domingo, 4 de maio de 2014

[Opinião +D] Troika vai-te embora…

A troika está de saída do nosso país e o governo afirma que é uma “saída limpa”. Esta expressão é, a meu ver, deveras curiosa. Ouvi atentamente a comunicação de Passos Coelho pois queria saber em que consistia essa anunciada limpeza.
O primeiro-ministro começou o discurso com uma alusão aos 40 anos do 25 de Abril e recordou, e bem, que ele (tal como eu) pertence à primeira geração que pôde crescer em democracia e em verdadeira liberdade e agradeceu esse legado. Falou depois da nossa entrada para a Europa e defendeu que este programa “tão exigente e duro” foi elaborado para assegurar a “nossa permanência numa democracia europeia, com um estado social forte e uma economia de mercado próspera” e lembrou que esse programa foi motivado pelo colapso de 2011, provocado pelo anterior governo que obrigou ao pedido de resgate.
Afirmou que se seguiu “um período de emergência nacional”. Depois referiu que todos os portugueses sofreram os efeitos desta crise e referiu as famílias, os desempregados, a baixa dos salários da função pública e o congelamento das carreiras, os cortes aos pensionistas, a instabilidade dos trabalhadores do sector privado, a perca de esperança dos jovens e afirmou que “todos sofremos com uma crise que poderia e deveria ter sido evitada”. Disse ainda que sabe que continua a ser difícil e que o crescimento alcançado é ainda débil. Afirmou que apesar disso “estamos no caminho certo”.
Ao ouvi-lo pensei que afinal o Primeiro-ministro tem consciência daquilo que a população portuguesa tem vivido. É verdade tudo aquilo que afirmou mas apeteceu-me fazer-lhe várias perguntas. Perguntas sobre casos de corrupção como o BPN, perguntas sobre medidas que foram anunciadas mas nunca concretizadas, tais como os cortes nos apoios às fundações privadas, perguntas sobre as PPP’s, etc, etc. Todos estes assuntos foram esquecidos mas todos eles poderiam ter aliviado a carga que foi cobrada a todos nós…
O discurso de Passos Coelho seguiu depois um discurso de tom optimista e triunfante que a mim soou mais a eleitoralismo do que a realismo. É verdade que das 12 avaliações a que Portugal foi sujeito, o nosso país teve sempre nota positiva mas eu pergunto-me a que preço isso foi conseguido e pergunto-me também até quando conseguirão as famílias portuguesas continuar a manter este nível de empobrecimento. Porque foi isso a que fomos obrigados. Fomos obrigados a empobrecer e quiseram convencer-nos que vivíamos acima das nossas possibilidades. Quem errou foi quem nos governou!
Claro que a culpa não foi só deste e do anterior governo. Teríamos que recuar vários governos e em todos eles encontraríamos “culpas” e a culpa foi também de todos nós porque lhes delegámos poderes e nunca lhes cobrámos os erros. Portugal está à beira do limite. Não me venham dizer que estamos melhores. Estamos piores. E aqui cito Vasco Lourenço, no dia 25 de Abril, no Largo do Carmo, Portugal não deve contentar-se em ser um país sub-europeu.
Actualmente a Alemanha está a conseguir o que não conseguiu através da força das armas na guerra. Está a conseguir dominar a Europa por causa da sua preponderância financeira e económica. É também esta realidade que todos nós devemos contrariar. E em Portugal nunca houve tanto desemprego, nunca tantos direitos foram retirados de uma forma tão arbitrária, os níveis de emigração voltaram a estar altíssimos, os salários reais regrediram aos níveis do tempo da ditadura, etc, etc… Portanto, esta é uma saída tudo menos limpa.
Margarida Ladeira (Membro da Coordenação Nacional +D)

Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.

