O Governo lá conseguiu, “in extremis”, aceder à sua sétima e última vida. Não se sabe quanto durará – pode ser apenas até ao próximo orçamento –, mas esta será mesmo a última.
Por toda a oposição, sentiu-se um grande suspiro de alívio, apesar da ruidosa retórica em contrário. Os nossos partidos de esquerda não conseguiram ainda passar da fase adolescente do “estar contra”. O Partido Socialista não quer, na verdade, ir já para o Governo: espera que estes façam todo o “trabalho sujo” por si e pela posterior retoma económica.
O pequeno-grande problema é que, por este caminho, não haverá retoma alguma. Ou a zona euro muda radicalmente – e não se vê como – ou o único caminho possível passará por negociar uma saída: a sós ou, idealmente, em conjunto com outros países.
Este deveria ter sido o momento em que emergisse da sociedade civil um Governo de Salvação Nacional que promovesse esse debate nacional, eventualmente até com um referendo sobre a nossa adesão à zona euro. E que, no plano interno, promovesse uma profunda reforma das leis eleitorais, de modo a regenerar o nosso Parlamento. Com as leis eleitorais e os partidos que temos, não vale a pena ir já para eleições. O resultado será sempre mais do mesmo.
Face a isso, os diversos movimentos políticos emergentes têm que tomar uma decisão – já que o Parlamento não se abrirá, do modo próprio, às candidaturas independentes, das duas, uma: ou avançam para a constituição de um partido que os represente e tente mude as coisas por dentro ou, caso não o queiram (ou o não consigam), só lhes resta encetar uma campanha pelo voto branco (ou nulo) nas próximas eleições legislativas. É tempo de falar claro.
Renato Epifânio (membro da Coordenação Nacional do +D)
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