segunda-feira, 9 de março de 2015

[Opinião +D] Sobre as dobragens*

Do seu ponto de vista, a dobragem audiovisual é uma atividade artística ou é um trabalho técnico?
Não tenho, por princípio, uma posição favorável sobre as dobragens – excepto para filmes infantis.






Todavia, quando são bem feitas, decerto que têm uma dimensão artística. A dobragem protege/promove a língua portuguesa? Não necessariamente. A legendagem, para quem tenha poucos hábitos de leitura, pode ser ainda mais útil para proteger/promover a língua portuguesa. 










Admito, porém, que, para alguns países lusófonos, em que o domínio da língua não é ainda muito generalizado, a dobragem seja um factor objectivamente positivo.





Pensa que a dobragem de um filme estrangeiro para língua portuguesa desqualifica ou desvaloriza esse mesmo filme?











Sem dúvida. Nalguns casos, pode ser mesmo um atentado à obra. Fala a minha costela cinéfila…







Existe hoje um público que cresceu com as dobragens na televisão e no cinema (no caso dos desenhos animados). 

Faz sentido acompanhar este crescimento dobrando os filmes e séries estrangeiras para adultos?









Não vejo porquê. O conhecimento de outras línguas é igualmente fundamental para o processo de crescimento.











Hoje os canais por cabo que passam documentários estão a voltar à legendagem (ex. Canal História, National Geographic Magazine, Discovery, etc). 

Pensa que faria sentido o governo português regulamentar no sentido de tornar obrigatório a dobragem para todos os canais de televisão?










Não. Considero inclusive que essa não generalização das dobragens é uma marca cosmopolita da cultura lusófona, que valorizo positivamente.







Nalguns países, a dobragem é obrigatória na televisão e facultativa nos cinemas. 

Considera isto uma boa solução?








Não. Já vi televisão noutros países e lembro-me de ter ficado muito mal impressionado com algumas dobragens. Sobretudo quando se conhecem os originais…






Algumas opiniões avançam com o argumento de que a dobragem cinematográfica não é viável em Portugal, devido ao seu reduzido mercado. 

Qual a sua opinião?











Como não sou por princípio favorável às dobragens, não vou contra-argumentar. Por princípio, porém, enquanto Presidente do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tendo sempre a pensar numa escala lusófona – nunca estritamente nacional.









Um videojogo em Portugal, atualmente, vem com a possibilidade de ter as vozes em inglês, francês, espanhol, e outras línguas, mas não em português. 

Não pensa que se devia lutar para que estes suportes audiovisuais fossem obrigados a ter versões dobradas em português?






Esta é outra das excepções que aceito. Nestes casos, sim – para que a língua portuguesa não saia, comparativamente, menorizada face a outras.








* Questionário da autoria de Pedro Halpern Veiga Pereira, in “Uma hipótese de democratização cultural: a dobragem audiovisual”, Dissertação de Mestrado em Gestão e Estudos da Cultura, Lisboa, ISCTE, 2014, pp. LXII-LXIV.


Renato Epifânio (membro da Coordenação Nacional do +D)
Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.             

domingo, 8 de março de 2015

[Opinião +D] Dia Internacional da Mulher!

As histórias que remetem à criação do Dia Internacional da Mulher alimentam o imaginário de que a data teria surgido a partir de um incêndio em uma fábrica têxtil de Nova York em 1911, quando cerca de 130 operárias morreram carbonizadas. Sem dúvida, o incidente ocorrido em 25 de março daquele ano marcou a trajetória das lutas feministas ao longo do século 20, mas os eventos que levaram à criação da data são bem anteriores a este acontecimento.

Desde o final do século 19, organizações femininas oriundas de movimentos operários protestavam em vários países da Europa e nos Estados Unidos. As jornadas de trabalho de aproximadamente 15 horas diárias e os salários medíocres introduzidos pela Revolução Industrial levaram as mulheres a greves para reivindicar melhores condições de trabalho e o fim do trabalho infantil, comum nas fábricas durante o período.

O primeiro Dia Nacional da Mulher foi celebrado em maio de 1908 nos Estados Unidos, quando cerca de 1500 mulheres aderiram a uma manifestação em prol da igualdade económica e política no país. No ano seguinte, o Partido Socialista dos EUA oficializou a data como sendo 28 de fevereiro, com um protesto que reuniu mais de 3 mil pessoas no centro de Nova Iorque e culminou, em novembro de 1909, em uma longa greve têxtil que fechou quase 500 fábricas americanas.

