quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

[Opinião +D] O fenómeno das praxes académicas é muito mais que o "fenómeno das praxes académicas

O fenómeno das praxes académicas é muito mais que o "fenómeno das praxes académicas". É um epifenómeno que deriva diretamente desta aceitação do Poder, desta passividade atávica que marca o ethos luso e que nos chegou por várias vias cruzadas: a conformação ao Destino do judaísmo; a crença num Deus protetor e atuante do Cristianismo, a aceitação de uma hierarquia omnipoderosa, omnisciente e omnipresente, do Catolicismo (reforçada depois no Absolutismo e, mais recentemente, no Estado Novo).

No fenómeno da "praxe académica" existem quatro arestas fundamentais: o dux praxador (ignorante, arrogante e violento), o praxado-passivo, o Estado tolerante e a Reitoria cúmplice. Embora, destas quatro arestas o maior responsável pelo extremo a que hoje chegamos, seja a aresta-agente, aquela que organiza e age no fenómeno (o "dux", associação de estudantes ou "comissão" de praxe), na verdade, aquele que a aceita, que se submete ao jugo ditatorial de um bando de rufias que obteve o mérito em função da acumulação de chumbos ou do nível de boçalidade ou arrogância interpares é, pelo menos, tão responsável como o agente. Agente ativo de um lado,  agente passivo do outro. Um que aplica, o outro que aceita a aplicação, a sujeição a estado sub-humano, de submissão, de menorização perante o Poder. É este agente-passivo que depois, aceita bovinamente todas as outras formas de opressão que a vida vai derramar sobre si, passivamente, sempre, sem um só pio de revolta ou insubmissão e temperando sempre todas as atitudes pelo Medo.




Rui Martins (membro da Coordenação Nacional do +D)

Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

[Opinião +D] Que o dia 25 de Janeiro seja pois o início de algo realmente novo, em prol de Portugal

No dia 25 de Janeiro foi lançado um novo partido (+ Democracia Participativa), que, fazendo jus ao nome, defende, no essencial, mais e melhor participação de todos nós – desde logo, através de referendos.

Não sei se terá sucesso, não sei mesmo se conseguirá as assinaturas necessárias para se formalizar enquanto partido. Tenho perfeita consciência de que as probabilidades de sucesso não são muitas. A nossa partidocracia parece bem blindada e não ignora donde vem o perigo – desde logo, das candidaturas independentes à Assembleia da República, outra das nossas bandeiras.

Ainda assim, decidi entrar neste barco. Se todos dizemos que a crise que atravessamos é das mais graves da nossa história, senão mesmo a mais grave, então importa tentar algo de novo. Não podemos continuar na lamúria do costume sem, ao mesmo tempo, pugnar pela mudança necessária.

Uma parte de mim é irremediavelmente pessimista, mas a outra parte é, em não menor medida, voluntarista. O próprio conceito de Democracia Participativa provoca-me também essa ambivalência. Não sou daqueles que consideram que os humanos são instintivamente bons (muito longe disso), mas acredito que podem ser persuadidos no bom sentido. Talvez por (de)formação filosófica, acredito mesmo na força dos argumentos. Por isso, continuo a acreditar na Democracia.

Em Portugal, porém, não considero que vivamos num regime realmente democrático. Por este, entendo o regime que seja verdadeiramente a expressão da vontade popular (no respeito pelas minorias, claro está). A meu ver, a classe político-mediática que nos tem (des)governado tem estado cada vez menos sintonizada com essa vontade. Daí, não admira, a repulsa da nossa classe político-mediática pelos referendos. Se estes acontecessem de forma mais regular, essa dessintonia seria ainda mais gritante.
Que o dia 25 de Janeiro seja pois o início de algo realmente novo, em prol de Portugal.






Renato Epifânio (membro da Coordenação Nacional do +D)
Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.


terça-feira, 21 de janeiro de 2014

[Opinião +D] Foi você que pediu um referendo?

A convocação de referendos em Portugal parece estar amaldiçoada, o que é decerto estranho num regime que se diz “democrático”. Dentre todos os instrumentos democráticos de consulta popular, o referendo deveria ser o mais estimado, porque é aquele onde a vontade popular mais claramente se pode exprimir, sem mediações.

