terça-feira, 22 de abril de 2014

[Opinião +D] Nas nossas mãos, a democracia.

A revolução de Abril, 40 anos depois, continua a colocar algumas questões sobre a verdade, ainda por esclarecer, de alguns factos. Mitos que prevalecem e que ofuscam do olhar, o real. O que foi feito, porque resultou, como tudo foi planeado, mostrado ou ocultado, por quem e porquê...? O 25 de Abril que ora se mitifica, de forma romântica, ora se condena atribuindo-lhes todos os males foi, inequivocamente, o maior acontecimento do nosso tempo. A rutura com um sistema opressivo, caduco, isolacionista que,  constituindo a mais longa ditadura do século, se prolongou por três gerações, com nefastas consequências para o futuro. Um regime tirano mantido pelo obscurantismo, falta de liberdade e medo,  pela força de uma policia política - PIDE/DGS- que nas masmorras silenciava qualquer tipo de pensamento livre, através dos mais hediondos processos repressivos e de tortura. Embora a história se deva fazer muito depois, quando já depurada do que pode contaminar o olhar, há coisas que se não podem esquecer para que se não repitam. Nem tudo se concretizou como foi sonhado. É sempre assim e  as revoluções, por maioria de razão, também não fogem à regra. Têm os seus desvios. Seguem as suas rotas, em resultado de múltiplas contingências. Ficam para trás, anseios e esperanças cumpridas e por cumprir. Caminhos de justiça por percorrer. Um processo de lutas de ganhos e de perdas, cujos protagonistas são, ora heróis, ora vencidos. No caso, um golpe militar, recheado de  improvisos e imponderáveis que se consubstanciou e se consolidou pela adesão dos estudantes, operários, rurais, por  uma multidão, acabrunhada e oprimida que originou a queda de um sistema insustentável. Conquistou a DEMOCRACIA. Por muito que a desilusão pese poderá alguém, em boa consciência, pôr em causa as conquistas alcançadas? Quem se não lembra do lápis azul da censura? Quem pode aceitar o sistema de espionagem a que todos eram submetidos através dos mais indecorosos processos de espionagem (por exemplo, pequenos gravadores do tamanho de botões espalhados por todo o lado) quem esqueceu as prisões politicas sem culpa formada..? Com Abril soltou-se a voz e o gesto. Até se fez o perdão. Falta provar o reconhecimento e gratidão aos que, como Salgueiro Maia, soltaram a voz e o canto de um povo que arriscaram tornar livre. Abril cumpriu-se, pois. Talvez falte que nos cumpramos nós. A democracia preserva-se. É uma conquista de cada momento. Está agora nas nossas mãos.   


Maria da Conceição Serrenho Couvaneiro (Conselho Geral do +D)

Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina. 

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