Sabe-se o que um diz do outro, e sabe-se o que querem, mas não dizem.
Um diz que não está nas suas intenções. O outro diz que é uma intenção
escondida do outro, mas talvez diga isso, porque não quer que se
descubra a sua.
Nas estações públicas de tv, vão correr um contra o outro. Ao
Domingo, espreitam-se, criticam-se. Um é cuidadoso, mas perdeu umas
eleições cruciais em Lisboa, o outro destemido venceu alegremente duas,
ambos em partidos diferentes, um é metade do outro, completam-se.
Um quando fala mete muito medo, atacam-no como um diabo, mesmo antes de
ter falado, ou quando se anuncia que vai falar, querem-no
proscrito, calado, proibido, até lhe chamam mentiroso.
O outro é
venerado. Parece só dizer verdades, embora embrulhe mentiras nos
pacotes que ministra ao seu público -eleitorado, nas suas intervenções
televisivas, dominicais.
Ambos têm ódios e amores de estimação, e os dois sabem manejar o
florete para matar os inimigos, com palavras sibílinas, bem pensadas.
Um
vem ajustar contas com o passado. O outro ajustá-las com o futuro.
Pode ser cedo para ambos, por suceder virem a ser ultrapassados pelos
acontecimentos do futuro, que corre acelerado, e não podem prever.
Enfim, podiam chamar-se ambos ,Sebastião, mas não são esses os seus nomes de baptismo.
Porém,
os dois sabem, que desde o começo desta crise, grande parte dos
portugueses, sem esperança, desiludidos, anda à espera de quem os leve
deste nevoeiro tão sombrio, e tão pesado, de um D. Sebastião, como o das
trovas de Bandarra, que será idolatrado como um Meirinho, em que o
campo é Portugal.
Acham esses que precisamos disso, e que o mundo só pode girar ou parar, à volta de tais personalidades.
Porém
o que precisamos é de mais cidadania, mais consciência política, mais
democracia, mais participação activa de todos nós neste processo lento,
mas novo, de mudanças, em que estamos mergulhados, pois estamos em fim
de época, com outra a começar, embora não saibamos bem ainda, nem onde
vamos
parar.
Seria desejável entretanto, que pelo caminho pudessem vir a surgir
outras gentes diferentes, que saiam fora destes esquemas, destas
lógicas mediáticas, partidárias, clubistas e fechadas sobre si mesmas,
para responder às situações e desafios novos, que teremos de enfrentar,
com decisão, das quais os tradicionais comentaristas e políticos
televisivos, ou não falam, ou fogem delas.
Nessa altura da viragem, nem um preclaro professor, nem um inteligente engenheiro, poderão já ser escutados.
Se ao menos, as suas narrativas mudassem, para outras muito diferentes, que, essas sim, todos precisamos, e desejamos ouvir...
Aqui para nós, creio, que cada um deles pensa ir na direcção certa, e poder-nos levar com ele.
António Serzedelo (membro da Coordenação Nacional do +D)