Nos 100 anos da Arte de Ser Português, de Teixeira de
Pascoaes, propomos aqui a uma (re)leitura dos seus quatro primeiros capítulos.
Assim, citaremos, em itálico, excertos desses quatro primeiros capítulos, que
nos permitimos actualizar em prol do novo horizonte que, a nosso ver, se abre a
Portugal no Século XXI: o da Convergência Lusófona.
*
Uma Pátria é também um ser vivo superior aos indivíduos que o
constituem, marcando, além e acima deles, uma nova individualidade. Esta nova
Individualidade representa consequentemente uma expressão da Vida superior à
vida animal e humana.
A Pátria Lusófona é um ser espiritual que depende da vida
individual dos lusófonos. Por outra:
as vidas individuais e humanas dos lusófonos, sintetizadas, numa esfera transcendente, originam a Pátria
Lusófona.
Temos de considerar a nossa Pátria como um ser espiritual, a quem devemos
sacrificar a nossa vida animal e transitória.
(…)
Observando agora o processo por que os seres se perpetuam e progridem,
vemos que os imperfeitos representam transições para os mais perfeitos. O
perfeito alimenta-se do imperfeito. O superior vive do inferior.
A lei suprema da vida é, portanto, a lei do sacrifício das formas
superiores às superiores.
Até no mundo físico de revela e tem o nome de gravidade. O corpo menor
é atraído pelo maior. Atrair é viver; ser atraído é morrer. O pequeno corpo
atraído perde-se, morre no grande corpo que atrai…
Os seres não realizam em si o seu destino, mas naqueles a que
sacrificam a sua existência.
O rio é a morte de muitas fontes e o mar é a morte de muitos rios; mas
o rio no mar é mar. A consciência humana é também morte, o sacrifício de muitas
vidas animais e vegetais inferiores a ela.
Assim o indivíduo sacrificado à Pátria fica também a ser Pátria.
Cumpriu a fonte o seu destino, tornando-se rio, e o rio, tornando-se
mar e o indivíduo tornando-se Família, Pátria, Humanidade, subindo da sua
natureza individual e animal à perfeita natureza do Espírito.
Nuno Álvares, por exemplo, morreu como homem para viver como Portugal.
Do mesmo modo, Portugal e as demais nações e regiões lusófonas devem
sacrificar-se em prol da Pátria Lusófona.
Como prefigurou Agostinho da
Silva, ao falar de um “Império, que só poderá surgir quando Portugal,
sacrificando-se como Nação, apenas for um dos elementos de uma comunidade de
língua portuguesa”. Na sua perspectiva, assim se cumpriria essa Comunidade
Lusófona, a futura “Pátria de todos nós”: “Do rectângulo da Europa passámos para algo
totalmente diferente. Agora, Portugal é todo o território de língua portuguesa.
Os brasileiros poderão chamar-lhe Brasil e os moçambicanos poderão chamar-lhe
Moçambique. É uma Pátria estendida a todos os homens, aquilo que Fernando
Pessoa julgou ser a sua Pátria: a língua portuguesa. Agora, é essa a Pátria de
todos nós.”. Conforme afirmou ainda: “Fernando Pessoa dizia ´a
minha Pátria é a língua portuguesa’. Um
dia seremos todos — portugueses, brasileiros, angolanos,
moçambicanos, guineenses e todos os mais — a dizer que a nossa Pátria é a língua portuguesa.”

Renato Epifânio (membro da Coordenação Nacional do +D)
Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.