Volta e meia, a nossa classe política acena-nos com o mil vezes prometido referendo “sobre a Europa”, mas logo se arrepende depois. Deve pensar, para si própria: “e se o povo, que é estúpido, votar contra?”. Nunca fiando…

Já que de vez em quando é preciso convocar um referendo – até para confirmar que somos mesmo um regime “democrático” –, em vez de questões menores, como a nossa integração europeia, surgem questões tão decisivas para o nosso futuro colectivo como a questão da “co-adopção por casais homossexuais”. De facto, não haveria questão mais relevante a colocar este ano num referendo.


Voluntária ou involuntariamente, o resultado desse eventual referendo está à vista: uma massiva abstenção, ainda maior do que em referendos anteriores. Depois, decerto, terão ainda o descaramento de nos dizer: “Não vamos, uma vez mais, convocar nenhum referendo sobre a nossa integração europeia porque, provavelmente, a abstenção será muito grande e isso fragilizará a nossa posição na Europa”. Descaramento, de facto, não lhes falta.






Renato Epifânio (membro da Coordenação Nacional do +D)
Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

[Opinião +D] Porque têm os portugueses baixos níveis de Participação Política?

Não escapa à observação de quem que deite um olhar minimamente atento à realidade portuguesa que os portugueses têm baixos níveis de participação cívica, política e associativa. As razões para este défice participativo são múltiplas e a sua gravidade  resulta de um cruzamento de fatores:

1. A matriz cultural nacional (católica, apostólica e romana, reforçada pelo judaísmo latente) que propicia à passividade comunitária e a uma aceitação quase cega dos ditames do Poder (seja ele qual for).

2. A inexistência de elites ligadas à comunidade que a representem e que dela sejam uma verdadeira emanação. Frequentemente, estas elites inteletuais vivem em regime académico-circular ou autofágico, parasitando o poder político e económico e fazendo garbo de viverem num plano paralelo, mas não comunicante, com o "povo" que desprezam e consideram inferior.

3. A existência de uma partidocracia que depende, alimenta e é alimentada pelo poder económico e financeiro. Esta partidocracia funciona em regime rotativo e ergueu mecanismos de auto-defesa que dificultam a renovação do quadro político parlamentar, assim como a aparição de novas entidades políticas que possam perturbar o seu império semi-absoluto sobre a sociedade portuguesa.

4. Uma sociedade civil dormente ou sequestrada aos grandes interesses políticos e económicos: associações diretamente ligadas ao Poder ou subjugadas financeiramente aos dinheiros que este derrama sobre estas em troca do seu silêncio ou passividade cúmplice.

5. Partidos políticos fechados aos cidadãos e aos militantes: que não incorporam mecanismos internos de democracia participativa e que são dominados por aparelhos profissionais ou por "juventudes" partidárias carreiristas e semiprofissionais, sem ética, transparência ou currículo profissional.

6. Baixos níveis níveis de produção e consumo cultural: uma sociedade incapaz de ir para além da superfície apresentada e cozinhada pelos Media na análise dos temas da atualidade. Uma sociedade bovinizada pela infusão massiva de doses de telelixo, futebol e técnicas de controlo de massas, incapaz de pensar e decidir por si e de ter consciência do real poder que detém.
 



Rui Martins (membro da Coordenação Nacional do +D)

Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

[Opinião +D] Sabe-se lá porquê...

Tantos acontecimentos e emoções à solta, nestes últimos tempos! A época é propícia e, os acontecimentos favorecem-no. Hoje foi um dia muito marcante. Tempo que desaba em água, rostos encharcados de lágrimas, uma multidão que, sem arredar os pés enterrados na lama, não cessa de aclamar. Um povo rende-se, muito consensualmente, na homenagem a um dos seus heróis, Eusébio da Silva Ferreira. Seja qual for posicionamento de cada um, sobre esta matéria, a realidade impôs-se. E, tal como diz a canção ” o povo é quem mais ordena”. A genuinidade das manifestações e a força da comoção falaram mais alto. Contagiaram. Os ecos fizeram-se, de dentro e de fora. O Universalismo a revelar-se. Multidões curvadas, ruidosas, ou, em silêncio, de rostos doridos. Tudo, porque sim, mas também porque, num tempo de vazios, de imaginário e de mitos, os heróis fazem falta. Felizmente é ressaltado o que neles há de melhor. A qualidade da natureza humana. A unanimidade que se manifesta ao seu redor não só pelo talento e profissionalismo, mas pelos seus valores, éticos e morais: o universalismo que derruba bandeiras políticas, religiosas, culturais e outras: a humildade que apenas pode ser sustentada por gente que, de facto, é grande; a cortesia e a simplicidade que derruba vedetismos e que torna prazerosas as relações; a capacidade da coesão que faz render a seus pés, políticos, artistas, jovens e menos jovens pobres e ricos. As cores clubísticas a misturarem-se, a uniformizarem-se, por instantes e, até as claques, entoaram cânticos conjuntos. Ouvi alguém referir, em desabono, um certo situacionismo relativamente à política. Mas será de estranhar que um desportista seja “coxo” para a política se há tantos políticos que são “coxos” não só para o desporto mas, o que é mais grave, o são também para a política. Quase garanto que nenhum desses terá um dia, esta multidão atrás de si. Sabe-se lá porquê...Talvez eles imaginem e, nós também

