Tiago Ivo Cruz (T.I.C.), assessor parlamentar do Bloco de Esquerda,
entendeu por bem solidarizar-se publicamente com António Pinto Ribeiro
(A.P.R.), nas páginas do Jornal PÚBLICO (“As pessoas sérias e a Cultura,
au Congo”, 14.05.2015). Este meu texto não pretende ser uma crítica ao
seu gesto, nem sequer uma resposta à insinuação torpe que me faz – ao
contrário de T.I.C., não tenho como objectivo de vida ser assessor de um
partido político e, por prezar muito a minha independência de espírito e
de expressão, tenho pago o respectivo preço, de que não me queixo. Como
diria o outro: “É a vida!”.
Uma dúvida me assaltou, porém, ao ler o seu texto – sobretudo porque
T.I.C. se apresenta como “assessor parlamentar do Bloco de Esquerda”. E
a dúvida é a seguinte: será o Bloco de Esquerda, no seu todo, solidário
com o discurso assumidamente anti-lusófono de A.P.R.? Volto a recordar
que, nas páginas do mesmo jornal, A.P.R. qualificou, de forma reiterada,
a Lusofonia como um “logro”, uma “forma torpe de neo-colonialismo”, a
“última marca de um império que já não existe”.
O facto de eu, enquanto presidente de um movimento cultural e cívico
descomplexadamente pró-lusófono, ter de novo defendido o conceito e, tão
ou ainda mais importante, o bom-nome das muitas pessoas (cada vez mais)
que, à esquerda e à direita, dentro e fora do MIL, o assumem, constitui
para T.I.C. uma “crítica gratuita” (?) – como se os pró-lusófonos não
pudessem defender-se do anátema lançado por A.P.R.. Mas o mais espantoso
não é sequer isso. Na sua apologia de A.P.R., o mundo divide-se, de
forma assaz maniqueísta, entre aqueles que pensam como ele e os europeus
colonialistas da primeira metade do século XX, alegadamente retratados
no livro Tintin no Congo (!).
Ou seja, em suma: ou se é anti-lusófono, como A.P.R., ou se é
pró-colonialista e racista. T.I.C. poderá não acreditar – e eu acredito
que não acredite – mas o mundo é bem mais complexo do que isso. Nem eu
acredito, de resto, que no Bloco de Esquerda toda a gente pense assim.
Nos últimos tempos, por manifesta (boa) inspiração do Syriza, tenho até
visto algumas pessoas do Bloco de Esquerda a usar um outro conceito
“maldito”: o de Pátria... Como sou paciente, ficarei a aguardar que,
contra a opinião de alguns assessores e de A.P.R., o Bloco de Esquerda
assuma no seu Programa Eleitoral para as próximas Eleições Legislativas
a expressa defesa da Lusofonia.
Agenda– 21 de Maio, 18h30, na FNAC Chiado, em Lisboa: apresentação da
Revista Nova Águia (nº 15) | 22 de Maio, 18h30, na Biblioteca Municipal
de Beja: apresentação de “O Estranhíssimo Colosso. Uma Biografia de
Agostinho da Silva”, de António Cândido Franco.
Renato Epifânio (membro da Coordenação Nacional do +D)
Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.
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