terça-feira, 29 de outubro de 2013

[Opinião +D] A propósito do dia Internacional do idoso, 1 de Outubro de 2013

Vive-se um tempo de viragem civilizacional. Um período de mudança em que a mais visível é alteração da cartografia social. A inversão da pirâmide demográfica é marcada, hoje, pela chamada “geração grisalha”. Dados da Pordata apontam um envelhecimento da população Portuguesa, da ordem dos 129,6% por cento. Significa isto quase 130 pessoas com mais de 65 anos para 100 até aos 14 anos. Nesta estatística sobre envelhecimento, apenas se encontram num escalão mais elevado a Alemanha, a Itália, a Bulgária e, a par de Portugal, a Letónia. A existência de um cada vez maior número de pessoas idosas, traz novos cenários à organização social e comunitária A população acima dos 65 anos atinge 27% da população. Nos últimos dez anos verificou-se um aumento das pessoas entre os 75/84 anos de 28% para 38%. O impacto fundamental da situação ocorre, basicamente, no trabalho e na família. As questões que se agudizam, de forma estrutural, no mundo do trabalho afetam, particularmente, as populações mais vulneráveis, - os idosos -. Nas famílias as dificuldades sentem-se pois não só esta sofreu profundas alterações como, devido à longevidade dos seus membros, se lhes coloca a necessidade de lhes prestar cuidados. Os políticos tomam consciência da situação. Propõe medidas para minimizar os seus efeitos globais. Em Dublin, nos dias 13 e 14 de Junho de 2013 realizou-se a “Cimeira Europeia Sobre o Envelhecimento Ativo”, com vista a diminuir as pressões sobre os sistemas de saúde e o prosseguimento de medidas tendentes ao envelhecimento ativo e saudável. Para aliviar os sistemas de segurança social decidem prolongar o tempo de trabalho. Poderia compreender-se mas, paradoxo. Quem procura trabalho com 40 e tais anos ouve, com frequência “ hum.... já e velho para trabalhar”. E, ainda, “tem um grande currículo...”. Que se dirá então aos de mais de 65 anos? Como refere Peixoto (2007) a representação social na velhice está bastante marcada, pela revolução industrial e inserção do idoso, no processo de produção”. Após diminuírem as forças, o que vai ocorrendo em diferentes momentos, é-lhe conferido o estatuto de inutilidade. O mesmo se passa com os avanços das tecnologias não acessíveis a muitos. Sustentar os mais velhos no mercado de trabalho não compensava o salário pago. Restava, então, passá-los à aposentadoria. Diminuiriam os custos e proceder-se-ia, deste modo, à renovação ou refrescamento dos quadros. Mais que assistencial a perspetiva foi e é economicista. Eis, senão quando, o contrato estabelecido foi lançado por terra. Inclementemente anunciam cortes brutais nas reformas no mais vil desrespeito pelos compromissos assumidos. O que pode considerar-se um enorme ganho da humanidade parece tornar-se, agora, uma ameaça – para o próprio e para a sociedade. Importa viver mais mas, sobretudo, viver melhor. Que se pense nisto e se atue contra porque, quanto mais não seja, todos serão idosos.





Conceição Couvaneiro (Conselho Geral do +D)

Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.

Sem comentários:

Enviar um comentário