sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

[Opinião +D] Campinos e taxa de fotografia ?



Moro a uma hora e meia de Lisboa numa pequena sede de concelho à beira Tejo plantada. Solos de classe A, água disponível para regas a 20 metros de profundidade, estradas alcatroadas, muitas das vezes na espinha dorsal dos acessos às propriedades agrícolas e energia elétrica que permite automatizações baratas e facilidades de utilização que até há duas décadas e meia atrás, aqui não eram possíveis. Nessa altura ainda encontrava na minha rua pequenas lojas e oficinas de artífices que não tinham mãos a medir para as encomendas. Hoje tirando um café um restaurante o serviço de águas e a igreja já pouco mais resta. Até o mercado Municipal restaurado alberga um só vendedor que teimosamente insiste em trazer as couves, nabiças e cenouras que produz numas courelas junto à vila. No Concelho havia algumas unidades que empregavam mais do que a família dos proprietários e entretanto fecharam na maioria dos casos por não acompanharem os desafios do mercado em que se inseriam. Por isso os mais novos se vão fixando mais longe, alguns, muitos na capital ou em zonas de maiores, ditos, índices de desenvolvimento. Os agricultores que aqui dispõem de condições naturais e de escoamento quase únicas no país, todos os anos, passe o exagero, se concentram em Dezembro, à porta das instituições de crédito, respeitosamente de chapéu na mão, para solicitar a revisão em alta das avaliações do património para que o plafond das garantias reais suba e possam dispor de algum dinheiro para a campanha seguinte. Haja esperança para que alguma coisa venha a correr melhor. Com um quadro assim, lembro-me que um amigo então me dizia que nos adivinhava um futuro promissor vestidos de Campino em frente a um qualquer casebre e a cobrar uma taxa por cada fotografia que os visitantes estrangeiros ou nacionais nos fizessem. Não acreditei nisso, nem acredito e tento que não se cumpra este vaticínio e também não sei o que ele diria agora até porque faleceu aos 50, mas a continuação das politicas de concentração de serviços com a correspondente supressão de presença junto das populações decerto não vai contribuir para a autonomia a auto estima e o desenvolvimento de um país que está muito para além da faixa de 40 Km junto à costa entre Setúbal e Braga.



Carlos Seixas  (membro da Coordenação Nacional do +D)

Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.

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