 
Conceição Couvaneiro (Conselho Geral do +D)

Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

[Opinião +D] Ainda sobre Eusébio

Não há nenhum outro país europeu que tenha como herói nacional, em breve até com Honra de Panteão Nacional, alguém cujo tom de pele era menos claro. Bem sei que a “civilizada” Europa gosta muito de proclamar o seu anti-racismo. Mas só um país “bárbaro” como Portugal, que não sente a necessidade de se proclamar anti-racista, poderia tê-lo feito. E isso diz muito sobre Portugal. Muito e bem.
Desde logo por isso, saúdo, pois, a eleição popular do “lusófono” (porque não apenas português e/ou moçambicano) Eusébio para o Panteão Nacional. Por uma vez, a nossa classe político-mediática ouviu a voz do povo e fez-lhe a vontade, ainda que atropelando todas as regras. O que também diz muito sobre Portugal. Mas neste caso mal.





Renato Epifânio (membro da Coordenação Nacional do +D)
Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.

sábado, 11 de janeiro de 2014

[Opinião +D] Ser cidadão

O nosso país está mal. As condições de vida da maioria das famílias têm-se deteriorado e está cada vez mais difícil permanecer em Portugal e trabalhar recebendo um salário justo e condigno. Sim, porque quem trabalha merecer receber um salário justo e condigno! O desemprego é cada vez maior e só tem vindo a descer porque é disfarçado com as taxas de emigração. As “regalias” sociais (que, para mim, são direitos pois tudo nos foi cobrado em impostos) são cada vez menos e de menor qualidade.
Na área da saúde ainda esta semana foram vários os casos relatados em diferentes canais de televisão: pessoas que ficam horas em corredores de hospitais, pessoas que esperam anos por exames médicos essenciais, etc, etc… Por oposição, a SIC apresentou uma reportagem sobre o grupo Santafil que aconselho a visualização, um caso sintomático de como se constrói uma fortuna através de negócios pouco claros e houve, ainda, o caso dos médicos presos por faturação fraudulenta.
Na educação as coisas não estão melhores. Os professores são cada vez menos e tem cada vez mais tarefas. As turmas são cada vez mais gigantescas e projectos educativos e inovadores tem de ser abandonados. Já não falando nos terapeutas de educação especial que a meio do ano lectivo continuam por colocar. Com tudo isto, apenas fica prejudicada a qualidade do ensino ministrado.
As obras públicas estão paradas e até obras que seriam feitas com dinheiros comunitários, não avançam. Veja-se o caso das obras no Mondego. O exército está cada vez mais enfraquecido. Os reformados foram novamente prejudicados e escandalosamente roubados. Aumentou-se os descontos para a ADSE e a função pública além dos já anteriores cortes salariais, dos cortes das horas extraordinárias (que em muitos casos continuam a ser feitas sem remuneração), e da extinção de muitas carreiras, levaram com mais um brutal corte salarial… O rol não tem fim.
No outro extremo estão as “vacas sagradas”!!! Eu pergunto-me porque não se estabelece um limite, à semelhança do que acontece noutros países europeus, para as escandalosas reformas de luxo (veja o caso de Relvas já reformado com 14 mil euros). E as PPP’s porque continuam intocáveis? E as Fundações Particulares que em alguns casos, muitos de nós questionamos qual o trabalho que realmente desenvolvem, continuam a receber comparticipações do estado? E casos como o BPN e outros são abafados porquê? E a serviço de quem?
Perante tudo isto e muito mais, eu pergunto: Cidadão, estás à espera de quê? É hora de sair do sofá. É hora de tomares as rédeas do teu país, nas tuas mãos. É hora de seres tu o actor político da tua freguesia, da tua cidade, do teu país. É hora de agires. É hora de não ficares calado, sem nada fazer, à espera que políticos corruptos usem a política para fazer carreira e afundem o teu país. O futuro depende de ti e não deles.

