terça-feira, 29 de abril de 2014

[Opinião +D] Abril valeu mesmo a pena

Fico perplexa e com um sentimento de injustiça quando ouço lamentar que Abril tenha sido o que foi. Pergunto-me quem, de boa consciência, o poderá fazer. Duas respostas me ocorrem: falha de memória...(quarenta anos é muito tempo e o que está para trás e lhe deu origem é uma longa história) ou...conivência com o sistema, ( o que, confesso, tenho dificuldade em compreender). Ocorrem-me então alguns factos que, desde muito cedo, me arranham a minha consciência social, fundada em princípios, sobretudo de humanismo cristão. Na aldeia, alguns miúdos da minha idade com quem ia à escola, eram filhos dos designados "servos" trabalhadores agrícolas, à jorna. Eram muito mais pobres que os demais. Apenas calçavam sapatos para irem ao médico ou algum evento especial e, esses já tinham sido usados por aqueles que por "caridade" os davam. Sob o ponto de vista semântico ser servo é depender de alguém, (escravo?). No que era dado observar o significado percepcionado tinha o seu quê de ignominioso. Foi há mais de cinquenta anos tinha pouco anos, um estatuto social mais confortável, mas terá sido um despertar de uma consciência porventura mais social que política. Passados quarenta anos lamentamos ainda os níveis de pobreza e, com razão. Ainda assim, se hoje se contabilizam dois milhões de pobres, na altura eram oito milhões e tanta tanta diferença. Abril VALEU a pena. E no que respeita à falta de liberdade....? Inverossímil e iníquo o que se passava. O que falta cumprir de Abril, hoje, tem a ver com todos e cada um. É certo que os desejos e as expectativas excedem sempre as concretizações. Que houve muita coisa que teríamos desejado que tivesse sido diferente. Mas também nunca encontrei nenhuma realização humana que assim não tivesse sido. E ainda bem. Caso contrário tudo seria fácil. Quando descemos a Avenida da Liberdade, dia 25, sentimos que afinal somos livres e somos muitos. Queremos continuar a sê-lo.

Maria da Conceição Serrenho Couvaneiro (Conselho Geral do +D)

Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina. 

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