sábado, 3 de maio de 2014

[Opinião +D] A propósito do 1º de Maio

Na passada quinta-feira foi o dia 1º de Maio, o dia do Trabalhador e nada melhor que esta altura para reflectirmos sobre as a situação do trabalho em Portugal.
Há muito tempo atrás escreveu-se na Constituição da República Portuguesa, que todas as pessoas teriam direito ao trabalhoe que ao Estado caberia assegurar e promover a execução de políticas de pleno emprego, assim como, igualdade de oportunidades. Tem-se visto que ao longo do mandato deste governo que se tem feito tudo menos respeitar a Constituição Portuguesa. Tem-se tomado muitas medidas, que em vez de criar empregos, têm estado a destruí-los.
Temos uma elevada Taxa de Desemprego, e entre a população jovem a percentagem de desempregados tem vindo a aumentar, atingindo neste momento o novo máximo de 35,4 % de desempregados.
É com muita tristeza que vejo os meus amigos partir para o estrangeiro, à procura de oportunidades de trabalho que lhe são negadas no seu país. Aqueles que conseguem trabalho têm que se sujeitar a trabalhos precários, temporários, trabalhos em part-time e mal pagos.
Muitos jovens gostariam de organizar a sua vida, ter a sua casa, a sua família, filhos, mas isso não é possível porque não encontram estabilidade económica para o fazer.
Tem que se ter cuidado com as reformas que forem feitas, para não cairmos nestas situações e evitarmos deixar o País sem futuro.
Precisamos urgentemente de soluções para o bem de todos e de um debate que traga ideias para resolver estes problemas, para bem do país e sem a preocupação de protagonismos políticos. 
Carlos Assunção (membro da Coordenação Nacional do +D)

Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.

quinta-feira, 1 de maio de 2014

[Opinião +D] Irracionalidade ou Premeditação?!

Desculpem mas já não consigo entender! Ou será que entendo é bem demais?!
O que pensará este Governo de nós, portugueses, e deste país, que creio ainda se chama Portugal?!
Como podem continuar a teimar irracionalmente em tomar medidas que cada vez agravam mais e mais a já tão periclitante situação financeira da grande maioria da população e ir dizendo que o país está melhor? Parece que todos ali pensam, como dizia há tempos Luís Montenegro, líder da bancada do PSD na Assembleia da República: Portugal está melhor, os portugueses é que não! O que é Portugal então? Um deserto? Como podemos aceitar que o que conta e realmente interessa são os “números” e a parte humana, as “gentes”, nada significam? Portugal é um país de robots, de autómatos?!
Por isso, e admitindo que quem nos (des)governa não é só gente burra, temos de, cada vez com maior certeza, tomar consciência que há propósitos muito concretos que não são nem de perto os de precaver e tentar melhorar o futuro dos portugueses e de Portugal. Vão pensando bem nisto, pois esta cada vez vai sendo uma possibilidade mais concreta e real…
Numa fase em que já muito poucos conseguem (sobre)viver com alguma dignidade, em que os negócios não se dão, em que o consumo se refreia cada vez mais, vai-se aumentar o IVA e a TSU para os trabalhadores?! Para além disso, o que é que estas medidas vão adiantar para os cofres do Estado se o resultado mais que certo e óbvio é ainda maior retração económica?! Para quem prometia há 15 dias que em 2015 não ia haver aumento de impostos, não está nada mal…
Estas são medidas que constam do Documento de Estratégia Orçamental (DEO). Estratégia?! Qual estratégia?... A da destruição?! Reverterão estas receitas para o sistema de pensões, diz-se, mas corta-se na mesma nas pensões. Alguém me ajuda a compreender?!
E é assim que vamos sair do período de intervenção sem sequer um programa cautelar. São estas as medidas que nos vão fazer erguer a cabeça como país?! Só se for mesmo aos olhos míopes da Europa…
Já não há paciência… Não pode haver…
Francisco Mendes (Membro da Coordenação Nacional +D)

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quarta-feira, 30 de abril de 2014

[Opinião +D] Mudança de Paradigma

A queda do muro de Berlim é o símbolo do fim do comunismo, enquanto mundo-visão alternativa à concepção do progresso a que se designa de "Capitalismo". Essa queda, essa imposição (por deserção) do Pensamento Único capitalista fez largar de forma descontrolada um novo "diktat" económico e financeiro que se impôs a todo o globo, esmagando tudo e todos à sua frente. Onde havia antes contraposição entre Capitalismo e Comunismo temos hoje o monolitismo capitalista que usa a democracia como uma ferramenta de poder, controlando a produção e distribuição de informação, impondo condições laborais cada vez mais draconianas e contando sempre com uma partidocracia dócil e manietada por muitas e cruzadas formas de influência.
Depois da dualidade capitalismo-comunismo, do monopólo capitalista, urge preparar uma nova fase, uma fase abra espaço a novas formas de expressão cidadã, de dinâmicas de participação política e cívica. Essa nova fase corresponde também a uma nova dicotomia, desta feita a uma dicotomia democracia representativa (aquela que se deixou enredar na teia do poder económico-financeiro) versus democracia participativa.
De um lado, a democracia "institucionalizada", profissionalizada, aparelhística e sequestrada dos partidos atuais. Do outro, uma democracia dos cidadãos, aberta à participação, de partidos transparentes, dinâmicos, não profissionalizados, basistas e profundamente democráticos. Esta é a nova dualidade criativa, geradora de tensões dinâmicas e estimulantes para o progresso social e crucial para revivificar a nossa democracia.