E não me digam que não há alternativa. Há sempre alternativa. Basta querer. Olhemos a história. Há sempre alternativa. Hoje o que é preciso é mudança!!!

Margarida Ladeira (Membro da Coordenação Nacional +D)
Este comentário é da exclusiva responsabilidade da sua autora

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

[Opinião +D] Obrigado mãe!

A minha mãe, a Francelina, fazia hoje 85 anos. Digo fazia, porque morreu há 3 anos e tal, em setembro, em plena campanha eleitoral para a Presidência da República, eleições em que apoiei Fernando Nobre.

Malgrado os acontecimentos que se seguiram, fi-lo convictamente e com entrega total que é a única forma que sei entrar nos projetos. E ela, a minha mãe, esteve lá sempre de alma e coração até cerca de 20 dias antes de morrer. Com dificuldades físicas evidentes, mas com uma força mental que inibia muitas vezes gente bem mais nova que se envergonhava de não a acompanhar. E, muitas vezes pelo seu exemplo, não desistiam. Muitos dos que estão a ler agora este texto, lembrar-se-ão certamente dela. Recolheu assinaturas das necessárias para a candidatura como poucos, participou em bancas, trabalhou até já não poder para lutar pelo que lhe parecia justo, também para ajudar o filho nessa tarefa, sem dúvida; mas, sobretudo porque se revia nos mesmos princípios, ideias e ideais que tenho tentado defender ao longo dos últimos anos.

Já mais refeito do desgosto que é perder uma mãe, penso muitas vezes no apoio que ela daria se ainda estivesse por cá, moral e na ação concreta e no terreno, a mim e aos que a rodeassem, nos projetos que ao lado de gente muito capaz continuei, continuo e continuarei.

E penso que bom que era se muitos de nós, se maioria de nós portugueses, continuasse toda a por vezes longa vida sem nos acomodarmos, sem nos acordeirarmos, resistindo às pressões diárias que nos tentam fazer desistir!

Obrigado mãe por teres sido assim, obrigado mãe por teres vivido...







Francisco Mendes (Membro da Coordenação Nacional +D)

Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

[Opinião +D] Democracia Directa e Participativa: Uma Perspectiva

O MaisDemocracia é, provavelmente, o mais ativo e persistente defensor dos ideais da Democracia Directa e Participativa (DDP) em Portugal. Neste sentido, organizámos e levámos às urnas dois movimentos autárquicos, em Lisboa e Santarém onde essa "ideologia sem ideologia" era a força motriz essencial, conseguindo resultados que - comparando com a escassez de meios disponíveis - foram muito interessantes.

Contudo, esta defesa da DDP não nos cega. A DDP não é um Dogma sagrado nem inquestionável. A sua aplicação tem virtudes e defeitos, vantagens e defeitos.

Passando de forma rápida, sobre as suas vantagens, comparando com a tradicional Democracia Representativa, a Democracia Participativa ou Direta permite que:
1. Os representantes dos eleitores tenham mais responsabilidade nas consequências das suas decisões políticas;
2. Exista uma maior igualdade democrática ao trazer um maior número de cidadãos para o processo democrático;
3. Se crie uma maior autonomia política permitindo que os cidadãos participem nas discussões e  decisões que dizem diretamente respeito à sua comunidade e
4. uma perda sensível de influência política dos grupos económicos e financeiros que frequentemente manobram as decisões políticas.

Por outro lado, não podemos escamotear os riscos da aplicação da Democracia Participativa ou Direta:
1. Risco de “participação consensual”, com uma procura quase obsessiva por falsos consensos que acabam por bloquear ou atrasar o processo decisório, desvirtuando todas as propostas alternativas em decisão.
2. Derivas populistas, com incapacidade para tomar decisões necessárias mas pouco populares.
3. O modelo participativo pode ser usado pelo sistema representativo como forma de mascarar lideranças fracas. Isso mesmo pode ter-se passado em França, quando a candidata Segolene Royale pareceu querer esconder a falta de inovação das suas ideias organizando “assembleias de cidadãos” e usando o seu site de campanha para que as os visitantes participassem na redação do seu programa e das políticas.

Conhecendo uns e outros podemos desenhar e aplicar "remédios" que obstem ou dimunuam os riscos destes defeitos e promovam e estimulem o desenvolvimento das vantagens da DDP...




Rui Martins (membro da Coordenação Nacional do +D)

Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

[Opinião +D] Sabe-se lá porquê...