Em 1910, durante a II Conferência Internacional de Mulheres Socialistas na Dinamarca, uma resolução para a criação de uma data anual para a celebração dos direitos da mulher foi aprovada por mais de cem representantes de 17 países. O objetivo era honrar as lutas femininas e, assim, obter suporte para instituir o sufrágio universal em diversas nações.

Com a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) eclodiram ainda mais protestos em todo o mundo. Mas foi em 8 de março de 1917 (23 de fevereiro no calendário Juliano, adotado pela Rússia até então), quando aproximadamente 90 mil operárias manifestaram-se contra o Czar Nicolau II, as más condições de trabalho, a fome e a participação russa na guerra - em um protesto conhecido como "Pão e Paz" - que a data consagrou-se, embora tenha sido oficializada como Dia Internacional da Mulher, apenas em 1921.

Somente mais de 20 anos depois, em 1945, a Organização das Nações Unidas (ONU) assinou o primeiro acordo internacional que afirmava princípios de igualdade entre homens e mulheres. Nos anos 1960, o movimento feminista ganhou corpo, em 1975 comemorou-se oficialmente o Ano Internacional da Mulher e em 1977 o "8 de março" foi reconhecido oficialmente pelas Nações Unidas.

Apesar dos progressos, em 2015, continuam a existir injustiças nas condições de trabalho e nas remunerações das mulheres. Por exemplo, o salário das mulheres é bastante inferior ao salário pago aos homens (cerca de menos de 77%) um fosso que tende a alargar-se no caso dos salários mais elevados. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) veio alertar que vão ser necessários mais de 70 anos para que a diferença salarial desapareça totalmente.

Em Portugal, estas diferenças são mais acentuadas, sendo que com a crise a desigualdade salarial entre homens e mulheres ainda se agravou mais. Neste momento, Portugal é mesmo o país da União Europeia onde essa desigualdade é maior.

É lamentável que, em pleno Século XXI, numa sociedade considerada evoluída, continua a existir este tipo de descriminação em termos de salários e condições de trabalho. É urgente fazer alguma coisa, ou o espírito do Dia Internacional da Mulher não faz qualquer sentido! 


Carlos Assunção (membro da Coordenação Nacional do +D)
Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina. 


quinta-feira, 5 de março de 2015

[Opinião +D] É tudo farinha fina.....

Trabalhando em Santarém e tendo a minha viatura avariada, essas  deslocações passaram a fazer-se utilizando os transportes públicos na vinda e na volta a casa até encontrar solução para o problema mecânico que me impede a utilização da dita. São 30 km cada viagem, quase sempre  uma hora de caminho. No fim do dia e porque já é bastante tarde e porque os mais novos há muito regressaram às suas terras, é uma viagem tranquila, silenciosa e sonolenta, mas de manhã já é outro, o figurino. 

Parece que de manhã a esperança vai remoçada e com os mais novos a deslocarem-se para as Escolas, a animação e as conversas, de banco para banco, invadem toda a viagem. É nesta altura que são passadas em revista, com o mesmo empenho e critério, as notícias mais relevantes e  as histórias mais rocambolescas lá da rua e que podem envolver tanto gente como animais de estimação que a bem de ver quase são como aqueles com quem partilham habitação. No rol, são lembradas e misturadas as notícias duns e dos outros, aqueles que nos governam e se governam. A sabedoria com que se misturam e reconhecem ataques e contra ataques informativos e de outras índoles, é de levar às lágrimas porque a simplicidade e a crueza das palavras empregues, revelam a apreensão da essência das coisas, por olhares habituados às disputas de vizinhos,  vizinhas, cães e gatos. «É tudo farinha fina !» ouve-se.



Carlos Seixas  (membro da Coordenação Nacional do +D)



Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.

quarta-feira, 4 de março de 2015

[Opinião +D] Ainda sobre o investimento chinês em Portugal:

Tem-se falado muito - nos últimos dias - sobre os supostos méritos do investimento chinês em Portugal. Sobre se este o pais estaria melhor que à época do ultimo governo PS ou se estaria melhor e, sobretudo, sobre as declarações de António Costa. Mas tem-se falado muito pouco daquilo que, a meu ver, é realmente importante: que investimento chinês é este e até que ponto ele é realmente útil para Portugal. 

