quinta-feira, 12 de junho de 2014

[Opinião +D] Portugal ainda tem Gente?!

Na semana passada estive nas Finanças. Local onde cada vez mais de nós tem de ir para tentar tratar e resolver(?!) reais problemas de dificuldades de pagamento de “dívidas” que nos vão dizendo e incutindo que temos de pagar, tenhamos ou não dinheiro para o fazer…
Mesmo que todos tenham perfeita consciência da impossibilidade de muitos (e os funcionários destes serviços têm-na há muito e cada vez mais tentam ajudar no que podem) de fazer outra coisa que não seja deixar “alegremente” seguir tudo para execução fiscal para depois poder vir a ver os seus já normalmente parcos bens serem penhorados, não se abdica duma frieza de ação própria de um país que só pensa nos números e que não se lembra mais que nada faz sentido sem pessoas.
Como é possível ser-se insensível ao ponto de exigir dos reformados valores de IRS completamente incomportáveis e inadequados às imprescindíveis despesas de um simples lar que, pelo menos enquanto não os quisermos matar de solidão e fome, são quase sempre completamente inevitáveis?! Como é possível exigir que quem tem casas, que gradualmente vêm perdendo o seu valor comercial e que quem já não as pode sustentar não as consegue vender e tem praticamente de as doar, pague um IMI não suportável?! Como é possível que, até ao morrermos, tenhamos primeiro de ter quem nos pague o funeral para recebermos largos meses depois o respetivo pagamento da Segurança Social, que não o faz sem o comprovativo de estar tudo completamente pago e saldado?!
E quem somos nós, 10 milhões de portugueses, que continuamos a amedrontarmo-nos com estas ameaças, que, qual criminosos, aceitamos como  a nossa “pena” e, pior, a dos outros, sem qualquer revolta, sem qualquer tentativa de ação conjunta e refugiamo-nos mas é na necessidade da nossa (suposta mas só infrutífera) defesa pessoal?
E porque não nos revoltamos? Porque não assumimos que também fazemos parte desse grupo que já não pode suportar a dita austeridade que mais não é do que tortura? Não assumimos porque temos vergonha! Vergonha de um suposto crime que não cometemos! Vergonha de não conseguirmos cumprir as responsabilidades que na realidade são dos outros…
Até quando o faremos?! Até percebermos que já nada temos a perder e que a única opção é unirmo-nos pela mudança. Conhecem outra forma? Eu não… Mas sei também que, acomodados e convencidos de que ainda temos muito a ganhar para nós próprios individualmente ao sermos coniventes com aqueles cuja postura só podemos e devíamos condenar e ajudar a punir, não vamos chegar a lado nenhum. E infelizmente, julgo mesmo que, se nos continuarem a saber “apertar os calos” inteligente e progressivamente, não iremos reagir…
Mas, no fundo, no fundo, ainda tenho uma réstia de esperança de que um dia, finalmente, venhamos a cumprir a canção do Pedro Abrunhosa: “Todos, todos, lá para trás; Queremos pão, queremos paz; Todos, todos lá para trás.”
Francisco Mendes (Membro da Coordenação Nacional +D)

Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.

quarta-feira, 11 de junho de 2014

[Opinião +D] "Talvez seja tempo de juntar pessoas que pensem em novas palavras, novos modelos, novos países e também novos cidadãos."

"Talvez seja tempo de juntar pessoas que pensem em novas palavras, novos modelos, novos países e também novos cidadãos. Tempo de criar uma ideologia revolucionaria de futuro que seja um aprofundamento da democracia e não uma metástase de fascismos à direita e à esquerda.
Uma ideologia moral e não amoral. Uma civilização que se saiba proteger da barbárie de nós próprios, da ambição desmedida e sobretudo que nos salve de um mundo sem controlo onde os mercados têm o verdadeiro poder e não os Estados. Mercados que não são controlados por ninguém. Um mundo de loucos." Luís Osório, Sol de 5 de junho de 2014.

Essa "ideologia de futuro" já existe. Mas não é exatamente uma "ideologia", mas mais uma "metodologia", um conjunto de técnicas, métodos e processos de refundação da democracia representativa conhecido como "democracia participativa". O objetivo, o vetor e o impulso é o de introduzir de forma gradual, a democracia semidireta na atual bloqueada, desacreditada e, pior ainda, corrompida, democracia representativa.

