor garantia de uma economia vibrante e uma sociedade saudável", sem o qual há o risco de uma "vastidão de potencial desperdiçado e ambição arruinada -- especialmente para uma geração de jovens". Segundo a diretora-geral do FMI, "a melhor maneira de criar emprego é através do crescimento", realçando, também, a necessidade de haver "equidade e inclusão".

Perante isto, por cá sai um ministro carregado de suspeitas, (não só na forma como se licenciou), e após a escalada de sucessivos enxovalhos de estudantes de várias academias, ocorridos nas suas recentes e sucessivas aparições públicas, veio declarar ter perdido “a força anímica” para continuar, proferindo um discurso que mais parece ter servido para reivindicar a paternidade politica do próprio primeiro-ministro.

Com esta remodelação, parece que o Governo ganhará maior afinação na coordenação politica das pastas, porém, para prosseguir na via da austeridade em que cegamente acredita, ao invés do que a análise dos resultados sugere equacionar e as tomadas de posição dos lados do FMI recomendaria.

A disputa dos Fundos Comunitários entre a Economia e as Finanças fica agora a cargo do novo Ministro de Estado e do Desenvolvimento Regional, mais uma achega no esvaziamento dos poderes de Álvaro Santos Pereira, cada vez mais um megaministro na denominação do Ministério, mas cada vez menos na capacidade de dinamizar uma nova politica para o crescimento e emprego.

Ao fim de quase dois anos de governação, e contra tudo o que havia proposto, o governo abdicou de fazer por agora a Reforma do Estado, assustado que está com os efeitos dos resultados medíocres das suas políticas sobre os resultados das eleições municipais deste ano. O Ministro cessante teve a oportunidade de fazer história neste domínio, quando anunciou propósitos ambiciosos para o desenho da nova rede autárquica, mas faltou-lhe dimensão politica para lidar com os barões locais, a começar pelos do seu próprio partido.

Em suma, o Governo assustado pelas piores expectativas eleitorais nas próximas Autárquicas de 2013, mas sem jamais aceitar o fiasco da politica de austeridade, assear dos alertas que lhe têm dirigido, não tem fôlego para se remodelar, nem coragem para arrepiar caminho e, desta forma, deixa a austeridade a aumentar o número das suas vítimas, até que algo de mais radical lhe venha retirar do estado vegetativo em que se encontra.


 

Fernando Lucas (membro da Coordenação Nacional do +D)


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