A evolução da Europa,
nas últimas décadas e até à chegada dos efeitos da crise de 2008, vinha a
piscar o olho aos cidadãos com a facilitação de um padrão de consumo nunca
antes conhecido, por via de um maior acesso a fontes de financiamento fáceis e
baratas. Em Portugal este fenómeno de democratização económica teve
expressão no crescimento inusitado do crédito à habitação própria e a segundas
habitações, e posteriormente, ao crédito pessoal para aquisição de bens.
Criou-se assim um novo
país das maravilhas, onde as pessoas viajavam com os seus novos carros pelas
melhores autoestradas e as facilidades de consumo provavam que não era mais
necessário as pessoas preocuparem-se com essas questões da política, bem
entregue a quem estaria a construir uma nova sociedade de abundância, e bem
articulada regionalmente com as novas instituições europeias, estas aliás,
geridas por pessoas de elevada
respeitabilidade, principescamente remuneradas é certo,
mas eivadas dos melhores propósitos e assistidas
por reputadíssimos especialistas. Tudo levava a crer que só podia dar
certo.
Quebrados os
pés-de-barro do modelo de governação político-económico adotado, os
cidadãos mais atentos já perceberam que nem as políticas são tão neutras como
pareciam, relativamente aos seus interesses próprios, nem
os protagonistas eram tão impolutos como pareciam, nem o
futuro de cada um seria tão viável quando chegámos a supor.
A onda de emigração
que em consequência daquela rotura se gerou nos últimos anos em
Portugal, foi uma das respostas dadas por algumas centenas de milhar de
cidadãos. Mas o desafio fundamental permanece sem resposta. Ou os cidadãos
passam a tomar parte quotidianamente na vida política do seu pais, a começar na
sua freguesia e concelho, e a usar os seus direitos políticos de uma vez, ou
daqui a 10 anos estaremos ainda mais alienados e dependentes de oligarquias que
se vão refinando e organizando em direção a formas cada vez mais
autoritárias, que só admitem via única para resolver os problemas que são de
toda uma nação e estilhaçam as possibilidades de gerar a alternância política.
Fernando Lucas (membro da Coordenação Nacional do +D)
Os
textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos
órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.
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