sábado, 13 de abril de 2013

[Opinião +D] Germânia


O programa de reequilíbrio financeiro a que estamos sujeitos não tem um racional económico. Embora, no seu início, os fundamentos fossem perceptíveis – reduzir os encargos com rendas elevadas, forçar alguns sectores a maior concorrência, diminuir despesa pública e recolocar a dívida pública em níveis aceitáveis – os seus resultados mostram que demasiada austeridade teve efeitos perniciosos sobre o crescimento económico, dificultando afinal a gestão da dívida externa. O mesmo tem sido dito por um conjunto de instituições e economistas de reputação internacional, que sublinham que o excesso de austeridade prejudica a economia europeia, transformando continente numa caixa armadilhada, de onde saltaram desemprego galopante, crescimento económico anémico, insustentabilidade dos sistemas de segurança social, incapacidade de renovação demográfica. Ora se não é por motivos económicos que as troikas continuam a apostar em mais austeridade, a exclusão de partes leva-nos a imaginar motivações políticas. Enquanto se aproximam as eleições legislativas na Alemanha (agendadas para Setembro), a
chanceler Merkel precisa de gerir o seu eleitorado. Talvez depois, haja uma aberta na sistemática oposição germânica a uma inversão na condução da economia europeia. Até lá, estamos condenados a actores secundários do ciclo eleitoral alemão. Claro que isto perverte o projecto europeu inicial, que era uma ideia onde cada estado-membro trocava parte da sua soberania pela integração num espaço político, económico e financeiro, onde a soma das partes resultava melhor do que o interesse particular de cada país. Agora talvez já seja muito difícil colar os cacos partidos.


José Diogo Madeira (Membro da Coordenação Nacional +D)

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