Existem duas formas de concretizar esta "revolução tranquila": formando partidos novos, de matriz participativa ou reformando, por dentro, os partidos existentes. A primeira via pode parecer mais "pura" ou simples, mas dadas as limitações impostas pela Lei dos Partidos, a crónica insuficiência de recursos financeiros numa organização deste tipo (excepto quando aparece um "Beppe Grillo"....) e a falta de cobertura mediática, leva-nos a crer que essa via está barrada. Resta, até por exclusão de partes, a via da reforma partidária, a partir de dentro, em correntes de opinião ou tendências (nos partidos que as permitem) e introduzir pouco a pouco, de forma gradual, paciente mas decidida os princípios, métodos e ferramentas da democracia participativa.

Não vai ser fácil reformar, a partir de dentro, os partidos políticos.
Especialmente aqueles que se têm alternado, num malfado "ciclo eterno" no poder, naquilo a que nos finais do século XIX se designava de "rotativismo democrático": as teias de interesses (financiamentos, troca de favores e empregos, corrupção) são densas. A distância entre os aparelhos semiprofissionais e os militantes de base enorme. A crise de representatividade enorme, como indiciam os esmagadores (e crescentes) números da abstenção. Não vai ser fácil vencer todos estes obstáculos, mas é possível. Apesar de toda a canga que se desenvolveu e fez carreira desde as "jotas" nos partidos, continua a existir uma maioria de militantes e até de dirigentes (em todos!) que genuinamente acredita em fazer o melhor pelo país, que o seu trabalho é um serviço e que se conduz por aquilo que crê ser o melhor interesse público. Mas apesar de maioritários, esses militantes são proporcionalmente muito menos influentes que os elementos corrompidos (não necessariamente "corruptos") pela Situação. Tal bloqueio pode ser vencido. Insuflando novos militantes, reorganizando os militantes em novas forças internas que defendam os valor da participação e da cidadania e renovando, por dentro, os partidos políticos.

Precisamos de uma Democracia 2.0. E essa democracia é possível. Assim o queiramos que seja. Dentro dos partidos (se tal for mesmo possível!)
Ou fora, criando novos.

Rui Martins (membro da Coordenação Nacional do +D)

Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

[Opinião +D] Saudação a um “anti-lusófono”

Realiza-se esta semana mais um Colóquio sobre a lusofonia – o que constitui, por si só, um bom sinal dos tempos. Não há semana que passe sem que não se multipliquem os encontros sobre a lusofonia ou de escala lusófona, como, por exemplo, os encontros lusófonos de ordens profissionais: engenheiros, médicos, etc.
Este a que me refiro e em que irei participar, apresentando o mais recente número da revista NOVA ÁGUIA, tem por título “Agostinho da Silva: o rosto da lusofonia”, o que igualmente constitui um bom sinal dos tempos: não só Agostinho da Silva não é esquecido, vinte anos já após a sua morte, como é cada vez mais recordado como um dos “rostos da lusofonia”.
Lamento apenas que, para este Encontro, não tenha sido convidado António Pinto Ribeiro (APR). Um ano após ter expressamente pretendido, nas páginas do jornal PÚBLICO, “acabar de vez com a lusofonia” (18.01.2013), volta agora à carga, com a sua estafada tese de que “a lusofonia é, por seu lado, na sua componente neocolonial e passadista, uma das formas mais arcaicas de relacionamento com o mundo na sua diversidade” (“Podemos ter presente?”, PÚBLICO, suplemento “Ípsilon”, 30.05.2014, p. 37).
Decerto, todos os presentes neste Encontro – que deveria mudar assim o título para “Agostinho da Silva: o rosto do neocolonialismo” – gostariam de ser confrontados com o “facto” de serem, no fundo, neocolonialistas, a começar por Mário Soares, um dos participantes no mesmo. É sempre bom ser revelada a verdade sobre nós próprios, por mais surpreendente que seja.
Não tendo sido APR convidado para cumprir essa tão benéfica tarefa, permitir-me-ei ser o seu porta-voz. No fundo, concordo com ele: também eu considero que “a lusofonia é uma das formas mais arcaicas de relacionamento com o mundo na sua diversidade”. Mas não, claro está, pelas mesmas razões. No “meu” dicionário, o termo “arcaico” deriva da palavra grega “arcké”, que significa “princípio”. Concluo pois assim que a lusofonia, pela importância que confere à língua, à cultura e à história, é, no nosso caso, uma das formas mais principiais (e, por isso, fundamentadas) de relacionamento com o mundo na sua diversidade.
Quanto aos demais qualificativos – “neocolonial” e “passadista” –, aí vou ter que corrigir APR. Não sendo preciso aduzir muitos argumentos.
Basta lembrar um facto: só há relação (neo)colonial quando há um (neo)colonizador e um (neo)colonizado; ora, atendendo a que (facto indesmentível) são cada vez mais os ex-colonizados os primeiros a falar de lusofonia, por vezes perante a indiferença e até a relutância dos ex-colonizadores, isso, por si só, desfaz a “tese” de APR; a menos que se argumente que há povos que gostam de ser (neo)colonizados, o que, julgo, nenhum de nós defende.
Se não for esse o caso, eu próprio convidarei APR para um Colóquio que se realizará em Cabo Verde, a 17 e 18 de Julho, onde estarei igualmente presente, para “pensar a lusofonia no século XXI”. Os cabo-verdianos,  sem dúvida, gostarão de saber que, ao falarem cada vez mais de lusofonia, estão na verdade a manifestar a vontade de serem (neo)colonizados… É de facto extraordinária a capacidade reiterada de  algumas pessoas de verem o mundo ao avesso. Há dez anos, para não recuarmos mais, muito poucos falavam de lusofonia. Há cinco anos, apenas poucos mais. Hoje, é difícil encontrar alguém que não compreenda a importância estratégica da lusofonia para o nosso futuro colectivo à escala global. Felizmente, temos APR. Saudemo-lo por isso.

