quinta-feira, 17 de abril de 2014

[Opinião +D] O camarada Passos



Imagine um trabalhador que sabe, antecipadamente, que o seu salário vai cair 5% no próximo ano. Mesmo que o seu desempenho melhore visivelmente, que despache o dobro de papéis, ou que venda o triplo, o seu salário baixará sempre 5% no próximo ano. Qual é a motivação deste trabalhador para a sua função? Nenhuma. E só se manterá no mesmo posto de trabalho se for uma personagem acomodada e pouco ambiciosa ou se não encontrar outro emprego. Agora imagine um país, onde todos os trabalhadores sabem que os seus rendimentos salariais vão descer 5% no próximo ano. É claro que a produtividade desta economia vai sofrer: a desmotivação generalizada resultará em gente com menos vontade de fazer, o que quer que seja. Uma empresa (e uma economia) só funciona bem, quando uma grande parte dos seus trabalhadores está entusiasmada para fazer mais e melhor, com o fito de conseguir um aumento de 5, 10 ou muitos por cento no seu ordenado. Qualquer estratégia de redução salarial está, portanto, condenada ao fracasso. Em primeiro lugar, dá azo a uma função pública pouco empenhada nas suas burocracias e apostando no veto de gaveta (os papéis entram para um arquivo morto, de onde só saem no dia em que o rei faz anos). Depois, o mesmo desalento alastra aos quadros das empresas privadas, que não têm incentivos para fazerem melhor. E finalmente, os melhores e mais ágeis escapam deste ciclo vicioso, partindo para países onde os seus esforços sejam recompensados com mais dinheiro. Embora encham a boca com o credo da economia de mercado e com o discurso do mérito, os partidos do governo inverteram as expectativas que constroem as economias de sucesso e transformaram Portugal numa deplorável economia comunista, onde tanto faz ser profissionalmente competente como incompetente – em qualquer dos casos, o empobrecimento é sempre certo.


José Diogo Madeira (membro da Coordenação Nacional do +D)

Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.

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