quinta-feira, 4 de abril de 2013

[Opinião +D] O empurrão

Um rapaz verborreico foi nomeado representante diplomático do ministro Relvas. O país desatou a rir, porque o moço fala num criolo que mistura o jargão anglo-saxónico dos negócios com o sotaque minhoto e usa camisas pirosas. Para aperfeiçoar a pintura, a vedeta lembrou-se ainda de sugerir o financiamento pipoca do ensino superior, enquanto dizia não saber responder a questões de índole política porque está apenas focado em “empurrar pessoas”. Rir é o melhor remédio, anunciavam as Seleções do Reader’s Digest. Mas quando o tema é o desemprego dos jovens, convém descontar um minuto às gargalhadas. Quase metade dos jovens portugueses (até aos 24 anos) não tem trabalho. E não arranjam emprego, porque não os há (de resto, nem para novos, nem para velhos). O resultado é uma forte corrente emigratória, que só não tem paralelo com os anos 60 do século passado, porque na altura se saltava fronteira para fugir à guerra colonial e porque quem partia era mão-de-obra desqualificada. Agora são engenheiros, arquitectos, economistas, gestores, professores que saem aos milhares. Até pode ser que isso ajude a descomprimir o mercado de trabalho no curto-prazo e provavelmente daí resultarão remessas financeiras que ajudarão as famílias dos que agora fogem. Mas quem projectar o futuro de Portugal, verá um país com uma pirâmide etária invertida (muitos velhos, poucas crianças), um sistema de segurança social falido (muitos pensionistas, poucos contribuintes) e uma diminuta renovação empresarial (as melhores cabeças são as primeiras a encontrar trabalho no estrangeiro). Quando a resposta do governo ao problema do desemprego jovem passa pela contratação de um entertainer, está tudo dito sobre o futuro da nação.


José  Diogo Madeira (Membro da Coordenação Nacional +D)

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