Rui Martins (membro da Coordenação Nacional do +D)

Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.

terça-feira, 29 de abril de 2014

[Opinião +D] Abril valeu mesmo a pena

Fico perplexa e com um sentimento de injustiça quando ouço lamentar que Abril tenha sido o que foi. Pergunto-me quem, de boa consciência, o poderá fazer. Duas respostas me ocorrem: falha de memória...(quarenta anos é muito tempo e o que está para trás e lhe deu origem é uma longa história) ou...conivência com o sistema, ( o que, confesso, tenho dificuldade em compreender). Ocorrem-me então alguns factos que, desde muito cedo, me arranham a minha consciência social, fundada em princípios, sobretudo de humanismo cristão. Na aldeia, alguns miúdos da minha idade com quem ia à escola, eram filhos dos designados "servos" trabalhadores agrícolas, à jorna. Eram muito mais pobres que os demais. Apenas calçavam sapatos para irem ao médico ou algum evento especial e, esses já tinham sido usados por aqueles que por "caridade" os davam. Sob o ponto de vista semântico ser servo é depender de alguém, (escravo?). No que era dado observar o significado percepcionado tinha o seu quê de ignominioso. Foi há mais de cinquenta anos tinha pouco anos, um estatuto social mais confortável, mas terá sido um despertar de uma consciência porventura mais social que política. Passados quarenta anos lamentamos ainda os níveis de pobreza e, com razão. Ainda assim, se hoje se contabilizam dois milhões de pobres, na altura eram oito milhões e tanta tanta diferença. Abril VALEU a pena. E no que respeita à falta de liberdade....? Inverossímil e iníquo o que se passava. O que falta cumprir de Abril, hoje, tem a ver com todos e cada um. É certo que os desejos e as expectativas excedem sempre as concretizações. Que houve muita coisa que teríamos desejado que tivesse sido diferente. Mas também nunca encontrei nenhuma realização humana que assim não tivesse sido. E ainda bem. Caso contrário tudo seria fácil. Quando descemos a Avenida da Liberdade, dia 25, sentimos que afinal somos livres e somos muitos. Queremos continuar a sê-lo.

Maria da Conceição Serrenho Couvaneiro (Conselho Geral do +D)

Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina. 

segunda-feira, 28 de abril de 2014

[Opinião +D] Pensar a Lusofonia no século XXI

No século XXI, para pensarmos a Lusofonia, temos que superar os paradigmas colonialistas e mesmo pós-colonialistas. Estes estão ainda reféns de um olhar enviesado por uma série de complexos históricos que há que transcender de vez, de modo a podermos realizar essa visão futurante do que pode ser a Lusofonia.
Transcender não significa escamotear. Indo directo ao assunto, é evidente que a Lusofonia se enraíza numa história que foi em parte colonial e, por isso, violenta. Não há colonialismos não violentos, por muito que possamos e devamos salvaguardar que nem todas as histórias coloniais tiveram o mesmo grau de violência. Eis, de resto, o que se pode aferir não apenas pelas análises históricas, mas comparando a relação que há, nos dias de hoje, entre os diversos povos colonizadores e colonizados. Assim haja honestidade para tanto.
Não será, porém, esse o caminho que iremos aqui seguir. Não pretendemos alicerçar a Lusofonia na relação que existe, nos dias de hoje, entre Portugal e os países que se tornaram independentes há cerca de quarenta
anos. Se assim fosse, estaríamos ainda a fazer de Portugal o centro da Lusofonia, estaríamos ainda a pensar à luz dos paradigmas colonialistas e mesmo pós-colonialistas.
O que pretendemos salientar é que, sem excepção, é do interesse de todos os países que se tornaram independentes há cerca de quarenta anos a defesa e a difusão da Lusofonia. Eis, desde logo, o que se prova por nenhum desses países ter renegado a língua portuguesa como língua oficial. Se o fizeram, não foi decerto para agradar a Portugal. Foi, simplesmente, porque esse era o seu legítimo interesse, quer interno – para manter a unidade nacional de cada um dos países –, quer externo – fazendo da língua portuguesa a grande via de inserção na Comunidade Internacional.
Obviamente, cada caso tem as suas especificidades. Pela minha experiência, sou levado a afirmar que o povo que mais facilmente compreende a importância da Lusofonia é o povo timorense; porque ela foi a marca maior de uma autonomia linguística e cultural que potenciou a resistência à ocupação indonésia e a consequente afirmação de uma autonomia política que, como sabemos, só se veio a concretizar mais recentemente, já no século XXI. Mesmo após esse período, tem sido a Lusofonia o grande factor de resistência ao assédio anglo-saxónico, via, sobretudo, Austrália.
Contrapolarmente, o Brasil, pela sua escala, poderia ser o único país a ter a tentação de desprezar a mais-valia estratégica da Lusofonia. Nunca o fez, porém. Pelo contrário – apesar de alguns sinais contraditórios, a aposta na relação privilegiada com os restantes países e regiões de língua portuguesa parece ser cada vez maior. Quanto aos PALOPs: Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa, essa também parece ser, cada vez mais, a aposta. Simplesmente, reiteramo-lo, porque é do interesse de cada um desses países este caminho de convergência. Por isso, é a Lusofonia um caminho de futuro. Por isso, é a Lusofonia um espaço naturalmente plural e polifónico, que abarca e abraça as especificidades linguísticas e culturais de cada um dos povos desta comunidade desde sempre aberta ao mundo. 

