O fenómeno das praxes académicas é muito mais que o "fenómeno das praxes académicas". É um epifenómeno que deriva diretamente desta aceitação do Poder, desta passividade atávica que marca o ethos luso e que nos chegou por várias vias cruzadas: a conformação ao Destino do judaísmo; a crença num Deus protetor e atuante do Cristianismo, a aceitação de uma hierarquia omnipoderosa, omnisciente e omnipresente, do Catolicismo (reforçada depois no Absolutismo e, mais recentemente, no Estado Novo).
No fenómeno da "praxe académica" existem quatro arestas fundamentais: o dux praxador (ignorante, arrogante e violento), o praxado-passivo, o Estado tolerante e a Reitoria cúmplice. Embora, destas quatro arestas o maior responsável pelo extremo a que hoje chegamos, seja a aresta-agente, aquela que organiza e age no fenómeno (o "dux", associação de estudantes ou "comissão" de praxe), na verdade, aquele que a aceita, que se submete ao jugo ditatorial de um bando de rufias que obteve o mérito em função da acumulação de chumbos ou do nível de boçalidade ou arrogância interpares é, pelo menos, tão responsável como o agente. Agente ativo de um lado, agente passivo do outro. Um que aplica, o outro que aceita a aplicação, a sujeição a estado sub-humano, de submissão, de menorização perante o Poder. É este agente-passivo que depois, aceita bovinamente todas as outras formas de opressão que a vida vai derramar sobre si, passivamente, sempre, sem um só pio de revolta ou insubmissão e temperando sempre todas as atitudes pelo Medo.
Rui Martins (membro da Coordenação Nacional do +D)
Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.
Sem comentários:
Enviar um comentário