sexta-feira, 25 de abril de 2014

[Opinião +D] Agora !

O Movimento das Forças Armadas conseguiu a proeza de reduzir o seu programa a três D's: democracia, desenvolvimento e descolonização. Mas 40 anos volvidos desde o 25 de abril de 1974, o tiro saiu-lhes pela culatra. Politicamente, passamos de um regime de partido único, para um regime único de partidos. Quer dizer, em Portugal são os partidos que controlam tudo: os governos, os deputados, as autarquias, as empresas públicas, os tribunais constitucional e de contas, a CNE, a ERC e até a presidência da República. A monopolização da vida política é tão grande, que até os próprios capitães de Abril (que abriram a via democrática que deu espaço aos partidos) são chutados sem cortesia para fora da Assembleia da República e se vêm na necessidade, para poderem falar, de voltar ao largo do Carmo. Economicamente, o salário mínimo é agora inferior (em preços reais) ao praticado antes de 1974 e os desequilíbrios entram os mais ricos e os mais pobres agravam-se velozmente. Quanto à emigração, que sangrava o país salazarento, invoquemos o que se passa hoje com os jovens diplomados. Na descolonização, se há 40 anos cedíamos às províncias ultramarinas a sua autodeterminação, agora lutamos para nos livrarmos da troika e dos interesses financeiros internacionais que nos governam. Portugal é um país que perdeu a sua soberania e vive no limbo – por um lado somos uma república em que, constitucionalmente, a "soberania reside no povo", por outro lado quem manda são os burocratas estrangeiros do FMI e da União Europeia, para proveito de meia dúzia de homens de negócios indígenas. Não foi, com certeza, para este triste retrato e retrocesso que se fez o 25 de abril. Mas a culpa tanto é de quem manipulou e roubou os portugueses ao longo das últimas décadas, como dos portugueses que ficaram – num estado de anestesia colectiva – a assistir a tanta e sucessiva pilhagem. Da mesma forma que o MFA conseguiu fazer uma transição pacífica da ditadura para a democracia, é tempo de agora fazermos algo poderoso e tranquilo pelo nosso destino colectivo.

José Diogo Madeira (membro da Coordenação Nacional do +D)

Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.

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