Sejamos claros: o investimento de capital de cidadãos e empresas (públicas) chinesas: tem assentado essencialmente em quatro vetores: 
1. Pequeno comércio e restauração 
2. Empresas públicas privatizadas (REN, EDP e Caixa Seguros) 
3. Vistos Gold 

Por partes:
1. O investimento feito por pequenos e médios empresários chineses na área da restauração e do pequeno comércio tem impactos positivos em Portugal? Tenho sérias dúvidas: alegadamente estes empresários recebem ajudas financeiras diretas de Pequim para servirem como eixos de exportação dos seus produtos e o facto de beneficiarem de isenções de pagamento de impostos (IRC) em Portugal (ao abrigo de um acordo bilateral), de não (com raras excepções) empregarem trabalhadores portugueses, de viverem exclusivamente de redes de trabalhadores clandestinos (que rodam cada três meses e que pernoitam frequentemente em caves ou sótãos, em camaratas sem dignidade nem higiene pessoal) torna estas empresas altamente competitivas, conseguindo assim destruir setores comerciais inteiros. 

2. As empresas públicas privatizadas para mãos chinesas representaram uma transferência de soberania e controlo de empresas e setores estratégicos, com implicações em toda a economia e até na Defesa Nacional (algumas das empresas chinesas dependem indiretamente do exercito chinês). Na prática, este "investimento" não se traduziu nem na recepção de boas e novas e boas práticas de gestão, nem de know-how, nem de criação de novas empresas ou valor, mas apenas na transferência de setores monopolistas do controlo público para o controlo por parte de uma potência estrangeira. 

3. Os Vistos Gold também não se traduziram numa verdadeira melhoria para a economia nacional. Salvaram da falência muitas mediadoras imobiliárias, mas inflacionaram (até aos 500 mil euros) muitas propriedades imobiliárias, sustentando assim o crescimento de uma Bolha Imobiliária que, cedo ou tarde, há de estoirar, com reflexos em toda a economia. Como o investimento em si não foi reprodutivo, nem produziu nem valor nem emprego em quantidades significativas, teve escasso retorno no PIB. 

Dito isto, o que há para elogiar no "investimento chinês"? O que há para admirar naqueles que "acreditaram quando mais ninguém queria acreditar" (palavras de António Costa no Ano Novo chinês), se limitaram a comprar empresas publicas monopolistas e a baixo custo, sem produzirem retornos reais na economia, apenas a transferência de lucros para fora do país?... De que servem oito ou nove mil restaurantes e "lojas dos 300" em todo o pais, além do emprego clandestino (e fiscalmente não existente) de imigrantes e da destruição de empresas portuguesas concorrentes? 

Por tudo isto e por muito mais sou contra este tipo de "investimento" chinês (ou de outro país).



Rui Martins (membro da Coordenação Nacional do +D)
Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.

terça-feira, 3 de março de 2015

[Opinião +D] A Passos passou-lhe...

Está bem. Compreendo até que esta questão da dívida já antiga de Pedro Passos Coelho à Segurança Social, tenha vindo parar à opinião pública nesta altura (também) com o propósito de esquecermos um pouquinho mais a gaffe de António Costa quando foi dizer para uma plateia e em evento público que Portugal estava melhor desde que o atual Governo se encontra em funções (são palavras minhas e não dele, mas refletem bem o transmitido pelo líder do PS).
Para os mais desatentos ao que pela comunicação social vai circulando, conto que Passos Coelho devia à Segurança Social, alegadamente sem disso ter consciência, um valor que consoante as versões se situa entre cerca de 3 000 € e cerca de 5 000 €, provenientes de descontos não feitos entre 1999 e 2004, valor que, talvez só parcialmente, pagou agora apressadamente.
Mas não é por aqui que quero ir. Isso já foi dito e redito, comentado e recomentado. Até dou de barato (com alguma dificuldade, é bem certo…) que tenha havido um real desconhecimento de que os descontos eram devidos.
O que não posso (nem eu nem nenhum português) é compreender, e muito menos aceitar, que se qualquer um de nós, simples mortais, deixar de pagar uns eurozitos ao Estado, vemos logo bem rapidinho os nossos bens e salário penhorados e que para “outros” mortais (que talvez o sejam menos…) seja necessária a ajuda da comunicação social para se dar com estas “pequenas” falhas…
E sabem até quando é que tudo continuará a ser assim?! Até nós deixarmos!…  
Francisco Mendes (Membro da Coordenação Nacional +D)

Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.  

segunda-feira, 2 de março de 2015

[Opinião +D] Na ressaca da farsa grega…

Como sportinguista incurável de que me orgulho de ser, estou mais do que habituado a falhar previsões. Mas nem por isso a esmorecer. Muito pelo contrário. Semana após semana, mês após mês, ano após ano, esfrego as mãos e digo para mim mesmo, convicto: “Para a próxima é que será”.




