sexta-feira, 4 de abril de 2014

[Opinião + D] Faz-nos falta Gente assim!...





No passado dia 3 de abril fez 22 anos que morreu Salgueiro Maia.
Como vem sendo hábito, realizou-se uma cerimónia de homenagem em Santarém, junto à sua estátua e à chaimite que o acompanhou na manhã do dia 25 de abril de 1974 rumo a Lisboa. Desta vez reforçada pelo facto de se aproximarem agora os 40 anos da chamada Revolução dos Cravos. E discursaram o Coronel Correia Bernardo (também ele teve fulcral importância no planear e no dia da revolução, apesar de pouco conhecido fora de Santarém) e o Presidente da Câmara Municipal de Santarém. 

Estive lá presente, tal como estiveram dezenas de munícipes de Santarém, uns mais outros menos conhecidos nestas lides, apesar da chuva que se previa e que no fim nos mandou embora um pouco mais rapidamente.  
Natércia Maia, a professora de muitos scalabitanos, mulher de Salgueiro Maia, voltou também a estar lá e ainda bem, mas desta vez não falou. Ela que tantas vezes me diz a mim e a outras pessoas que nunca sabe muito bem como deve agir e reagir em muitas das situações e eventos em que se vê envolvida. É que não sabe o que é que o marido faria se ali estivesse presente. Tem dúvidas, como todos nós, sobre o que é que ele pensaria destas homenagens póstumas. Ele que nunca as permitiu em vida, ele que nunca quis condecorações, nunca quis reconhecimentos, muito menos aceitar qualquer género de cargos…

Também eu, quando estou nestes eventos, penso se aquele Homem acharia bem que gente como eu, que apesar de o admirar muito, nem sequer o conheci (ele morreu em 1992 e eu passei a viver em Santarém em 1993), estivesse ali.
E mais ainda reflito sobre o que pensaria este Homem, que viveu o suficiente para perceber que abril não estava a ser cumprido, de por todo o lado de Portugal ser homenageado também pelos muitos diretos responsáveis por Portugal não ter seguido o espírito desse dia de 74. Ele que disse: "Não se preocupem com o local onde sepultar o meu corpo. Preocupem-se é com aqueles que querem sepultar o que ajudei a construir".
O que acharia das nossas atuais preocupações sobre se a sua estátua deve estar mais aqui ou mais ali um Homem que deixou dito que: "Determino que desejo ser sepultado em Castelo de Vide, em campa rasa, e utilizar o caixão mais barato do mercado, o transporte do mesmo deve fazer-se pelo meio mais económico, de preferência, em viatura militar".

O que acharia ele de, 40 anos depois do 25 de abril, continuarmos mais e mais a ver crimes de corrupção e usurpação prescreverem impunemente, assistirmos a roubos que quase parecem ser ou são mesmo legais como acontece com as PPP, com o BPN e tantos mais? O que acharia do povo português estar a perder tudo o que a nível de saúde, educação, justiça, etc. foi conseguindo no seguimento do esforço dele e de muitos? E o que acharia ainda de tudo isso estar a ser conseguido com a desculpa (com a capa…) da inevitabilidade?! O que pensaria, em suma, de estarmos, sem a necessidade de qualquer revolução e com a nossa generalizada conivência e complacência, a deixar fugir a nossa Democracia?!

É que, para o bem e para o mal, ele era diferente (ou é…, porque há coisas que não morrem …). Faz-nos falta Gente assim…





Francisco Mendes (Membro da Coordenação Nacional +D)

Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.

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