Renato Epifânio (membro da Coordenação Nacional do +D)

Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina. 

domingo, 27 de abril de 2014

[Opinião +D] 25 de Abril

Passaram quarenta anos e sendo esta uma data tão redonda, este é sem dúvida um ano especial para as comemorações do 25 de Abril. É tempo de balanço e de análise do que se fez (ou não) ao longo destas quatro décadas. Ouvi muito, li muito e pensei muito e, sem dúvida, que para mim o 25 de Abril será sempre uma data a celebrar.

Eu tenho quarenta e três anos, pouco recordo do 25 de Abril de ’74, a não ser um clima de alegria e otimismo que eram contagiantes. O meu pai tem oitenta e quatro anos. Viveu quarenta anos em ditadura e trinta já em democracia. Hoje queixa-se da perda de direitos, dos cortes na reforma, da crise, dos aumentos brutais de custo de vida, da falta de respeito. Mas quando o confronto e pergunto se gostaria mesmo de viver de novo nos tempos da ditadura a resposta é imediata: - “Não!”

E Porquê? Porque Portugal no tempo de Salazar era um país que envergonhava. Éramos o pior do que havia na Europa. A pobreza era mais que muita. A generalidade da população vivia muito mal. Não havia acesso à informação, nem à educação. A maioria das pessoas era analfabeta. Não havia reformas, nem acesso aos cuidados de saúde mais básicos, nem à segurança social.

Ao sair dos grandes centros urbanos, as diferenças eram ainda mais visíveis. Eu lembro-me de ir, em pequena, à terra dos meus pais e não haver estradas, nem luz, nem saneamento básico e da aldeia não ter estradas, a não ser de terra batida. As infraestruturas do país eram verdadeiramente um atraso, face ao resto da Europa.

As mulheres não existiam senão “à sombra” de um homem. Não podiam votar. Não podiam estudar, trabalhar ou viajar sem autorização do pai ou marido. Os jovens eram enviados para África para morrerem em nome da pátria ou em alternativa tinham de fugir para o estrangeiro.

E depois havia o medo. Sempre presente, o medo. Havia uma desconfiança latente e permanente que fazia com que as pessoas só falassem abertamente junto da família ou de amigos de muita confiança. Havia medo de se falar abertamente e de se dizer o que se pensava. Eu pergunto-me, por isso, se haverá realmente alguém que queira voltar a isto?

Nesta celebração dos 40 anos do 25 de Abril, eu fui ao Carmo, claro. Isto devido ao “inconseguimento” que foram as comemorações na Assembleia da República. Comovi-me com aquele mar de gente que de uma forma tão digna e firme cantou o Grândola e o hino nacional. Gente que ama este país e acredita que as coisas vão mudar mas tal como disse o Coronel Vasco Lourenço: “Não queremos ser um país subeuropeu”.


Pela primeira vez na minha vida participei, também, do desfile na Avª da Liberdade. Porque se acho que se em muitos dos aspetos que acima mencionei houve realmente uma melhoria, sinto que, por exemplo, em relação ao medo este começa de novo a dominar as nossas vidas e ninguém é verdadeiramente livre e feliz se viver num clima de medo. Em democracia não se vive com medo. Por isso, fui lá dizer que: “às vezes é preciso desobedecer” e que “vamos acabar com o estado de coisas a que chegámos”. Fui lá porque já chega de nos calarmos a uma minoria que serve mais os lobbies e os seus próprios interesses do que os interesses de Portugal.

Margarida Ladeira (Membro da Coordenação Nacional +D)

Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.