Tantos acontecimentos e emoções à solta, nestes últimos tempos! A época é propícia e, os acontecimentos favorecem-no. Hoje foi um dia muito marcante. Tempo que desaba em água, rostos encharcados de lágrimas, uma multidão que, sem arredar os pés enterrados na lama, não cessa de aclamar. Um povo rende-se, muito consensualmente, na homenagem a um dos seus heróis, Eusébio da Silva Ferreira. Seja qual for posicionamento de cada um, sobre esta matéria, a realidade impôs-se. E, tal como diz a canção ” o povo é quem mais ordena”. A genuinidade das manifestações e a força da comoção falaram mais alto. Contagiaram. Os ecos fizeram-se, de dentro e de fora. O Universalismo a revelar-se. Multidões curvadas, ruidosas, ou, em silêncio, de rostos doridos. Tudo, porque sim, mas também porque, num tempo de vazios, de imaginário e de mitos, os heróis fazem falta. Felizmente é ressaltado o que neles há de melhor. A qualidade da natureza humana. A unanimidade que se manifesta ao seu redor não só pelo talento e profissionalismo, mas pelos seus valores, éticos e morais: o universalismo que derruba bandeiras políticas, religiosas, culturais e outras: a humildade que apenas pode ser sustentada por gente que, de facto, é grande; a cortesia e a simplicidade que derruba vedetismos e que torna prazerosas as relações; a capacidade da coesão que faz render a seus pés, políticos, artistas, jovens e menos jovens pobres e ricos. As cores clubísticas a misturarem-se, a uniformizarem-se, por instantes e, até as claques, entoaram cânticos conjuntos. Ouvi alguém referir, em desabono, um certo situacionismo relativamente à política. Mas será de estranhar que um desportista seja “coxo” para a política se há tantos políticos que são “coxos” não só para o desporto mas, o que é mais grave, o são também para a política. Quase garanto que nenhum desses terá um dia, esta multidão atrás de si. Sabe-se lá porquê...Talvez eles imaginem e, nós também.


Conceição Couvaneiro (Conselho Geral do +D)

Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina. 

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

[Opinião +D] Para além da espuma


É apenas um sinal, um pequeno sinal, nem sequer muito significativo, mas, ainda assim, um sinal positivo. Numa daquelas votações que no final de todos os anos se fazem, a palavra “bombeiro” foi eleita a “palavra do ano”. À frente de uma série de outras palavras da moda: “irrevogável”, “inconstitucional”, “pós-troika”, etc.

No nosso circo político-diplomático, sabe-se que as palavras já perderam quase todo o seu valor intrínseco. Só se discute a espuma. A palavra “bombeiro” é, por aquilo que denota, o contrário de tudo isso. Lembra-nos que há gente que não navega apenas na espuma dos dias, que há gente que não fala muito, mas faz. E isso faz toda a diferença.






Renato Epifânio (membro da Coordenação Nacional do +D)
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quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

[Opinião +D] Aguenta? Ai, aguenta, aguenta...

Estas famosas palavras de um banqueiro do BPI (que, entretanto, já encaixou o filho no governo), dão conta de uma muito conhecida capacidade lusa para suportar os sacrifícios e o pesado jugo da opressão interna ou estrangeira. São mais atuais que nunca, dado o novo tapete fiscal que se prepara para abater sobre nós (somando-se a todos os outros). Não há sinais no horizonte de contestação generalizada, pelo que, de novo,  o Povo vai "aguentar". Aguentar sem horizonte, já que os pontos cruciais que nos levaram a esta Austeridade sem fim nem destino persistem por resolver: o desajustamento do Euro à nossa economia, as "rendas excessivas" dos grande oligopólios (agora em mãos estrangeiras), as PPPs e, sobretudo, os juros especulativos.

Imaginemos por um minuto que um Governo (que teria que ser bem diferente dos rotativos governos PS-PSD) decretava que, sim, haveria austeridade, mas que, em contrapartida, se recusava pagar a Dívida Imoral (corrupta ou especulativa), que as PPPs eram desfeitas (nacionalizadas) e que, dos juros, se pagava apenas aqueles que eram justos ou em níveis compatíveis com os da inflação?


Aqui sim, valeria a pena sofrer com a austeridade, porque algo iria mudar em consequência desta. Todos seríamos capazes de viver com menos, esperar menos, consumir menos, se soubéssemos que, com estes sacrifícios, algo se alterava na equação. Assim não sendo, vale a pena passar por estas quebras radicais de rendimentos, por este empobrecimento sistemático, por esta depressão coletiva?




Rui Martins (membro da Coordenação Nacional do +D)

Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.