O Movimento das Forças Armadas conseguiu
a proeza de reduzir o seu programa a três D's: democracia, desenvolvimento e
descolonização. Mas 40 anos volvidos desde o 25 de abril de 1974, o tiro
saiu-lhes pela culatra. Politicamente, passamos de um regime de partido único,
para um regime único de partidos. Quer dizer, em Portugal são os partidos que
controlam tudo: os governos, os deputados, as autarquias, as empresas públicas,
os tribunais constitucional e de contas, a CNE, a ERC e até a presidência da
República. A monopolização da vida política é tão grande, que até os próprios
capitães de Abril (que abriram a via democrática que deu espaço aos
partidos) são chutados sem cortesia para fora da Assembleia da República e se
vêm na necessidade, para poderem falar, de voltar ao largo do Carmo.
Economicamente, o salário mínimo é agora inferior (em preços reais) ao
praticado antes de 1974 e os desequilíbrios entram os mais ricos e os mais
pobres agravam-se velozmente. Quanto à emigração, que sangrava o país
salazarento, invoquemos o que se passa hoje com os jovens diplomados. Na
descolonização, se há 40 anos cedíamos às províncias ultramarinas a sua
autodeterminação, agora lutamos para nos livrarmos da troika e dos interesses
financeiros internacionais que nos governam. Portugal é um país que perdeu a
sua soberania e vive no limbo – por um lado somos uma república em que,
constitucionalmente, a "soberania reside no povo", por outro lado
quem manda são os burocratas estrangeiros do FMI e da União Europeia, para
proveito de meia dúzia de homens de negócios indígenas. Não foi, com certeza,
para este triste retrato e retrocesso que se fez o 25 de abril. Mas a culpa
tanto é de quem manipulou e roubou os portugueses ao longo das últimas décadas,
como dos portugueses que ficaram – num estado de anestesia colectiva – a
assistir a tanta e sucessiva pilhagem. Da mesma forma que o MFA conseguiu fazer
uma transição pacífica da ditadura para a democracia, é tempo de agora
fazermos algo poderoso e tranquilo pelo nosso destino colectivo.
José Diogo Madeira (membro da Coordenação Nacional do +D)
Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.
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