segunda-feira, 6 de maio de 2013

[Opinião +D] Esperava-se, com Abril, mais democracia

Há coisas difíceis de admitir. São incompreensíveis e revoltam. Por exemplo: que, quem
governa, por mais dificuldades que tenha, não defenda, prioritariamente, os que os elegeram,
a quem representam e…que lhes pagam; que sejam traídos compromissos assumidos e
promessas feitas; que seja usada prepotência contra as camadas mais vulneráveis; que,
fazendo “gato-sapato” e de forma cínica, se camufle a democracia transformando-a em
autocracia; que se legitimem e exijam sacrifícios que, os que os determinam, não apliquem
a si e às suas “claques”; Que em nome do interesse nacional, se defenda, acima de tudo, a
“partidarite” e o bem próprio.

A divida e os compromissos internacionais…? Então pensemos: a) Que responsabilidades
têm nisto os que nunca exerceram o poder, não tomaram as decisões, trabalharam muito e
viveram sempre de forma espartana? A maioria destes são os que mais sofrem a injustiça.
Esperava-se que uma governação competente, determinada e justa impedisse a sangria
financeira deste povo, cada vez mais vergado e empobrecido, rendido ao exterior e, que
fossem respeitados, os mais elementares direitos; b) E porque é que os sacrifícios recaem
sempre sobre os que trabalham, nos que têm menor poder, naqueles de quem podem dispor,
sem grande risco, por terem menos voz: os funcionários públicos (quem paga manda..) e os
pensionistas que foram traídos nos compromissos com eles estabelecidos? O “cisma grisalho”
não amedronta… Esperava-se maior lealdade e respeito. c) Não se entende, também, que
os decisores não discutam as medidas a tomar, com os órgãos onde tal deveria acontecer
(já nem se fale em consulta pública) mas, ao menos, no Parlamento onde se tem assistido a
que as grandes decisões que a todos dizem respeito, apenas passam “por debaixo do nariz”
dos deputados, pouco tempo antes de seguirem para os areópagos da decisão. Esperava-se
viver em democracia e que os órgãos mantivessem a dignidade das suas funções. d) E porque
é que não há coragem de cortar nos grandes sorvedouros dos orçamentos diminuindo-lhes
“as gorduras”? Por exemplo, nas parcerias público-privadas, no financiamento aos bancos, no
privilégio das elites…? Esperava-se menor compadrio, mais equidade, humanidade e justiça.
d) Porquê permitir que a concertação de interesses mantenha o domínio sempre nos mesmos,
dos partidos e das classes dominantes conduzindo ao sufoco e ao garrote, a maioria? Será
difícil entender que é preciso mudar de rumo antes que seja tarde demais? Exercer a cidadania
e tornar a polis património comum eis uma tarefa que urge. Desenvolver uma democracia
participativa onde todos se possam livremente expressar para que, quem finalmente tem que
decidir, o faça no benefício de todos. Depois das medidas anunciadas, mesmo que se “mude
de mão”, as mossas ficam, a confiança desaparece e a anomia toma lugar.






Conceição Couvaneiro (Conselho Geral do +D)

Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.

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