Uma das características da cultura ocidental que a tem
levado à entropia é a necessidade de guardar em contratos, tratados, protocolos
e outros escritos que se pretendem de efeito duradouro e racionalmente bem
construídos, assuntos que são predominantemente do foro dos sentimentos, na
tentativa vã de conservar o bom e
repudiar o mau, como se fosse
possível ter só o melhor! O mais comum é o contrato de casamento que consegue
converter numa massada desconcertante e castrante, aqueles bocados da vida em
que surfámos em comunhão com o universo alternativo das hormonas. Mas deste,
cada um que se aguente às consequências. Outro mais consequente e também nada
racional, é o contrato de partido. Sim, aquele ato em que as pessoas se filiam
no partido, é um contrato em que o cidadão oferece a sua disponibilidade em
troca da militância, como modo de ultrapassar a incapacidade de sozinho, ser
parte do processo político. O que chamamos democracia, assenta neste contrato. É alheio
ao reconhecimento da individualidade, ao respeito pela diferença existente em
cada um e que tem sido o santo graal
desta cultura, aqui trocados pela massificação partidária logo que o indivíduo
se propõe fazer parte do processo político! Vamos por partes: além da filiação partidária,
o que têm em comum todos os indivíduos de um partido? Nada! Talvez a ousadia de
- e só - quando em grupo e no resguardo genérico do partido, defenderem
contradições como p.exp. privatizações com estabilidade laboral, ou
nacionalizações sem endividamento, ou união europeia sem sermos tutelados
economicamente… enquanto iludidos com estas quimeras, não se gastam na aridez
das suas realidades! De resto, todos conhecemos comunista que vive de rendas e fascista
que vive da saúde pública, sem que os seus credos de vida sejam compatíveis com
os credos partidários.
Maria Leonor Vieira (Membro
da Coordenação Nacional +D) Os textos de opinião aqui publicados, se
bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as
posições pessoais de quem os assina.
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