O Governo da Coligação PSD-CDS tem sido mau mas, importa reconhecê-lo, a Oposição que temos tido tem sido ainda (muito) pior. Isso, por si só, explica em grande medida os resultados da Eleições Legislativas de 4 de Outubro.
Houve um outro factor, tão ou mais decisivo: o factor Syriza. Não é por acaso que até Junho todas as sondagem antecipavam, em geral, uma clara vantagem ao PS e que, depois da capitulação grega, a Coligação PSD-CDS tenha invertido essa situação. No essencial, a capitulação grega deu razão à tese de que, no essencial, “não há alternativa”. Face a esse factor, o tão falado factor Sócrates foi residual, ainda que não insignificante.
A campanha eleitoral, por sua vez, pouco alterou esta correlação de forças. A certa altura, a grande questão que foi discutida foi mesmo a de “quem chamou a troika?”, questão levantada por António Costa, que, de forma inusitada, tentou imputar a Pedro Passos Coelho essa responsabilidade. Este, de forma não menos inusitada, tentou depois impingir a ideia de que, apesar de não a ter chamado, sempre seguiu os seus ditames de forma contrariada.
Nós, Cidadãos temos, porém, memória, ao contrário do que ingenuamente julga a nossa classe política. Lembramo-nos bem de que o principal responsável pela vinda da troika foi o Partido Socialista, com o seu (des)governo económico-financeiro. Em qualquer outra democracia adulta, isso levaria a que o PS ficasse, pelo menos, uma década em “cura de oposição”. Nós, Cidadãos lembramo-nos igualmente bem de que, apesar de não ter sido o Partido Social-Democrata a chamar a troika, logo abraçou o seu programa, proclamando mesmo o desiderato de “ir para além da troika”.
Na Grécia, será o próprio Syriza a fazer esse “trabalho sujo” de governar segundo as regras da (Des)União Europeia, para indisfarçada indignação da esquerda indígena, que insiste num discurso inconsistente e inconsequente anti-austeridade. O povo, que não é estúpido, sabe bem que, no curto-médio prazo, não é possível governar sem uma dose razoável de austeridade. E por isso acabou por dar uma maioria (relativa) a um Governo que, sendo mau, é menos mau do que a Oposição que temos tido.
Renato Epifânio (membro da Coordenação Nacional do +D)Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.
