sexta-feira, 27 de março de 2015

[Opinião +D] Exército Europeu?!

Tal como aqueles casais que, na iminência do divórcio, decidem ter um filho, Jean-Claude Juncker, o novo Presidente da Comissão Europeia, considera que, face à tão iminente quanto evidente desagregação europeia, não há nada de mais oportuno do que criar um Exército Europeu (?!). É a vetusta política da “fuga em frente”, em todo o seu esplendor. 

Para mais, a motivação exógena consegue ser tão absurda quanto a endógena: supostamente, esse Exército Europeu seria a melhor forma de conter a “ameaça russa” na Ucrânia. Também aqui, na verdade, nos estão a atirar areia para os olhos. 

Com efeito, quem promoveu este conflito com a Rússia foi a própria União Europeia, ainda que com o apoio dos EUA, ao fazer um rol de promessas à Ucrânia que não poderia cumprir. Ao ter incentivado uma atitude anti-russa junto das autoridades ucranianas, tudo o que a União Europeia fez foi promover a própria desintegração interna da Ucrânia, por mais que se venha a manter alguma unidade formal, a bem do respeito das aparências diplomáticas. 

Façamos uma comparação que só peca por defeito. Imaginemos que a União Europeia, ainda que de novo com o apoio dos EUA, incentivava Portugal a ter uma atitude anti-espanhola. Não sendo a desproporção de forças tão grande como a existente entre a Ucrânia e a Rússia, é fácil de perceber que, ainda assim, essa atitude seria suicidária. Obviamente, Portugal tem que procurar manter sempre uma relação cordial com Espanha. 

Nalguns casos, de facto, como neste, a geografia é determinante. Já para não falar da extensa comunidade russófona que vive na Ucrânia – em particular, na sua zona leste –, nem sequer da história política que a Ucrânia e a Rússia partilham há séculos. Imaginar que se poderia agora fazer tábua rasa de tudo isso denota bem o estado de alucinação dos nossos governantes, a começar pela Comissão Europeia. A falta de realismo é sempre meio caminho andado para o desastre. O que nos vale é que a própria realidade se encarregará de fazer abortar essa proposta de um Exército Europeu. 

Decerto, nunca iremos pois ver um português a combater na Ucrânia em nome de Portugal. E não se trata aqui de considerar que os portugueses devem defender apenas o seu território. Longe disso. Julgamos, por exemplo, como já aconteceu, que é possível e até desejável ver portugueses a defender a integridade territorial e a paz interna de países irmãos lusófonos. Nesses casos, o risco de vida é plenamente justificável. Nesta alucinada guerra com a Rússia é que não. De todo. 


Post Scriptum - 28 de Março, às 17h, no Ateneu Comercial do Porto: 3ª sessão do Ciclo Sampaio Bruno | 31 de Março e 1 de Abril, na Sociedade de Geografia de Lisboa: 3º Congresso da Cidadania Lusófona, com Jantar de Encerramento no Clube Militar Naval (ver programa: 
www.cidadanialusofona.webnode.com).



Renato Epifânio (membro da Coordenação Nacional do +D)
Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.             

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