A convocação de referendos em
Portugal parece estar amaldiçoada, o que é decerto estranho num regime que se
diz “democrático”. Dentre todos os instrumentos democráticos de consulta
popular, o referendo deveria ser o mais estimado, porque é aquele onde a
vontade popular mais claramente se pode exprimir, sem mediações.
Volta e meia, a nossa classe
política acena-nos com o mil vezes prometido referendo “sobre a Europa”, mas
logo se arrepende depois. Deve pensar, para si própria: “e se o povo, que é
estúpido, votar contra?”. Nunca fiando…
Já que de vez em quando é
preciso convocar um referendo – até para confirmar que somos mesmo um regime
“democrático” –, em vez de questões menores, como a nossa integração europeia,
surgem questões tão decisivas para o nosso futuro colectivo como a questão da
“co-adopção por casais homossexuais”. De facto, não haveria questão mais
relevante a colocar este ano num referendo.
Voluntária ou
involuntariamente, o resultado desse eventual referendo está à vista: uma massiva
abstenção, ainda maior do que em referendos anteriores. Depois, decerto, terão
ainda o descaramento de nos dizer: “Não vamos, uma vez mais, convocar nenhum
referendo sobre a nossa integração europeia porque, provavelmente, a abstenção
será muito grande e isso fragilizará a nossa posição na Europa”. Descaramento,
de facto, não lhes falta.
Renato Epifânio (membro da Coordenação Nacional do +D)
Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.
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