Não foi pois por qualquer dote divinatório que me pareceu desde o início evidente o desenlace do caso grego. Evidentemente, o Syriza teve que recuar em toda a linha, teve que negociar as suas propostas com a Troika. Não, não com a Troika: apenas com a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional, ou seja, com os membros da Troika. Mas não com a Troika. Que não haja aqui qualquer confusão – e ai de quem ouse contestar isso mesmo. E sim: acabou por aceitar a extensão do Programa de Assistência…




O início deste ano de 2015 tem sido, de resto, um grande teste para os cartesianos que (ainda) acreditam que “o bom senso é mesmo aquilo que há de mais equitativamente distribuído pela humanidade”. Começou com os atentados de Paris e a tese absurda de que “a liberdade de expressão deve ser absoluta”. Quando até qualquer criança com meia dúzia de anos sabe que isso assim não é, custa ver tantas pessoas adultas a defenderem-na. Mas talvez não surpreenda: numa cultura que fala cada vez mais de direitos e cada vez menos de deveres…




Com as eleições na Grécia, entrou-se, porém, numa espécie de alucinação colectiva. Vi pessoas que sempre renegaram o valor do patriotismo, a afirmarem-se subitamente patriotas e a darem lições do mesmo a pessoas que, como eu, sempre se afirmaram como tal. E a darem as maiores  cambalhotas geopolíticas – de um dia para o outro, por exemplo, Putin e a sua Rússia passarem a ser aliados estratégicos, quando, até há bem pouco tempo, a Rússia era a câmara de todos os horrores do século XXI: perseguição às minorias sexuais, às oposições políticas, etc. Uma sugestão de borla a todos os políticos mal-amados deste mundo: se querem passar a ter boa imprensa na Europa, façam também um acordo com Aléxis Tsípras.




Decerto, na Grécia e nos restantes países europeus, há agora muita gente desiludida. Nestas últimas semanas, foi manifesto o propósito de alguns partidos, inclusive em Portugal, para cavalgar a onda de aparente radicalismo do Syriza, assim procurando iludir a sua própria vacuidade doutrinária. Agora que essa onda se desfez, é tempo de, sem qualquer ruído mediático ou radicalismo proclamatório, ir preparando uma solução mais estrutural para a zona euro. Temos consciência de que, com este acordo, não se resolveu o problema grego nem o problema de uma moeda que continua a favorecer apenas alguns países.





Renato Epifânio (membro da Coordenação Nacional do +D)
Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.             

domingo, 1 de março de 2015

[Opinião +D] O síndrome da memória seletiva!

Esta semana realizou-se uma audição na comissão parlamentar de inquérito ao colapso do BES, onde Zeinal Bava foi interrogado pelos deputados. Nessa audição destacou-se a deputada Mariana Mortágua do Bloco de Esquerda pelo cerco que moveu ao ex-presidente executivo da PT. À generalidade das perguntas, ele foi respondendo “não tenho memória”, “não sabia, não tinha que saber”, “tenho dificuldade em dar-lhe esses números” e “não tenho responsabilidade” sempre para fugir a qualquer culpa. Perante este comportamento, a dada altura a deputada Mariana Mortágua acusa de amadorismo um CEO que ganhou vários prémios de melhor CEO do ano e CEO da Europa. 


Mariana Mortágua esteve muito bem no seu comentário, apesar de sabermos que de amador ele não tem nada. Zeinal Bava tem características que fizeram com que a sua carreira de gestor atingisse um raro nível de reconhecimento internacional. Não é um medíocre que entrou na PT à boleia de um apelido sonante, por tráfico de influências, troca de favores ou proximidade partidária. Zeinal Bava não precisou desses expedientes para atingir lugares de destaque na PT. 


Perante estes factos, está provado que ele foi mais um que se apresentou perante uma comissão parlamentar a representar um papel de “pateta” e com uma certa memória seletiva. Este papel tem como única finalidade fugir às responsabilidades e tentar que nada fique provado. 
Mais uma vez se verificou que estas comissões parlamentares de inquérito não conseguem fazer falar os (ir)responsáveis por negócios pouco claros e danosos para o país. 


Têm que ser criados mecanismos para se apurar os factos sem estar sujeito a ver essas figuras “patéticas” e “sem memória”. 


Carlos Assunção (membro da Coordenação Nacional do +D)
Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.