sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

[Opinião +D] 050214 AINDA DEMOCRACIA

Uma das características da cultura ocidental que a tem levado à entropia é a necessidade de guardar em contratos, tratados, protocolos e outros escritos que se pretendem de efeito duradouro e racionalmente bem construídos, assuntos que são predominantemente do foro dos sentimentos, na tentativa vã de conservar o bom e repudiar o mau, como se fosse possível ter só o melhor! O mais comum é o contrato de casamento que consegue converter numa massada desconcertante e castrante, aqueles bocados da vida em que surfámos em comunhão com o universo alternativo das hormonas. Mas deste, cada um que se aguente às consequências. Outro mais consequente e também nada racional, é o contrato de partido. Sim, aquele ato em que as pessoas se filiam no partido, é um contrato em que o cidadão oferece a sua disponibilidade em troca da militância, como modo de ultrapassar a incapacidade de sozinho, ser parte do processo político. O que chamamos democracia, assenta neste contrato. É alheio ao reconhecimento da individualidade, ao respeito pela diferença existente em cada um e que tem sido o santo graal desta cultura, aqui trocados pela massificação partidária logo que o indivíduo se propõe fazer parte do processo político! Vamos por partes: além da filiação partidária, o que têm em comum todos os indivíduos de um partido? Nada! Talvez a ousadia de - e só - quando em grupo e no resguardo genérico do partido, defenderem contradições como p.exp. privatizações com estabilidade laboral, ou nacionalizações sem endividamento, ou união europeia sem sermos tutelados economicamente… enquanto iludidos com estas quimeras, não se gastam na aridez das suas realidades! De resto, todos conhecemos comunista que vive de rendas e fascista que vive da saúde pública, sem que os seus credos de vida sejam compatíveis com os credos partidários.

 
Maria Leonor Vieira (Membro da Coordenação Nacional +D) Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.

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