Este
Orçamento é bom para os credores, mas é péssimo para os portugueses.
Cada um governa para quem quer. Mas um povo não pode ser governado por
quem está sempre contra ele. Um dia, à força de tanto esticar, a corda
rebenta. Não é possível calcular o momento exacto em que isso acontece,
mas todas as opressões explodem em episódios de libertação. A república
de 1910, o 25 de Abril e até mesmo o 28 de Maio de 1926 (que prefaciou a
ditadura salazarenta) foram reacções à deterioração das condições
políticas e económicas dos portugueses. Vivemos nestes dias um processo
semelhante - um empobrecimento violento das pessoas e das famílias (ao
mesmo tempo que aumentam as desigualdades entre pobres e ricos) e uma
enorme desconfiança entre governantes e governados (é ver a quantidade
de gente que deixou de votar ou votou branco/nulo nas autárquicas). O
Orçamento para 2014 massacrará a generalidade dos portugueses, violando
especialmente pensionistas e funcionários públicos. E a tímida retoma
económica, que se vislumbrava, fica ameaçada pelos novos cortes
salariais e aumentos fiscais. Provavelmente, os credores de Portugal
conseguirão recuperar o seu dinheiro, mas os portugueses ficarão
exangues para os contentarem. O caldo necessário para as erupções da
história está por aí. Há aquela conversa de que os portugueses são um
povo de brandos costumes. E, de facto, os poderes que substituíram o rei
D. Manuel II e Marcelo Caetano deixaram-nos partir tranquilamente para o
exílio. Mas não foi por isso que essas revoluções ficaram por fazer.

José Diogo Madeira (Membro da Coordenação Nacional +D)
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