sexta-feira, 3 de maio de 2013

[Opinião +D] Oposição

E chegámos à inversão do ciclo – ainda não saímos do paradigma anterior, mas já mudamos para uma nova coisa. A austeridade está esgotada, perdeu a sua base teórica e política de apoio e os seus resultados foram desoladores: enormes quebras económicas, mais dívida, desemprego insustentável. Mesmo dentro do governo, apenas o ministro das Finanças se continua a imolar no fogo da sua obstinação. O primeiro-ministro, pressionado pelas eleições autárquicas, trocará rapidamente para a bandeira do crescimento. De qualquer das formas, é difícil antecipar o que virá a seguir, porque as políticas de crescimento precisam de dinheiro e isso é coisa que não há. E nem o dinheiro é, por si, suficiente para colocar uma economia em crescimento saudável. Tivemos anos de abundância de recursos financeiros e nem assim soubemos construir uma economia sustentável. O investimento público serve para fazer coisas úteis – estradas, edifícios, portais Web, mas isso não significa que depois os serviços públicos serão mais eficientes ou que as empresas venderão mais. Não é suficiente, por isso, vir agora dizer que é preciso crescimento. É preciso explicar articuladamente com que recursos se vai gerar esse crescimento, que políticas de estímulo se preconizam e como se quer modernizar as empresas e agilizar a administração pública. Sempre que um dirigente partidário ganha umas eleições com um discurso atraente, mas que depois na prática troca por outra coisa, é mais uma pequena facada na democracia. Não é por acaso que o bipartidarismo se esgota em Espanha, que a extrema-direita progride em França, que a Itália esteve sem governo durante dois meses ou que, na Grécia, o futuro se disputará entre a extrema-esquerda e a extrema-direita. A democracia só funciona bem, quando os seus actores principais estão à altura das circunstâncias.


José Diogo Madeira (Membro da Coordenação Nacional +D)
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