segunda-feira, 5 de outubro de 2015

[Opinião +D] Uma Explicação dos Resultados Eleitorais

O Governo da Coligação PSD-CDS tem sido mau mas, importa reconhecê-lo, a 
Oposição que temos tido tem sido ainda (muito) pior. Isso, por si só, 
explica em grande medida os resultados da Eleições Legislativas de 4 de 
Outubro. 

Houve um outro factor, tão ou mais decisivo: o factor Syriza. Não é por 
acaso que até Junho todas as sondagem antecipavam, em geral, uma clara 
vantagem ao PS e que, depois da capitulação grega, a Coligação PSD-CDS 
tenha invertido essa situação. No essencial, a capitulação grega deu 
razão à tese de que, no essencial, “não há alternativa”. Face a esse 
factor, o tão falado factor Sócrates foi residual, ainda que não 
insignificante. 

A campanha eleitoral, por sua vez, pouco alterou esta correlação de 
forças. A certa altura, a grande questão que foi discutida foi mesmo a 
de “quem chamou a troika?”, questão levantada por António Costa, que, de 
forma inusitada, tentou imputar a Pedro Passos Coelho essa 
responsabilidade. Este, de forma não menos inusitada, tentou depois 
impingir a ideia de que, apesar de não a ter chamado, sempre seguiu os 
seus ditames de forma contrariada. 

Nós, Cidadãos temos, porém, memória, ao contrário do que ingenuamente 
julga a nossa classe política. Lembramo-nos bem de que o principal 
responsável pela vinda da troika foi o Partido Socialista, com o seu 
(des)governo económico-financeiro. Em qualquer outra democracia adulta, 
isso levaria a que o PS ficasse, pelo menos, uma década em “cura de 
oposição”. Nós, Cidadãos lembramo-nos igualmente bem de que, apesar de 
não ter sido o Partido Social-Democrata a chamar a troika, logo abraçou 
o seu programa, proclamando mesmo o desiderato de “ir para além da 
troika”. 

Na Grécia, será o próprio Syriza a fazer esse “trabalho sujo” de 
governar segundo as regras da (Des)União Europeia, para indisfarçada 
indignação da esquerda indígena, que insiste num discurso inconsistente 
e inconsequente anti-austeridade. O povo, que não é estúpido, sabe bem 
que, no curto-médio prazo, não é possível governar sem uma dose razoável 
de austeridade. E por isso acabou por dar uma maioria (relativa) a um 
Governo que, sendo mau, é menos mau do que a Oposição que temos tido.



Renato Epifânio (membro da Coordenação Nacional do +D)
Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina. 

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