Renato Epifânio (membro da Coordenação Nacional do +D)

Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina. 

sábado, 7 de junho de 2014

[Opinião +D] Redes locais

Todos nós sabemos que a sociedade que nos rodeia precisa de ser menos egoísta e que temos sérias dificuldades à nossa volta. Supostamente nada temos a ver com isso. Essas questões são do foro do Estado e não me devo intrometer na vida dos outros.
Será que nada temos a ver com isto?
Pergunto então quem é o Estado? (das ideologias mais liberais às mais comunistas todos vão dizer que o Estado somos nós todos).
Em países mais evoluídos estes temas são abordados pelos seus cidadãos desde pequenos nas escolas, em componentes cívicas e colocadas num ponto de vista em que tudo nos diz respeito. Segundo esses parâmetros, se um passeio está danificado é nosso dever comunicar às autoridades competentes para fazerem a sua reparação, se alguém passa fome temos a obrigação de, se não pudermos, pedir apoio a instituições que possam ajudar as famílias carenciadas. Se há pessoas da terceira idade que por questões de mobilidade têm dificuldade de ir ao centro de saúde, há que arranjar meios para podermos facilitar os seus cuidados médicos.
Por outro lado, fazer acções de voluntariado e criar redes que possam colmatar as faltas do Estado é uma boa forma de fazer estas ligações que faltam. Veja-se o caso do ReFood em que toneladas de comida iam para o lixo e que estavam em bom estado. Agora um grupo de voluntários vai buscar aos restaurantes essa comida em excesso para dar a quem mais precisa.
Em Cascais, já há voluntários para serem uma espécie de “curadores” de bairro. São pessoas que têm um telemóvel da Câmara Municipal, tem só uns números pré-determinados (serviços da Câmara) que os voluntários devem contactar em caso de dano de algum equipamento de rua.
Quanto a idosos sem mobilidade ainda não sei quem possa resolver esta questão. Quem sabe um dia destes o +D comece a organizar esforços para isto acontecer!
Ricardo Trindade Carvalhosa  (membro da Coordenação Nacional do +D)

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quinta-feira, 5 de junho de 2014

[Opinião +D] Mamã aquele menino não me dá os chocolates!

Mas que mal fizemos para merecer este bando de chantagistas a governar-nos? Algum devemos ter feito. Como é possível estarem na mó de cima fazendo tanta porcaria impune e despudoradamente ? Porque os endeusamos ?
Acho que não! Acho que é do Síndroma do Chocolate. Toda a gente que é gente quer meter a mão no pote do Mel e lambuzar-se pelo que vai reproduzindo de um lado para o outro e de cima para baixo o que o  possa manter ao alcance dos que distribuem o acesso ao tesouro doce. Pode ser uma migalha ou um lingote. Tudo serve e justifica a palmadinha nas costas e outros atos de afeto contrabandeado. Como querem que acreditem e acompanhem os caminhos e ideias que vão defendendo conforme as circunstâncias ? Não há pachorra nem vontade de suportar estas birras. Trata-se afinal de quem define e cava os alicerces do futuro. Quero acreditar que são o alicerces do futuro e não o seu túmulo, mas os meninos da birra do chocolate cada vez estão mais parecidos com coveiros.



