domingo, 27 de abril de 2014

[Opinião +D] 25 de Abril

Passaram quarenta anos e sendo esta uma data tão redonda, este é sem dúvida um ano especial para as comemorações do 25 de Abril. É tempo de balanço e de análise do que se fez (ou não) ao longo destas quatro décadas. Ouvi muito, li muito e pensei muito e, sem dúvida, que para mim o 25 de Abril será sempre uma data a celebrar.

Eu tenho quarenta e três anos, pouco recordo do 25 de Abril de ’74, a não ser um clima de alegria e otimismo que eram contagiantes. O meu pai tem oitenta e quatro anos. Viveu quarenta anos em ditadura e trinta já em democracia. Hoje queixa-se da perda de direitos, dos cortes na reforma, da crise, dos aumentos brutais de custo de vida, da falta de respeito. Mas quando o confronto e pergunto se gostaria mesmo de viver de novo nos tempos da ditadura a resposta é imediata: - “Não!”

E Porquê? Porque Portugal no tempo de Salazar era um país que envergonhava. Éramos o pior do que havia na Europa. A pobreza era mais que muita. A generalidade da população vivia muito mal. Não havia acesso à informação, nem à educação. A maioria das pessoas era analfabeta. Não havia reformas, nem acesso aos cuidados de saúde mais básicos, nem à segurança social.

Ao sair dos grandes centros urbanos, as diferenças eram ainda mais visíveis. Eu lembro-me de ir, em pequena, à terra dos meus pais e não haver estradas, nem luz, nem saneamento básico e da aldeia não ter estradas, a não ser de terra batida. As infraestruturas do país eram verdadeiramente um atraso, face ao resto da Europa.

As mulheres não existiam senão “à sombra” de um homem. Não podiam votar. Não podiam estudar, trabalhar ou viajar sem autorização do pai ou marido. Os jovens eram enviados para África para morrerem em nome da pátria ou em alternativa tinham de fugir para o estrangeiro.

E depois havia o medo. Sempre presente, o medo. Havia uma desconfiança latente e permanente que fazia com que as pessoas só falassem abertamente junto da família ou de amigos de muita confiança. Havia medo de se falar abertamente e de se dizer o que se pensava. Eu pergunto-me, por isso, se haverá realmente alguém que queira voltar a isto?

Nesta celebração dos 40 anos do 25 de Abril, eu fui ao Carmo, claro. Isto devido ao “inconseguimento” que foram as comemorações na Assembleia da República. Comovi-me com aquele mar de gente que de uma forma tão digna e firme cantou o Grândola e o hino nacional. Gente que ama este país e acredita que as coisas vão mudar mas tal como disse o Coronel Vasco Lourenço: “Não queremos ser um país subeuropeu”.


Pela primeira vez na minha vida participei, também, do desfile na Avª da Liberdade. Porque se acho que se em muitos dos aspetos que acima mencionei houve realmente uma melhoria, sinto que, por exemplo, em relação ao medo este começa de novo a dominar as nossas vidas e ninguém é verdadeiramente livre e feliz se viver num clima de medo. Em democracia não se vive com medo. Por isso, fui lá dizer que: “às vezes é preciso desobedecer” e que “vamos acabar com o estado de coisas a que chegámos”. Fui lá porque já chega de nos calarmos a uma minoria que serve mais os lobbies e os seus próprios interesses do que os interesses de Portugal.

Margarida Ladeira (Membro da Coordenação Nacional +D)

Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.

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