domingo, 21 de abril de 2013

[Opinião +D] A legitimidade europeia

É péssimo que os cidadãos percam confiança na União Europeia. Podemos recordar as reações de choque absoluto quando, em 2011, o ex-primeiro-ministro grego, Papandreu, falou num referendo para validar o programa da troika ou de uma sondagem recente do eurobarómetro que revela a queda de confiança na UE em todos os seus países, independentemente de sentirem mais ou menos a crise. É difícil pensar na Europa enquanto um sistema que representa democraticamente uma população europeia e não um conjunto de várias populações nacionais. Os que fazem política a nível europeu, por terem sido eleitos em votações nacionais, precisam de aprovação do seu eleitorado, ou seja, para sobreviverem politicamente têm de defender quem os colocou no poder. Isso prejudica os outros Estados, a Europa e, em última instância, o próprio país de quem bloqueia o interesse europeu. No entanto, embora não haja decisões absolutamente colectivas, nenhum Estado europeu pode resolver um problema sozinho. É esta a chatice, sobretudo em momentos de crise. E ao culparem-nos pelas nossas dívidas, pela ausência de reformas estruturais no mercado de trabalho e na economia e até pela nossa preguiça, obrigam-nos, aos “infratores”, a defender interesses nacionais, desviando-nos da Europa. Isto é mais do que ficar ou sair do euro, é criar ou não uma população também europeia, com os respectivos reflexos. No dia a dia não sentimos a força de sermos europeus, se esquecermos os euros que levamos no bolso. Não será só com direitos humanos, liberdade, democracia, mercado livre, que também temos na nossa constituição. É talvez com um espaço público e cultural europeu. O Erasmus é, a este propósito, das iniciativas mais bem conseguidas (ainda ontem tive uma aula com um professor italiano, que dá aulas em Praga). Podia-se aumentar e diversificar o número de intercâmbios (não só de estudantes), podia-se eleger diretamente mais representantes europeus (como da Comissão Europeia), criar uma vertente cívica europeia em todas as escolas (já o andam a preparar para os direitos humanos, agora que acabaram com a educação cívica), melhorar no geral a mobilidade. Introduzir este debate pondo mais pessoas a pensar no assunto, em vez de discutir austeridade. De certeza que com vontade e muitos de volta do tema se encontram melhores cenários. Podemos acentuar as relações com os países de língua portuguesa, procurar até uma nova cooperação com os países do Sul da Europa se for para aprofundar a UE, mas continuo a acreditar numa identidade europeia. É o melhor momento para justificar esta necessidade. Não pode ficar para trás. 






Rodrigo Subtil (Coordenação Nacional do +D)

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