domingo, 9 de março de 2014

[Opinião +D] Por onde vai esta “democracia”?



A evolução da Europa, nas últimas décadas e até à chegada dos efeitos da crise de 2008, vinha a piscar o olho aos cidadãos com a facilitação de um padrão de consumo nunca antes conhecido, por via de um maior acesso a fontes de financiamento fáceis e baratas. Em Portugal este fenómeno de democratização económica teve expressão no crescimento inusitado do crédito à habitação própria e a segundas habitações, e posteriormente, ao crédito pessoal para aquisição de bens.

Criou-se assim um novo país das maravilhas, onde as pessoas viajavam com os seus novos carros pelas melhores autoestradas e as facilidades de consumo provavam que não era mais necessário as pessoas preocuparem-se com essas questões da política, bem entregue a quem estaria a construir uma nova sociedade de abundância, e bem articulada regionalmente com as novas instituições europeias, estas aliás, geridas por pessoas de elevada respeitabilidade, principescamente remuneradas é certo, mas eivadas dos melhores propósitos e assistidas por reputadíssimos especialistas. Tudo levava a crer que só podia dar certo.

Quebrados os pés-de-barro do modelo de governação político-económico adotado, os cidadãos mais atentos já perceberam que nem as políticas são tão neutras como pareciam, relativamente aos seus interesses próprios, nem os protagonistas eram tão impolutos como pareciam, nem o futuro de cada um seria tão viável quando chegámos a supor.

A onda de emigração que em consequência daquela rotura se gerou nos últimos anos em Portugal, foi uma das respostas dadas por algumas centenas de milhar de cidadãos. Mas o desafio fundamental permanece sem resposta. Ou os cidadãos passam a tomar parte quotidianamente na vida política do seu pais, a começar na sua freguesia e concelho, e a usar os seus direitos políticos de uma vez, ou daqui a 10 anos estaremos ainda mais alienados e dependentes de oligarquias que se vão refinando e organizando em direção a formas cada vez mais autoritárias, que só admitem via única para resolver os problemas que são de toda uma nação e estilhaçam as possibilidades de gerar a alternância política.



 


Fernando Lucas (membro da Coordenação Nacional do +D)


Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.

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