Carlos Seixas  (membro da Coordenação Nacional do +D)
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terça-feira, 3 de junho de 2014

[Opinião +D] É triste mas é verdade

Celebrou-se há pouco o dia da criança e, triste noticia: um quarto das crianças em Portugal vive na pobreza - mais de 27% - . Recuou-se uma década relativamente ao que havia sido conseguido já.  Sem dinheiro,  para material escolar, para transportes, para comer, estamos perante uma infância comprometida e, injustamente sofredora.  Os restantes, mesmo os que eram considerados da classe média, vivem as dificuldades inerentes às da sua estrutura familiar, sendo exemplos de tal: a ausência das saídas habituais em família, a suspensão de atividades extra curriculares  (a aprendizagem da música, entre outras), a ter, enfim, melhor educação. O direito de ser criança vê-se, assim, comprometido o que, naturalmente, dará lugar a um retrocesso civilizacional, sem precedentes. Acresce, a este facto, que os mais favorecidos, tanto económica como intelectualmente, são os que continuam, apesar de tudo, a ter mais privilégios, maiores financiamentos, através do erário publico, para a sua educação. Nos outros, "coitados", não vale a pena apostar. " Quem manda o sapateiro querer subir acima da sua chinela...?"  Mas onde andam os direitos da criança, proclamados há 55 anos (20 de Novembro de 1959) e, nomeadamente, o Principio II: "Direito a especial proteção para o seu desenvolvimento físico, mental e social", nesta política elitista e rocambolesca, Cratiana? E, o pior é que tenho visto isto defendido por, supostamente, "boas consciências". Vivemos acima da média, dizem. O mal foi a melhoria das condições sociais, o acesso à educação e à saúde, a ter na dieta alimentar leite e mais proteínas. A ter uma casa com luz e água. a deixar de andar de burro (parece que acabaram...) e a locomovermo-nos nuns carritos. Dos cada vez mais ricos não se fala ou então é para evidenciar o seu papel de "anjinhos da guarda" de protetores dos pobres. E das swaps (?), e dos submarinos (?), e dos investimentos aos bancos (estrangeiros) seus resgates disfarçados (?), e de todos os luxos de poucos, (?) e das "desgovernanças"...?  Disso não se fala ou pelo menos fala-se "à boca pequena", e de forma inconsequente. Uns estão condenados a ser pobres porque, os especiais (poucos), tem que comandar esta coisa. Salvar a Pátria, como se tem visto.Talvez um dos nossos patriarcas traga, de Copenhaga, boas noticias. Agora é que vamos ter boa saúde e... para todos. Talvez que a cultura também passe a ser mais erudita. Tenhamos fé.  


 Maria da Conceição Serrenho Couvaneiro (Conselho Geral do +D)

 Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de  membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina. 

segunda-feira, 2 de junho de 2014

[Opinião +D] Ainda sobre as Eleições Europeias

Ainda quanto ao candidato Marinho e Pinto, não o reduziria, ao contrário de muitos, a um epifenómeno “populista”. O seu resultado, na minha perspectiva, mostra que há espaço, muito espaço, para uma verdadeira alternativa à partidocracia que nos tem (des)governado nas últimas décadas. E mostra também que, em última instância, contam mais as  pessoas: mal ou bem, Marinho e Pinto parece bem menos “plástico” do que a maior parte da nossa classe política.
A essa luz, os resultados dos votos brancos e nulos é igualmente significativo: no seu conjunto, mais de sete por cento. O que é mais um sinal exuberante da inexistência de uma verdadeira alternativa à nossa partidocracia. Mas ela chegará, fatalmente. Se o princípio de que “é preciso mudar alguma coisa para que tudo fique na mesma” é sempre o lema da “situação”, qualquer que ela seja, resta recordar o não menos forte princípio de que “a natureza tem horror ao vácuo”. Decerto, poderíamos evitar bater mesmo no fundo. Mas,aparentemente, será isso que irá acontecer. Só quando chegarmos ao “vácuo” acordaremos, horrorizados, do nosso torpor…





Renato Epifânio (membro da Coordenação Nacional do +D)

Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.