quinta-feira, 25 de abril de 2013

[Opinião +D] Itália uma surpresa sempre


Quando se realizaram eleições legislativas em Itália, há dois meses,  o grande espanto da opinião pública nacional e internacional foi a brilhante vitória do movimento 5 estrelas de Bepe Grilo, uma organização sui generis baseada em conceitos de democracia participativa que rapou um quarto do eleitorado e deu um bigode aos partidos tradicionais italianos.

Mas, ao mesmo tempo que isso aconteceu, os analistas disseram logo que estávamos perante uma Itália ingovernável, devido ao conjunto dos resultados eleitorais.

De facto, o líder do centro esquerda, Bersanni, que foi o vencedor do escrutínio por escassa margem, foi encarregado pelo Presidente da República Giorgio Napolitano, um prestigiado político da esquerda, de formar governo. Bersanni tinha prometido ao seu eleitorado que nunca faria tractos com o partido de centro direita de Berlusconni. Por isso dirigiu-se ao movimento 5 estrelas e tentou muitas vezes convencê-lo mas este recusou-se sempre a formar governo com ele, chamando-lhe cadáver político.

Aí começou o impasse político.

Depois disso ainda tentou formar governo com o partido do tecnocrata e economista Mário Monti que foi o grande perdedor destas eleições, mas nada. Berlusconni, um político  desprestigiado de centro direita, mas experimentado, insistia que se fizesse o acordo com ele, sobretudo porque queria mudar as leis que o vão levar à prisão por corrupção.

Pelo meio deste cenário, surge a eleição do PR, cujo mandato acabava a 15 de Maio.

Foi afinal escolhido entre os 2 partidos do stablishment italiano, à esquerda e à direita, um velho sindicalista. Porém uma rebelião dos deputados  não logrou que conseguissem o número de  votos  necessários para eleger este candidato, assim como não aceitaram a proposta dos grilistas. Depois surgiram vários nomes de políticos conhecidos e todos foram perdedores pelo que na última volta todos acorreram para casa de Giorgio Napolitano, com 88 anos, para que  ele aceitasse uma  renomeação apesar da idade.

Aceitou, sobre certas condições, mas este evento pôs à vista o esgotamento do sistema político italiano, também incluindo de certo modo o jovem grillismo.

De facto, o que  se constatou foi que  a esquerda vencedora saiu derrotada e Bersani acabou por se demitir da sua liderança.

Berlusconni recuperou alguma credibilidade, que estava pelas ruas da amargura, com a derrota infligida à esquerda, e com a recusa do 5 estrelas em negociar, e os grilistas, furiosos, apelaram a uma grande manifestação em Roma  contra a reeleição do velho Presidente da República, a que também não acorreu tanta gente como se esperava, e o próprio líder Bepe Grilli não apareceu a encabeçá-la, o que deixou os seus devotos sem tapete.

Segue-se agora o próximo acto, que é  tentar fazer, às costas do recém-eleito Presidente, um Governo de sua iniciativa, que consiga fazer a reforma eleitoral, que todos pensam ser necessária, mas ninguém tem a coragem de fazer.

Vamos ver o que fazem desta vez os 5 estrelas, pois aqui jogam a sua credibilidade futura.







António Serzedelo (membro da Coordenação Nacional do +D)

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