No passado dia 3 de abril fez 22
anos que morreu Salgueiro Maia.
Como vem sendo hábito,
realizou-se uma cerimónia de homenagem em Santarém, junto à sua estátua e à
chaimite que o acompanhou na manhã do dia 25 de abril de 1974 rumo a Lisboa.
Desta vez reforçada pelo facto de se aproximarem agora os 40 anos da chamada Revolução
dos Cravos. E discursaram o Coronel Correia
Bernardo (também ele teve fulcral importância no planear e no dia da revolução,
apesar de pouco conhecido fora de Santarém) e o Presidente da Câmara Municipal
de Santarém.
Estive lá presente, tal como
estiveram dezenas de munícipes de Santarém, uns mais outros menos conhecidos
nestas lides, apesar da chuva que se previa e que no fim nos mandou embora um
pouco mais rapidamente.
Natércia Maia, a professora de
muitos scalabitanos, mulher de Salgueiro Maia, voltou também a estar lá e ainda
bem, mas desta vez não falou. Ela que tantas vezes me diz a mim e a outras
pessoas que nunca sabe muito bem como deve agir e reagir em muitas das
situações e eventos em que se vê envolvida. É que não sabe o que é que o marido
faria se ali estivesse presente. Tem dúvidas, como todos nós, sobre o que é que
ele pensaria destas homenagens póstumas. Ele que nunca as permitiu em vida, ele
que nunca quis condecorações, nunca quis reconhecimentos, muito menos aceitar
qualquer género de cargos…
Também eu, quando estou nestes
eventos, penso se aquele Homem acharia bem que gente como eu, que apesar de o
admirar muito, nem sequer o conheci (ele morreu em 1992 e eu passei a viver em
Santarém em 1993), estivesse ali.
E mais ainda reflito sobre o que
pensaria este Homem, que viveu o suficiente para perceber que abril não estava
a ser cumprido, de por todo o lado de Portugal ser homenageado também pelos
muitos diretos responsáveis por Portugal não ter seguido o espírito desse dia
de 74. Ele que disse: "Não se preocupem com o local onde
sepultar o meu corpo. Preocupem-se é com aqueles que querem sepultar o que
ajudei a construir".
O que acharia das nossas atuais
preocupações sobre se a sua estátua deve estar mais aqui ou mais ali um Homem
que deixou dito que: "Determino que desejo ser sepultado em Castelo de
Vide, em campa rasa, e utilizar o caixão mais barato do mercado, o transporte
do mesmo deve fazer-se pelo meio mais económico, de preferência, em viatura
militar".
O que acharia ele de, 40 anos
depois do 25 de abril, continuarmos mais e mais a ver crimes de corrupção e
usurpação prescreverem impunemente, assistirmos a roubos que quase parecem ser
ou são mesmo legais como acontece com as PPP, com o BPN e tantos mais? O que
acharia do povo português estar a perder tudo o que a nível de saúde, educação,
justiça, etc. foi conseguindo no seguimento do esforço dele e de muitos? E o
que acharia ainda de tudo isso estar a ser conseguido com a desculpa (com a
capa…) da inevitabilidade?! O que pensaria, em suma, de estarmos, sem a
necessidade de qualquer revolução e com a nossa generalizada conivência e
complacência, a deixar fugir a nossa Democracia?!
É que, para o bem e para o mal,
ele era diferente (ou é…, porque há coisas que não morrem …). Faz-nos falta
Gente assim…
Francisco Mendes (Membro da Coordenação Nacional +D)
Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.
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