quinta-feira, 10 de abril de 2014

[Opinião +D] 25 de abril sempre






Muitas e boas são as razões para comemorar os quarenta anos do 25 de abril. Portugal é, em muitos aspectos, um país melhor do que era até então. Mas uma das promessas da revolução dos cravos – a democracia – ainda está por cumprir. Claro que vivemos numa democracia, onde todos podem dizer o que pensam, organizar-se em sindicatos e promover manifestações públicas sobre o que entenderem. Mas o sistema partidário, um dos pilares dessa democracia, foi profundamente corroído. Primeiro, porque os partidos não representam os seus eleitores, mas os seus dirigentes. Quanto votamos numa lista para a câmara municipal ou para a assembleia da República, não escolhemos que deputados queremos exactamente eleger. É o mesmo que comprar fruta num saco previamente fechado: já sabemos que os morangos que estão por cima são sempre os mais bonitos e vistosos, mas que lá pelo meio deve haver muito fruto bolorento. Depois, os partidos não são internamente democráticos, porque se organizam em função dos interesses dos seus dirigentes e não das suas bases. O melhor exemplo disso são as listas que a generalidade dos partidos apresentam às várias eleições: elas são construídas e impostas pelas direcções partidárias, que nesse processo esmagam as várias estruturaras intermédias. Assim, replicam e cristalizam os grupelhos que dominam o aparelho. Só muito recentemente, um partido português organizou uma lista eleitoral através de um processo de primárias abertas aos seus militantes e a independentes. Finalmente, os partidos políticos transformaram-se em centrais de interesses financeiros e económicos, repletos de gente (criminal e moralmente) corrupta, o que provocou uma onda adicional de repugnância dos cidadãos pela participação política. Portugal precisa de novas práticas para repor a dignidade e a vida partidária, enquanto instrumentos vitais para uma sociedade mesmo democrática e onde todos participem, saudavelmente, na condução dos assuntos públicos. Não será preciso exactamente um novo 25 de abril, mas isto também já lá não vai apenas com falinhas mansas.


José Diogo Madeira (Membro da Coordenação Nacional +D)
Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.

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