domingo, 9 de fevereiro de 2014

[Opinião +D] Governar o país com estilo financeiro

A propósito do leilão das obras de Juan Miró, retiradas do espólio do BPN, vimos este mês o governo promover apressadamente a venda de toda a coleção, invocando aos quatro ventos, que desta forma estaria a renunciar a pedir outro tanto esforço tributário aos portugueses, apesar de essa operação não contar mais de 1% do esforço em causa.

Criadas duas empresas - Parvalorem e Parups – para recuperar os visados créditos mal parados, também designados por “ativos tóxicos”, compete-lhes recuperar dívidas em dinheiro ou em outros ativos, de que as obras de Miró são um exemplo, “criteriosamente e com o sentido bem presente do “Interesse Público”, como é próprio de empresas do Estado Português.

No entanto, depois de terem sido recuperadas, não é a venda urgente daquelas obras que tem influência no tal esforço que o governo tem exigido aos contribuintes. O principal problema que subsiste nesta matéria são os cinco ou seis mil milhões de euros que estas empresas têm de cobrar a devedores em operações de duvidosa racionalidade bancária.

Ora, a pressa em vender aquelas obras, atropelando regras processuais do interesse público, deveria ter sido antecedida de uma avaliação da possibilidade de esse espólio, que já estava sob a alçada do Estado, poder ser enquadrado, em parte ou no seu todo, em algum Museu Nacional de Arte.

Mesmo se a opção política fosse vender os quadros, seria recomendável escolher o momento e o ritmo para lançar no mercado um tão importante volume de obras de um só artista. Nada disto aconteceu.

O Secretário de Estado da Cultura, com a maior parte dos seus pares, só tem do interesse público a noção de que é preciso fazer dinheiro. Para quem governa o país sob a batuta das Finanças, o mínimo que se pode dizer é que nem a fazer negócios estes governantes salvaguardam o interesse público.

 

Fernando Lucas (membro da Coordenação Nacional do +D)

Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.

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