terça-feira, 19 de maio de 2015

[Opinião +D] Uma exortação (não gratuita) ao Bloco de Esquerda

Tiago Ivo Cruz (T.I.C.), assessor parlamentar do Bloco de Esquerda, 
entendeu por bem solidarizar-se publicamente com António Pinto Ribeiro 
(A.P.R.), nas páginas do Jornal PÚBLICO (“As pessoas sérias e a Cultura, 
au Congo”, 14.05.2015). Este meu texto não pretende ser uma crítica ao 
seu gesto, nem sequer uma resposta à insinuação torpe que me faz – ao 
contrário de T.I.C., não tenho como objectivo de vida ser assessor de um 
partido político e, por prezar muito a minha independência de espírito e 
de expressão, tenho pago o respectivo preço, de que não me queixo. Como 
diria o outro: “É a vida!”. 


Uma dúvida me assaltou, porém, ao ler o seu texto – sobretudo porque 
T.I.C. se apresenta como “assessor parlamentar do Bloco de Esquerda”. E 
a dúvida é a seguinte: será o Bloco de Esquerda, no seu todo, solidário 
com o discurso assumidamente anti-lusófono de A.P.R.? Volto a recordar 
que, nas páginas do mesmo jornal, A.P.R. qualificou, de forma reiterada, 
a Lusofonia como um “logro”, uma “forma torpe de neo-colonialismo”, a 
“última marca de um império que já não existe”. 

O facto de eu, enquanto presidente de um movimento cultural e cívico 
descomplexadamente pró-lusófono, ter de novo defendido o conceito e, tão 
ou ainda mais importante, o bom-nome das muitas pessoas (cada vez mais) 
que, à esquerda e à direita, dentro e fora do MIL, o assumem, constitui 
para T.I.C. uma “crítica gratuita” (?) – como se os pró-lusófonos não 
pudessem defender-se do anátema lançado por A.P.R.. Mas o mais espantoso 
não é sequer isso. Na sua apologia de A.P.R., o mundo divide-se, de 
forma assaz maniqueísta, entre aqueles que pensam como ele e os europeus 
colonialistas da primeira metade do século XX, alegadamente retratados 
no livro Tintin no Congo (!). 

Ou seja, em suma: ou se é anti-lusófono, como A.P.R., ou se é 
pró-colonialista e racista. T.I.C. poderá não acreditar – e eu acredito 
que não acredite – mas o mundo é bem mais complexo do que isso. Nem eu 
acredito, de resto, que no Bloco de Esquerda toda a gente pense assim. 
Nos últimos tempos, por manifesta (boa) inspiração do Syriza, tenho até 
visto algumas pessoas do Bloco de Esquerda a usar um outro conceito 
“maldito”: o de Pátria... Como sou paciente, ficarei a aguardar que, 
contra a opinião de alguns assessores e de A.P.R., o Bloco de Esquerda 
assuma no seu Programa Eleitoral para as próximas Eleições Legislativas 
a expressa defesa da Lusofonia.

Agenda– 21 de Maio, 18h30, na FNAC Chiado, em Lisboa: apresentação da 
Revista Nova Águia (nº 15) | 22 de Maio, 18h30, na Biblioteca Municipal 
de Beja: apresentação de “O Estranhíssimo Colosso. Uma Biografia de 
Agostinho da Silva”, de António Cândido Franco.

Renato Epifânio (membro da Coordenação Nacional do +D)
Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.        

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