segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

[Opinião +D] Enquanto a Grécia se afunda, algo de novo emerge

1. Julgava eu que em Portugal ninguém mais do que António Costa tinha “boa imprensa”, mas isso está a mudar. A nova paixão dos nossos “media” é mesmo Alexis Tsipras, o recém-empossado Primeiro-Ministro grego.



A paixão é tão grande que, na sua cegueira, tudo desvaloriza: a aliança pós-eleitoral com um partido diabolizado antes das eleições, um Governo só com Ministros do sexo masculino, etc. Até a orgânica do Governo (com “super-ministérios”) não abala minimamente essa tão avassaladora paixão, ao contrário do que aconteceu, por exemplo, em Portugal. Pedro Passos Coelho deve andar perplexo – e, por uma vez, com razão.



Mas o pior – convenhamos – não é isso. O pior foi mesmo a estratégia suicida do novo Governo grego de “não negociar mais com a Troika”. Por cá, no seu tempo, Francisco Louçã fez o mesmo à frente do Bloco de Esquerda – mas Louçã nunca foi nem nunca será Primeiro-Ministro. A sua irresponsabilidade foi pois completamente inócua. Apenas precipitou o já então expectável declínio do próprio Bloco de Esquerda.



Tsipras, ao contrário, é Primeiro-Ministro de um país. Assumir como estratégia o adolescente grito de “A Troika que se lixe!” pode continuar a incendiar o coração igualmente adolescente dos nossos “media”, mas, decerto, afundará ainda muito mais o povo grego. É certo que a dívida grega (como a portuguesa) é impagável, mas isso, por si só, é razão para (re)negociar com a Troika, não para fazer de conta que não existe. Com esta estratégia, a Grécia arrisca-se mesmo a sair da zona euro. Resta saber se, na verdade, não é isso o que Tsipras pretende, procurando apenas, com toda esta encenação, encontrar o seu “bode expiatório”.



2. Entretanto, longe do olhar dos nossos adolescentes “media”, há um novo partido político prestes a entregar as assinaturas necessárias no Tribunal Constitucional: “Nós, Cidadãos!”. Um partido assumidamente reformista, que, tendo propostas inovadoras, procura o compromisso e recusa as sempre ilusórias e contraproducentes rupturas, bem como o sectarismo ideológico esquerda-direita, que tanto tem viciado o nosso debate político….




Ao ler estas linhas, consigo imaginar a reacção dos nossos adolescentes “media”: “Que tédio!, que enjoo!! O nosso Tsipras é bem mais sexy, bem mais excitante!!!” Para os corações menos adolescentes, para as mentes mais lúcidas, deixo aqui o endereço do sítio onde a Síntese do Programa Político do “Nós, Cidadãos!”, que acabei, na última fase, por coordenar, se encontra em discussão pública (que se estenderá até ao primeiro Congresso, a realizar-se, previsivelmente, no segundo trimestre deste ano): bloguedetodosnos.blogspot.pt. Para toda a restante informação: noscidadaos.pt




Renato Epifânio (membro da Coordenação Nacional do +D)

Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.                               


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